O Natal já está. No Carnaval, a gente fala
O Sporting é o líder do campeonato sem favor algum, só podendo ficar admirados os pateticamente distraídos ou os que, influenciados por clubites canhestras, recusam aceitar um terceiro candidato a sério na luta pelo título nacional. O Sporting é o líder natural devido à superior qualidade do seu futebol, alegre e simples, que dá prazer ver.
O Natal já está bem resolvido, mas neste jogo de paciência, em que se deitam os dados para se passarem as sucessivas casas, Rúben Amorim, o grande arquiteto da mudança, sabe que, títulos de jornais à parte, a proeza fraco significado desportivo assume se, com idêntico rigor, não forem derrubados os obstáculos seguintes, como os do Carnaval e da Páscoa, até se chegar ao objetivo final, na terceira semana de maio do próximo ano, altura em que será declarado o campeão português de 2021.
Poderá dizer-se, com toda a propriedade, aliás, que a prova ainda nem completou o primeiro terço, mas também é verdade que, excetuando algumas notícias avulsas de discutível importância, ainda não são do domínio público os planos do leão para enfrentar o mercado de inverno, nem se sabe se é efetiva a pretensão de reforçar o plantel. No entanto, se quiser aproveitar o mês de janeiro para esse efeito, e se o fizer com o mesmo grau de eficiência com que preparou a presente temporada, será caso para dizer que os oponentes diretos muito terão de pedalar para o tirarem lá de cima, do cadeirão da liderança.
Em trabalho ontem publicado em A BOLA, com assinatura do jornalista Eduardo Marques, foi recordado que na época de 2001/2002, quando se sagrou campeão nacional pela última vez, treinado pelo romeno Laszlo Boloni, o Sporting esteve onze jornadas consecutivas na liderança, entre a 23.ª e a última, sendo essa reta final de resultados decisiva e que, comparativamente aos dias de hoje, ajuda a explicar o cuidado de Rúben Amorim quando lhe perguntam se se considera candidato ou não, reservando melhor resposta, com imensa graça, para quando faltarem dez minutos para o termo do encontro da derradeira jornada…
O treinador leonino, melhor do que ninguém, tem a perfeita noção de que somente conseguiu dobrar este cabo das Tormentas associado ao período do Natal, e que os adeptos muito agradecidos lhe estão por ter destruído essa barreira psicológica.
Falta o resto, porém, que ainda é muito. Para já, manda a prudência esperar até ao Carnaval, a próxima referência. Depois, até à Páscoa, nos primeiros dias de abril, que assinala, precisamente, a entrada nas últimas dez jornadas e o início da etapa até à linha de meta da grande corrida.
Rúben Amorim tem dado lições de boa comunicação e vai alertando a navegação. Ou seja, não só admite a sua inexperiência, prometendo melhorar o comportamento futuro, numa alusão aos dois castigos ligados aos empates com FC Porto e Famalicão, como, na conferência do jogo com o Farense, em momento de enorme tensão, foi capaz de ironizar acerca do penálti sobre Feddal, pensado que «era sobre Coates». Além de ter deixado Jorge Jesus a falar sozinho a propósito de um tema por este mal amanhado quando considerou que a equipa do Sporting é a que melhor joga, depois do treinador leonino ter defendido ideia contrária. «Não ouvi, vale o que vale e até acho estranho», frisou, sublinhando que os seus jogadores apenas devem ligar àquilo que ele lhes diz.
Se a sociedade desportiva leonina não se desgastar em polémicas serôdias e se concentrar no caminho que lhe é indicado pelo raio de luz que irradia do trabalho competente de Rúben Amorim talvez exista uma esperança de sucesso. Talvez, repito, se, ao contrário do que é costume, administradores, diretores e similares travarem vaidades e libertarem o futebol para quem já deu provas de o dominar por dentro e por fora. De toda a maneira, senhores adversários, não subestimem este leão.
A razão de Jesus
Afirmou Jorge Jesus, a seguir ao jogo com o Gil Vicente: «Ofensivamente, somos das equipas que fazem mais golos, não só em Portugal, na Europa também. O Liverpool é que marcou sete na última partida, senão éramos a quarta melhor na Europa.»
Vamos por partes: na Liga portuguesa, FC Porto (25) e Sporting (24) marcaram mais até agora, depois, na Alemanha (mais três jornadas), aparecem Bayern (39) e Leverkusen (28), em França (mais seis), o PSG (35) e o Lyon (31), em Itália (mais três), Inter (32) e Milan (29) e em Inglaterra (mais quatro), Liverpool (36) e Manchester United (28) lideram a lista de equipas mais goleadoras. Nem com uma regra de três simples se chega a semelhante conclusão.
Também não sou bruxo, mas penso que Jesus recebeu com ruídos alguma mensagem que lhe transmitiram. O Liverpool é que baralhou as contas. O que terá pretendido dizer é que no universo da Champions e da Liga Europa, concluídas as fases de grupos, o Benfica (18-9) é o terceiro emblema com melhor registo de golos marcados, em igualdade com o Bayern (18-5), apenas suplantado(s) por Bayer Leverkusen (21-8) e Arsenal (20-5).
Assim, sim, no âmbito das competições da UEFA, o Benfica tem o terceiro melhor registo de golos marcados, empatado com o Bayern, mas perde para o clube bávaro na diferença entre golos marcados e sofridos (mais nove contra mais 13 dos alemães), fazendo todo o sentido o quarto lugar na geral global.
Conclusão: Jorge Jesus até tem razão, mas explicou-se mal.