O nosso futebolzinho
1 Digerido o episódio Marega - que obviamente e como previ, vai acabar sem consequências para o Vitória de Guimarães, conforme já tratou de explicar o presidente do Conselho de Disciplina, José Manuel Meirim - lá prosseguiu o nosso previsível e fraco campeonato. Isto, depois de uma jornada europeia em que o Sporting lá cumpriu os mínimos face a uma inexistente equipa turca, o Braga (actualmente a única equipa que joga futebol que se veja por aqui) esteve à beira de mais uma proeza em Glasgow, e Benfica e Porto, com as tarefas mais difíceis teoricamente, perderam com naturalidade mas salvando-se com melhor resultado que desempenho. Melhor resultado o do FC Porto, que chegou a ver tudo perdido e que, apesar de tudo, tinha adversário mais complicado que o Benfica e que não estava, como o Shakhtar, há dois meses sem competir. Veremos amanhã quantas das três derrotas da primeira mão serão revertidas, se é que alguma. Tudo é possível, para o melhor e para o pior.
2 Pelo mesmo resultado, com o mesmo sofrimento e com a mesma nulidade exibicional, FC Porto e Benfica lá se desembaraçaram dos seus adversários no campeonato, após as duas tremendas jornadas anteriores em que os portistas conseguiram recuperar seis dos sete pontos que tinham de atraso e reabrir um livro que já parecia fechado. São, indiscutivelmente, mas sem mérito correspondente que se enxergue, as duas equipas do ano, depois de ambas terem confirmado também a sua presença na final do Jamor. O Benfica, depois de umas meias-finais em que não mereceu levar de vencida o Famalicão, só o conseguindo graças ao 3-2 da Luz, obtido no último segundo do último minuto do prolongamento, através de um canto que não existiu, cabeceado para golo por um jogador que já deveria ter visto segundo amarelo. O FC Porto, através de uma descolorida exibição caseira contra o secundário Académico de Viseu, e uma vitória por 3-0 inaugurada com um penálti inexistente (se bem que também tenha ficado por marcar um penálti claríssimo a seu favor, mesmo a terminar o 2-2 da primeira mão).
Em Barcelos, o Benfica mereceu ganhar porque teve mais ocasiões para isso, mas nunca se livrou de sofrer um golpe que poderia ter sido fatal. Já o Porto, jogando contra uma equipa cuja qualidade não justifica o lugar que ocupa (já se tinha visto isso na Luz), também sofreu até ao fim e só mais uma dádiva de Alex Telles o salvou. Não me canso de dizer que é o melhor e o mais valioso jogador da equipa e um dos melhores laterais esquerdos do mundo. Não me canso também de apelar a que renovem o contrato com ele, seja a que preço for e mesmo que isso implique deixar de comprar três ou quatro novos jogadores, que, juntos, jamais serão tão úteis como ele. Mas tudo parece encaminhar-se para que ele saia e a custo zero. Se isso suceder, será um verdadeiro crime de lesa-clube, que eu espero que tenha as necessárias consequências a nível da saída de outros, também a custo zero, da SAD e do departamento de futebol.
3 Uma das qualidades de Alex Telles, sem rival nesta equipa portista, é a excelência na cobrança de bolas paradas, cantos, livres e penáltis: o FC Porto deve-lhe inúmeros golos obtidos graças a isso. Mas, ciclicamente, quando Sérgio Oliveira ressurge como titular, ele arroga-se o direito, jamais fundamentado em resultados prácticos, de disputar, ou mesmo roubar a Alex Telles o protagonismo na cobrança de bolas paradas. Declaro a minha estupefacção sobre isto. Não consigo perceber se Oliveira terá alguma cláusula particular no seu contrato que lhe garante tal estatuto, se é o treinador que é masoquista ou se a conversa de que a equipa está sempre primeiro que as individualidades afinal não passa de uma treta. Certo é que vejo o FC Porto prescindir dos serviços de um jogador ímpar nesta matéria no nosso campeonato em favor de outro que é apenas estiloso e voluntarioso. Aliás, e ao contrário da generalidade da crítica, eu já há muito que perdi as ilusões em relação a Sérgio Oliveira. Reconheço que é um jogador com uma técnica individual acima da média, mas que, por algum estranho fenómeno, aparece e reaparece sempre em grande, faz um ou dois bons jogos e depois desaparece, entrando na banalidade e na mediocridade. E isto repete-se, ano após ano. Neste momento, ele, Uribe (cujo problema, esse, é crónico), Danilo, Soares e Marega estão a precisar de banco e de bancada gritantemente. Mas Sérgio Conceição tem-se revelado um treinador previsível, teimoso e repetitivo. Como o futebol da equipa.
4 Na TVI, Miguel Guedes teve o mérito de pegar de caras a suspeição que obviamente toda a maralha das redes sociais ia entreter-se a alimentar uma semana inteira: terá Jackson Martínez falhado propositadamente o penálti contra o FC Porto? Ao seu lado, o putativo futuro presidente do Benfica, Rui Gomes da Silva, começou logo por dizer que não - oh, longe dele levantar uma suspeita dessas! Embora, acrescentou, achasse estranho que um jogador tão dotado tecnicamente falhasse de forma tão desastradamente técnica um penálti. Ele não suspeitava, mas... Porém, a TVI lembrou-se então de repescar imagens de um Porto-Benfica de 2013 em que o mesmo Jackson Martínez, no mesmo estádio do Dragão e contra o Benfica, falhara da mesmíssima maneira um penálti. Com a agravante de este ter valido a exclusão da passagem à final da Taça da Liga, essa malfadada competição que o Porto jamais ganhou e jamais ganhará. Comentário de Rui Gomes da Silva: é estranho que ao fim de sete anos ainda não tenha corrigido a forma de cobrar o penálti. Já não me ria assim desde que li o artigo do vice-presidente benfiquista Sílvio Cervan sobre a última ida do Benfica ao Dragão - «A farsa do Dragão». É sempre um deleite apreciar as declarações dos ex, actuais e futuros dirigentes de clubes no papel de comentadores desportivos.
5 Em matéria de comentários ao Porto-Portimonense, também não deixei de reter para memória futura um do especialista em arbitragem da Sport TV que, enfiado numa roulote, é suposto, no final dos jogos, pôr tudo em pratos limpos. A propósito de uma jogada aos 30 minutos em que Soares é puxado pela camisola por um jogador do Portimonense dentro da área e quando se fazia a uma bola para cabeceamento, o especialista, não podendo negar a evidência das imagens, começou por dissertar sobre o facto de Soares ter caído para a frente e não para trás, como, segundo ele, seria natural (apesar de o jogador ir embalado para a frente). Depois, reforçou ainda o argumento para apoiar a decisão da arbitragem de não marcar penálti com a mui objectiva «teoria da intensidade», rematando com esta pérola de doutrina, que cito textualmente: «Os jogadores têm que se mentalizar que os contactos e os agarrões fazem parte do jogo». A seguir atentamente nos tempos próximos.
6 Já entender porque razão o penálti sobre Zé Luís, tão mais evidente que o penálti sobre Jackson Martínez não é visto nem pelo árbitro nem pelo VAR, não é matéria de doutrina, é mesmo de oftalmologia. Mas são perturbações momentâneas destas que às vezes valem pontos. E campeonatos.
7 Mais um póquer e um show de bola de Leonel Messi contra o Levante. Quem não tem o canal Eleven, que é toda a gente, não viu. Não vê o melhor campeonato do mundo, que é o espanhol, nem vê a Liga dos Campeões. Só não percebo como é que a SportTV se atreve a manter o preço da sua assinatura tendo perdido os direitos das duas competições mais importantes do mundo do futebol.
8 Uma bancada inteira em Guimarães protagonizou um episódio em que atirou dezenas de cadeiras contra um jogador, cobrindo-o de insultos e ofensas racistas, que correu mundo, enxovalhando injustamente o nome do clube e o prestígio de todo o futebol português. Mas, por força dos regulamentos, parece que o mais que o Vitória arrisca são uns parcos milhares de euros de multa. Porém, e porque um só adepto portista atirou uma só cadeira para o campo, que, por azar terá acertado num polícia - perdão, num «agente desportivo» - o FC Porto foi condenado a um jogo de interdição do seu estádio. Pelo mesmo órgão de disciplina e por força dos mesmos regulamentos. Já o disse várias vezes: os piores juristas de Portugal estão ao serviço do futebol. Mas chega-se a um ponto em que também é de mais.