O Sporting precisa de ter coragem
Hugo Viana prometeu que o Sporting dará já uma resposta em Portimão. Toda a resposta pressupõe uma pergunta e aquela que se me afigura mais natural rima com a profunda desilusão que resultou da penosa derrota com os austríacos e a precoce eliminação das provas europeias.
A desilusão é maior porque até agora o Sporting não tinha mostrado ser uma equipa fulgurante, mas disciplinada e organizada e, portanto, não se esperava o estado de calamidade competitiva a que chegou na última quinta feira.
Claro que não podemos, nem devemos deixar de considerar as circunstâncias, em especial o lance fatídico de que resultou o terceiro golo do LASK e a expulsão de Coates, mas torna-se importante para o Sporting que se faça uma análise séria do que se passou e se evite a consagração das desculpas mais ou menos piedosas que muitos comentadores preferem em nome do conforto das suas posições. Penso, mesmo, que o Sporting e o seu jovem treinador terão muito a ganhar com uma visão aberta e honesta que lhes abra uma janela sobre a realidade.
Em primeiro lugar, há a questão do valor global da equipa. Arrumadinha, poderá chegar para cumprir a promessa de Viana e dar uma boa resposta em Portimão. Porque esse é o problema do futebol português. O nível médio é competitivamente baixo e permite o disfarce. O Sporting tem, de facto, uma equipa que, de um modo geral, pode ganhar à grande maioria dos adversários no nosso campeonato, mas o mérito não estará tanto na qualidade global da equipa do Sporting, mas na fraca qualidade global do campeonato, viciado em refúgios de sistemas táticos que têm como primeira função o disfarce. Seria muito injusto não admitir que, nesta fase inicial da época, para mais depois de todas as vicissitudes por que passaram muitos dos seus jogadores e treinador, que o Sporting não tivesse, ainda, uma significativa margem de crescimento. Terá, e vai, certamente, chegar a um patamar muito superior ao que demonstrou, mas não se esperem milagres. FC Porto e Benfica, para apenas falar nos principais rivais, têm outras condições de qualidade individual e global para chegar ao sucesso e, por isso, volta a colocar-se, a nosso ver, o problema mais angustiante que tem vindo a afetar os fiéis adeptos sportinguistas: o Sporting aproxima-se menos de FC Porto e Benfica do que o Sporting de Braga se aproxima do Sporting Clube de Portugal.
Pode parecer cruel dizê-lo com toda esta crueza e sem procurar cenários mais fantasiosos, mas penso que o Sporting ganhará mais com uma verdade nua e crua do que com uma mentira simpática.
Sejamos justos na análise das causas. O Sporting não tem, neste momento, as mesmas condições de sucesso que os seus principais rivais, pura e simplesmente porque não tem os mesmos meios. Não se pode, assim, a nosso ver, considerar uma culpa de gestão, mas uma evidência própria de uma realidade que não se altera, apenas, pela vontade de um punhado de sócios. O Sporting precisa de soluções estruturais que o ajudem a ter outros sonhos e ambições. Às vezes, até pelo seu currículo histórico, pode pensar-se que o nome, o prestígio, as camisolas ajudam. Nunca o suficiente. O Sporting precisa de se reestruturar do ponto de vista orgânico para se poder comprometer com outro tipo de futuro. Terá, aliás, a nossa ver, mais condições do que qualquer outro para ser pioneiro, em Portugal, de uma nova perspetiva de grande clube, mas precisa, e muito, de ter coragem.