O que pensar do batom de Marta

OPINIÃO22.06.201904:00

Marta, capitã do Brasil, a melhor marcadora de sempre em Mundiais, cinco vezes eleita a melhor jogadora do mundo, foi também notada no jogo contra a Itália no Mundial de França por usar um batom roxo. Custa €10, aguenta 16 horas sem borrar e parece que a tendência do verão são os tons escuros, li. Admite-se que, sem exibição de nome ou símbolo, possa ter sido marketing de emboscada. Admite-se ainda que possa ter sido outra manifestação de protesto feminista contra as disparidades entre homens e mulheres, tal como quem desabafa um «se é assim que nos querem é assim que nos têm».


A primeira coisa que tudo isto me pareceu foi um erro de Marta, pois ao maquilhar-se ter-se-ia socorrido de uma elementar prática de feminilidade, captando olhares para a condição de mulher, mais do que de uma estratégia de feminismo, pela qual chamaria a atenção, então sim, para as conjunturas civis. Isto é: situou-se como uma cheerleader participante no evento, justamente o que ela quererá impedir que ocorra. Foi o que pensei primeiro, felizmente não foi o que concluí.


Na verdade, se fugirmos ao contexto da afirmação do futebol feminino, a vaidade de Marta é tão trivial como um penteado de um David Beckham dos tempos modernos ou mais uma tatuagem de braço inteiro. Será apenas uma mulher que se maquilhou para ir trabalhar ou não? É claro que feminilidade não implica necessariamente feminismo, nem vice-versa, infiro eu então de forma que me parece menos apressada, menos preconceituosa também. Ao pintar os lábios talvez Marta não tenha sequer pensado no que quer que seja, não tenha procurado qualquer segundo sentido. Provavelmente só fez algo que faz todos os dias e eu aqui a pensar nisso.