O Mundial muda (quase) tudo

OPINIÃO07.07.202206:30

Se há ano em que a pré-época se torna ainda mais importante é esta porque a partir de agosto vai ser sempre a abrir

A época 2022/2023 de futebol promete ficar na história pelo simples (mas complexo) facto de haver um Campeonato do Mundo a cortar a meio os campeonatos nacionais da Europa. Mais do que nunca, os gestores das sociedades desportivas terão de fazer um trabalho cirúrgico de planificação para que as suas equipas cheguem ao final da temporada sem mais lesões que o habitual e, consequentemente, com os grupos mais apetrechados e capacitados para atingirem os seus objetivos.
Se olharmos para o caso português, temos o Benfica como exemplo do que aí vem a nível de exigência: de entre os candidatos ao título, os encarnados poderão ser aqueles que chegarão à paragem do campeonato, em novembro,  com mais jogos realizados. Se conseguirem passar as duas pré-eliminatórias de acesso à Champions, as águias deverão fazer 25 partidas no espaço de 103 dias (mais dia menos dia, dependendo da confirmação da data da 1.ª mão da terceira pré-eliminatória e de um eventual acerto da data da jornada 13, antes da grande pausa para o Mundial do Catar), o que dará uma média de um jogo a cada 4,1 dias. O mesmo acontecerá com FC Porto e Sporting, os representantes nacionais já garantidos na Liga dos Campeões, o SC Braga na Liga Europa e, esperemos, Gil Vicente e V. Guimarães na Liga Conferência.
Para se adaptar ao certame no Médio Oriente (uma herança de Joseph Blatter), a UEFA teve de diminuir os tempos de intervalo entre os jogos das fases de grupos, o que vai obrigar as equipas participantes nas competições europeias a pensar muito bem como vão preparar uma temporada tão atípica. Devem os clubes ter mais jogadores para garantir maior rotatividade? Devem os clubes reforçar ainda mais os departamentos de fisiologia, antecipando problemas no inverno que habitualmente só surgem na primavera, quando o desgaste acumulado é maior? Devem os clubes guardar as suas joias no mercado de verão porque o mercado de inverno poderá ser aquele que movimentará as maiores transferências no rescaldo do Mundial?
São várias as interrogações, mas não estaremos muito enganados se muitas equipas apresentarem mais oscilações que o habitual e que o Catar vai provocar nos europeus uma sensação semelhante à dos sul-americanos com os seus campeonatos Clausura e Apertura.

E STÁ visto, portanto, que a partir do momento em que a bola começar a rolar os treinadores vão limitar-se à gestão corrente porque terão menos tempo para consolidar processos. Se há ano em que o trabalho de pré-época se torna crucial é este, porque a partir de agosto vai ser jogar-descansar-jogar, rotina que habitualmente acontece entre janeiro e março nos clubes envolvidos em várias frentes. De entre os três grandes, Roger Schmidt será teoricamente o que menos beneficia desta conjuntura porque Sérgio Conceição e Rúben Amorim já vêm com um trabalho de base de outras épocas no FC Porto e Sporting, respetivamente. O técnico germânico será, por isso, obrigado a mudar o futebol dos encarnados num espaço temporal menor do que aquele que precisaria, porém o sorteio do calendário da Liga trouxe boas notícias: é, claramente, um arranque que, no papel, é menos exigente do que, por exemplo, o do Sporting, que vai a Braga na primeira jornada e ao Dragão na terceira. Não que uma coisa compense a outra na mesma proporção, mas ter pela frente Arouca, Casa Pia, P. Ferreira, Boavista, Vizela, Famalicão e Marítimo nas sete primeiras jornadas não é a mesma coisa que ter um ciclo que inclua um clássico e um outro clássico contemporâneo como é o caso dos desafios diante do SC Braga (que os dragões defrontam à 8.ª jornada). 

T ENDO um agosto escaldante ao nível da exigência dos oponentes, parece agora mais do que acertado o critério escolhido pelo Sporting para definir os adversários de pré-época. Villarreal, Roma, Portimonense, Sevilha e Wolverhampton vão obrigar a equipa a subir o nível desde muito cedo. Esta pré-temporada tem algo de especial.