O renascer da esperança

OPINIÃO02.01.202103:00

Diz o povo: «Novo ano, vida nova.» É, apenas, uma maneira de dizer que a vida deste povo é uma vida sacrificada, difícil, angustiada. Eis a razão pela qual, em cada passagem de ano, se renova a esperança de que alguma coisa de essencial mude.
Desta vez, na entrada de 2021, a esperança que renasce é uma esperança universal. O ano de 2020 trouxera-nos o brutal impacto de uma pandemia assassina e, com ela, o sofrimento, o medo, a verdadeira dimensão da imperfeita natureza humana.
Por isso, a chegada de 2021 se tornou tão ansiada e se vive, nestes primeiros dias, uma falsa sensação de alívio. Terminou, enfim, o ano terrível, mesmo sabendo-se que nos esperam, ainda, meses muito pesados e preocupantes.
É uma ilusão, de facto, mas a ilusão, como o sonho, é necessária à condição humana. Importa virar a página. Torna-se urgente acreditar que temos futuro. Também não é menos importante que o grande vencedor seja a ciência, o conhecimento, o saber do Homem. Num tempo em que tanto se fala da inteligência artificial e tanto se desvaloriza a inteligência humana, fazia muita falta que a ciência fosse recolocada no lugar mais alto da vida.
 
2021 não pode deixar de trazer a herança de 2020. Veja-se o caso muito significativo do desporto. Para este ano de 2021 passaram os Jogos Olímpicos de Tóquio. É certo que custarão, no final, a obscena quantia de 20 mil milhões de euros e que a densa população de Tóquio (quase a população inteira de Portugal) acha, em significativa maioria, que os Jogos deveriam ter sido cancelados e não se falava mais nisso, até Paris-2024. Mas, para o governo japonês e para o Comité Olímpico Internacional, era uma questão de honra. Assim, com ou sem público nas bancadas, mas com os direitos televisivos e as receitas publicitárias assegurados, os Jogos terão o seu início a 23 de julho.

TAMBÉM o futebol precisou de ajustes ao desgraçado ano de 2020. A começar pelo Campeonato da Europa, o que nos permite, pelo menos por mais um ano, sermos campeões em título, os únicos que, sem jogar, asseguraram o prestigiante estatuto do melhor da Europa durante cinco anos!
A fase de grupos arranca em junho. No dia 15, o que se espera que seja um mais tranquilo Hungria- Portugal, mas, logo depois, a 19 e a 23, dois jogos de altíssimo risco, com a Alemanha e com a França.

QUANTO ao que mais parece interessar desportivamente os portugueses, nada mudará em 2021. O mais importante continua a ser o título de campeão nacional de futebol, algo que pode tornar-se mais transversal, uma vez que, além dos crónicos candidatos FC Porto e Benfica, se juntam o histórico, mas há muito adiado, Sporting e o renovado e cada vez mais notável SC Braga.

Quatro candidatos à chegada de 2021 é um acontecimento raro. Mais raro, ainda, do que a surpreendente, mas firme liderança do Sporting. A verdade é que tanto a equipa de Rúben Amorim, como a de Carlos Carvalhal têm dado garantias de continuidade na qualidade desportiva que evidenciam.
Também o FC Porto parece regressado ao seu estilo, à sua atitude, ao seu legítimo direito a sonhar com a reconquista do título. Maior dúvida estará instalada na mente dos benfiquistas. A equipa de Jesus não descola de uma vulgaridade preocupante e de uma qualidade indigente. Apesar disso, mantém o segundo lugar e só por isso o direito à esperança.