O que um central nunca poderá ser

OPINIÃO28.09.201904:00

Nunca um central deveria ser o melhor jogador do mundo - ou ganhar a Bola de Ouro, conforme se prefira. Já aconteceu, eu sei, com Franz Beckenbauer e Fabio Cannavaro, mas de forma que me pareceu desenquadrada das particularidades do jogo.


Um hábil defesa, como é o holandês Van Dijk, um dos melhores de agora, será para mim sempre mais fraco futebolista do que um médio organizador, um 10, um extremo ou um finalizador (talvez um guarda-redes Bola de Ouro faça sentido, como Yashin, talvez); agora, conceber, tão-somente, que aquele jogador do Liverpool pudesse ser o melhor do mundo, à frente de Messi ou Ronaldo, é uma ideia insensata, para a qual só vejo elucidação num certo enfado com as distinções de Messi e Ronaldo.

A maior parte dos centrais nunca quis sê-lo até ter compreendido, geralmente cedo, que não tinha aptidão para mais.

A destruição e a criação são desígnios naturais, são as energias do Planeta, que tudo impõem. No futebol, contudo, a destruição é só desinteressante, fácil, inferior à obra dos mestres.

Há outra coisa que um central não merece: ser o pior do mundo. Porque mesmo sem o dom dos que podem ser os melhores, ele  interpreta uma tarefa coletiva, tem uma responsabilidade que é apenas última, não primeira, muito menos exclusiva, por mais que ser o último a ser batido, o derradeiro a tombar num golo sofrido, possa evidenciar-lhe dramaticamente as fragilidades. Um golo falhado pode não ser o fim de tudo, mas um golo não evitado - ou ser a causa evidente de um sofrido - é-o tantas vezes. Logo, por mais penáltis ou autogolos que faça, o sportinguista Coates, mesmo que recentemente até o pareça, não deve ser o pior central da Terra.
Ainda que a culpa de uma qualquer maravilha possa ser de um só jogador, a de um desastre dificilmente.