O que falta ao Benfica

OPINIÃO13.11.201800:09

O jogo de Tondela pouco acrescentou ao que já se sabia sobre o período instável do Benfica. Venceu sem convencer (ai aquela perdida de Xavier  ao minuto 72!). A exibição não entusiasmou  e nem ténue raio de luz iluminou a equipa com novas ideias e outras soluções.
Resumindo, foi um marcar passo em relação à propalada crise, que considero causada mais por teimosia dos decisores técnicos do que por eventual quebra de rendimento coletiva dos praticantes. Anteontem, nada de novo se perscrutou no horizonte, além de equívocos antes identificados  e que, no geral, se traduzem  em  notórias e visíveis limitações de ordem tática a que se associam frequentes bloqueios individuais ao nível da estabilidade emocional.
Rui Vitória ficou incomodado por ter sofrido um golo no primeiro minuto, mas na jornada anterior, diante do Moreirense, sofreu dois em  dez minutos, o que só prova que durante a semana pouco foi feito no sentido de eliminar essa insuficiência, que, sublinhe-se, é antiga. Trata-se de uma anomalia no funcionamento da máquina a que o treinador, não sei se bem ou mal, em declarações públicas, nunca atribuiu a devida  relevância. Pelo contrário, olhou para ela como uma minudência.
Depois do que aconteceu no passado recente com o Boavista, com o Nápoles, com o Besiktas e já esta época, embora em cenários diferentes, com o Chaves, o Belenenses e o Moreirense,  em que a equipa ou parte dela se apaga, deixa de pensar e desaparece do campo, alguma coisa teria de ser feita no sentido de inverter esse ciclo. De travar  as  tais atipicidades, como lhes chamou Vitória, na ausência de reflexão mais  sensata e profunda. Que continuam lá, porém. Poderá argumentar-se que é uma situação que não se consegue prever e que é  transversal a todas as equipas, fracas ou fortes. Talvez, os jogadores não são peças de xadrez, mas já que não podem prever-se, que haja, por parte de quem comanda, a capacidade de introduzir  alterações imediatas  e diferenciadoras de maneira a não sacrificar os objetivos desportivos do clube.

Afinal o que é que os outros têm e o Benfica não? Pergunta interessante e cuja resposta se descobre no último FC Porto-SC Braga, encantadora ‘Cimeira de líderes’ anunciada em feliz título de A BOLA na sua edição de sábado.  
Vi um jogo muito especial e  imensamente valorizado por dois candidatos ao título nacional, demonstrado pela classificação e pela atitude. No entanto, há diferenças iniludíveis, como comentou o jornalista Pedro Azevedo na  Renascença, ao lembrar que só a verba amealhada pelos portistas na presente edição da Liga dos Campeões corresponde a três orçamentos dos braguistas. E, mesmo assim, o pessoal de Abel Ferreira obrigou a gente de Sérgio Conceição ao máximo empenhamento para definir vencedor e vencido, sem margem de dúvida e numa daquelas noites em que os artistas justificaram o aplauso uníssono e unânime de todo o estádio, sem destrinça de cores.  
A cultura tática do FC Porto, acima da precisão do desenho, toma  nota das inúmeras e imprevisíveis cambiantes para as quais um treinador deve estar apto a reagir no instante, tantas  vezes quantas a história do jogo determinar, desde as surpresas dos seus próprios jogadores, ora superando-se, ora fraquejando, às rasteiras que o adversário subtilmente preparou.
Neste caso concreto, o FC Porto mudou, adaptou-se, alterou o figurino para aí três  vezes, manuseando o 4x4x2 e o 4x3x3 com afoiteza  e agilidade notáveis.
O SC Braga, embora mais limitado nas alternativas, igualmente respondeu com prontidão aos desafios do opositor e, como nota saliente, na saída curta em posse, como agora se diz. Regra geral,  soube controlar  não só a pressão contrária como libertar-se dela com destreza e surpreender, através de uma fórmula que nada tem de mágica. É reflexo, unicamente, de muito treino.
 
O que é que o Benfica não tem, então?  Primeira resposta, por me parecer óbvia: afirmou mais ou menos Ivo Vieira, treinador Moreirense, quando visitou a Luz, que não ia oferecer a bola, porque, quem seguiu com olhos de ver o Benfica-Bayern reparou na facilidade com que os alemães banalizaram os encarnados. Um treinador atento como ele (recordo o banho que deu a Jorge Jesus no Estoril), dentro das suas modestas opções em termos de plantel, utilizou a mesma receita por ter a convicção de que do outro lado apenas iria ter como resposta trocas posicionais. Em termos estruturais, como começa é como acaba, salvo nas emergências em que é tudo na frente e fé em Deus.  Por outro lado, se o adversário investe na chamada pressão alta logo dispara o sinal de alarme, com Vlachodimos  em permanente sobressalto. Não se enxerga, por exemplo, uma semelhança com a estabilidade  que a organização defensiva do SC Braga revelou no Dragão.  
Tenho de ficar por aqui porque a página não estica e o Duarte Gomes, meu vizinho de baixo, não facilita. Por isso, duas notas finais:
1.ª, Rui Vitória tem total apoio de Luís Filipe Vieira e com este plantel  a única forma de retribuir-lhe é ser campeão nacional.
2.ª, Depois da humilhante participação na última Champions  (zero pontos=zero vitórias), a Liga Europa será o destino próximo da águia e os adeptos teriam gostado que o treinador tivesse proclamado já a candidatura ao triunfo na prova. Seria saudável. Em vez disso, declarou que ainda pensa no apuramento na Liga dos Campeões: ganha ao Bayern, ao AEK, faz seis pontos e já está. Quem sou eu para o contrariar...