O problema no futebol é sempre o se...
Onde se faz o exercício maluco de nos metermos, mesmo, na pele do selecionador e de termos de escolher o onze para o jogo com os alemães
S E eu fosse o selecionador nacional estaria a preparar um discurso incisivo e heroico para o jogo com a Alemanha. Cada jogo vale três pontos, mas há alguns em que esses três pontos valem mais do que outros. Este jogo com a Alemanha é um deles. Vale a qualificação direta para a fase final, vale a consolidação e ampliação do estatuto e do prestígio internacional da nossa Seleção e vale o reforço a uma candidatura ao bis europeu.
Cada jogador da nossa Seleção já saberá disso e não precisa de motivação especial para jogar com a Alemanha, mas é sempre importante reforçar a solidez da alma e a força insubstituível de um grupo que tem enormes potencialidades, mas que as tem de confirmar em campo, sobretudo em jogos de alto nível competitivo e de elevado grau de dificuldade, como este. Porque ninguém tenha dúvidas. Nós, portugueses, vimos com emoção e orgulho a vitória de Portugal em Budapeste, mas o mundo não terá prestado muita atenção e só agora, nos jogos com a Alemanha e com a França, vai estar de olhos postos em Cristiano Ronaldo e companhia.
S E eu fosse o selecionador nacional andava a dormir mal de noite e acordaria de hora a hora para registar mais uma ideia no bloco da mesa de cabeceira. Que onze vou escolher para jogar com a Alemanha? OK, a defesa está sólida e não merece dúvidas. O Nélson Semedo na direita, a dupla indiscutível do Pepe e do Rúben Dias e o Raphael Guerreiro na esquerda, ele que, agora, nem sequer tem a concorrência direta do Nuno Mendes, por ter tido limitações físicas. À frente, a experiência de Danilo seria de manter na posição seis. Além do mais tem a vantagem de ser influente, às vezes, até decisivo no jogo aéreo e sabe-se como esse é um dado a ter em conta num jogo contra jogadores alemães.
Contando com o Rui Patrício, já temos mais de cinquenta por cento da equipa formada sem dúvidas ou probabilidade de contestação. Daqui para a frente: William Carvalho ou Renato Sanches? Renato entrou muito bem, é impulsivo e rápido na transposição de jogo. Mas é disso que a equipa precisará no jogo com a Alemanha? Eu sei o que Fernando Santos estará a pensar, mas o exercício é outro, é o de aceitar que seria eu a tomar a decisão. Acho que optaria por William e nervosamente esperava por aquilo que o jogo desse.
Mais à frente, sem dúvida quanto a Bruno Fernandes, com ordem para usar mais os seus passes de rutura, no aproveitamento do espaço que previsivelmente a Seleção irá ter quando na posse de bola, e o remate de meia distância.
No ataque? Cristiano, claro. Na Seleção ainda é ele e mais dez. Porém, mais no meio como avançado centro (diferente de ponta de lança) ou mais na esquerda a entrar para o meio? Gosto mais de o ver descaído para a esquerda, mas tem um problema: nesse caso onde meteria eu o Diogo Jota que, neste jogo, pode ser decisivo na velocidade e intuição pelo golo?
Fica uma questão pendurada: Bernardo Silva ou Rafa, na direita? É verdade que Rafa foi determinante no jogo com a Hungria e que Bernardo está longe da sua melhor forma, mas eu acho um crime lesa-futebol ter um jogador à disposição com a qualidade de Bernardo e não contar com ele. Talvez lhe desse mais liberdade de movimento, quando a equipa tivesse bola, mas não posso dizer que Rafa não me daria mais garantias num disciplinado respeito pelo desenho tático defensivo no corredor direito da Seleção. Mesmo assim, acho que acabaria por optar por Bernardo. Que diabo, o jogo é contra a Alemanha e ele sabe que pode tornar-se histórico.
LOUCA OFERTA NO VERÃO DESPORTIVO
Pouco mais de uma semana, concretamente, doze dias, separam a final do Campeonato da Europa de futebol, em Londres, da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Tóquio. Ou seja: pouco mais de uma semana para o mundo, ou, melhor, a Europa, mudar o chip. Uma oferta desportiva louca neste verão de restrições e ameaças de novos confinamentos. O que se pode tornar num incentivo ao recolhimento e à opção pelo garantido espetáculo televisivo. Uma escolha de perigos sedentários, sim, mas psicologicamente saudável.
A GRANDE ILHA DOS TRÊS MILHÕES
De repente, Lisboa transpira vírus por todos os poros. Não é, infelizmente, uma novidade. Previsível para qualquer leigo minimamente atento às festas e festanças da capital e ao regresso da intensa movida noturna, com a polícia, mais do que calma, resignada.
A culpa, está à vista de todos, não foi a celebração do título do Sporting. A culpa foi a celebração de uma vitória sobre o vírus, antes do jogo terminar e, por isso, agora, a Grande Lisboa é uma ilha de três milhões de habitantes e de potenciais infecciosos.