Obrigado, Mãe Dolores
…por ter nos oferecido um filho que um dia mais tarde será considerado uma das grandes figuras da História de Portugal
A história é uma das minhas paixões. Ao fim de quatro décadas a devorar livros e tratados de autores, línguas e origens muito diversas, a experiência do que li diz-me que não há muitos Portugueses considerados universais, quer dizer, Portugueses com lugar na Grande História, aquela que retém os eventos e as pessoas (não interessa o motivo) que ninguém esquece ao fim de anos, décadas, séculos, milénios. Haverá no nosso país pouco mais de uma dezena de figuras de relevância mundial. Figuras de menção obrigatória por qualquer especialista nos campos onde se distinguiram. Se tivesse tido oportunidade de perguntar a Eric Hobsbawm, um dos meus historiadores favoritos, quem foram para ele os Portugueses com lugar na História universal, creio que ele teria indicado os seguintes nomes: Henrique o Navegador, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Luiz de Camões, Fernando Pessoa, Alves dos Reis (o genial burlão-falsificador das notas de 500 escudos que esteve quase a controlar o Banco de Portugal…), Amália, Eusébio, José Saramago, Siza Vieira, José Mourinho e, claro, Cristiano Ronaldo, o nosso Português mais famoso e global por força da área onde se distinguiu (futebol, o desporto mais popular e mediatizado do Mundo) e, claro, por causa do patamar de absoluta excelência que atingiu, o patamar de Pelé, Maradona, Cruyff, Messi, Jordan, Tiger Woods, Federer, Merckx, Ali, Bolt, Lewis, Phelps, Biles, Schumacher e mais uns quantos imortais do Desporto.
No domingo passado vi, como outros milhões de portugueses, a reação emocional de Dolores Aveiro, mãe de Cristiano, aos golos do filho no Estádio de Alvalade. Chorou certamente de felicidade e parecia como que aliviada pela devoção do público àquele que é a figura maior da Seleção e do desporto português. As lágrimas de mãe Dolores correram mundo e foram vistas por centenas de milhões de pessoas. Faz-me alguma impressão pensar nos motivos que levaram a mãe de Ronaldo a chorar com os golos 814 e 815 do filho. Seria pelo facto de Ronaldo não marcar há cinco jogos pela Seleção? Ter-se-á sentido amargurada pelas críticas que foram dirigidas ao filho no rescaldo do empate com a Espanha?
Mãe Dolores: já devia saber que os portugueses são ótima gente, mas têm lá aquela coisita de não perdoarem a quem tem sucesso. A excelência, então, faz-lhes muita confusão. Muita urticária.
Tenho o maior respeito por tudo o que Dolores Aveiro fez em prol dos filhos e do clã familiar. É uma mãe-coragem e quem a conhece diz que teve e continua a ter um papel fundamental na carreira de Ronaldo. Gosto particularmente do jeito brincalhão e desassombrado com que se refere às proezas (e ao futuro) do filho e só tenho uma coisa a dizer-lhe: obrigado, mãe Dolores, por nos ter oferecido um filho que será um dia mais tarde considerado uma das grandes figuras da História de Portugal. Espero que continue a chorar de felicidade com os golos do seu rapaz-que-também-é-nosso e não preste muita atenção ao que se diz por aí. Ele é um fenómeno, responde onde interessa e nunca nos deixa ficar mal.
ALVALADE ‘DÁ’ SORTE
A Seleção joga amanhã o seu 11.º jogo oficial no Alvalade XXI. Para trás ficam sete vitórias, dois empates e apenas uma derrota, e uma percentagem de êxito de 70%, a segunda melhor dos estádios pós-Euro a seguir aos imaculados cem por cento (seis vitórias em seis jogos!) do Estádio do Algarve (já agora, Dragão: 66,66% de triunfos; nova Luz: 63,15%). Pode dizer-se que o estádio do Sporting, desde 2004, tem sido palco de algumas vitórias e exibições históricas da equipa nacional. Ali aconteceu o nosso único triunfo sobre a Espanha em jogos oficiais (1-0 no Euro-2004, cortesia de Nuno Gomes), a grande meia-final ganha à Holanda (2-1) com um golo fabuloso de Maniche e as goleadas à Russia (7-1), Bélgica (4-0, com um golão de Cristiano e uma trivela fantástica de Quaresma) e Suíça (4-0) com exibições de encher o olho. A única derrota aconteceu com a Dinamarca em 2008 (2-3), num jogo em que a Seleção até encantou. A vitória parecia assegurada - Portugal ganhava por 2-1 aos 90 minutos - até que Christian Poulsen (90+1’) e Daniel Jensen (90+3’) operaram dramática reviravolta num par de minutos.
Alvalade XXI é o segundo palco favorito de Ronaldo (marcou ali 8 golos em jogos oficiais) depois do Estádio do Algarve (11), mas o jogo de amanhã pode aumentar o pecúlio do capitão, que ganhou o passaporte para a eternidade precisamente no dia da inauguração do novo estádio leonino (6 de agosto de 2003) com uma exibição impressionante perante o Manchester United de Sir Alex. Foi o início de uma história única.
A IDADE É UM GOSTO
F OI mais um fim de semana em que três lendas vivas do desporto mundial mostraram que a idade, para eles, não é realmente limite. Rafael Nadal, 36 anos, ganhou o torneio de Roland Garros pela 14.ª vez a despeito de ter jogado com o pé esquerdo injetado; Cristiano, 37 anos, bisou na baliza suíça e chegou aos 32 golos na época e aos 815 (!) na carreira; Messi, a duas semanas de completar 35 anos, marcou cinco golos (!) num particular com a Estónia (!). Cristiano tem envelhecido de uma forma soberba (continuou a ser um goleador letal depois dos trinta anos, que é quando a produtividade dos bombers começa a definhar…), a ponto de se poder dizer que não haverá nenhum avançado na história do futebol com números semelhante aos dele a partir dos 30 anos. Nem Messi, como se constata no quadro em anexo, que nos mostra como o argentino, até aos 28 anos, por comparação, foi sempre mais efetivo que o rival português.
A partir daí, Cristiano disparou como um foguete. Aparentemente, está a envelhecer melhor que o rival. Para se perceber melhor: na época dos 35 anos (esta), Messi fez um total de 21 golos (11 com o PSG, mais 10 com a Argentina). Com a mesma idade, Ronaldo fez 48 golos. Ou seja, para o igualar, Messi precisava de ter marcado mais 27 golos à Estónia, último jogo da campanha. Na época que vem, a dos 36 anos, Messi tem de marcar 46 golos para igualar o registo de Cristiano. Muito difícil.