O meu tempo está a acabar!...

OPINIÃO16.02.201903:00

Oito dias depois das últimas eleições voltei a escrever a minha crónica habitual que havia suspenso por ser candidato. Pensei que não ia ser fácil voltar tão cedo à crítica, pois qualquer deslize poderia levar alguém a pensar que já estava a fazer oposição.


Não precisei de muito tempo para reflectir sobre o que deveria fazer, porque antes do acto eleitoral, mais concretamente nos últimos tempos de campanha, percebi claramente que o meu tempo tinha acabado. Embora tenham sido muitos - sobretudo os do meu tempo -  que disseram, antes e durante a campanha, que era o mais experiente, que era o que sabia mais de futebol e do seu mundo, que tinha curriculum como nenhum outro, percebi perfeitamente que hoje isso interessa muito pouco, e que, num ápice, num golpe de magia ou de marketing se constrói um presidente. As redes sociais hoje é que mandam, fazendo e desfazendo, o bom e o mau. Não me dou com isso e estou velho para mudar.
Por isso, quando disse e escrevi que o meu tempo acabou, não foi um desabafo amargo ou de azedume. Foi um desabafo feito de lucidez, passe a imodéstia, se bem que ainda não percebi bem se, nos tempos que correm, ser lúcido é bom ou mau. Por mim, é mau porque se sofre; mas é bom porque se prepara o futuro, amortecendo o choque. Fiquei preparado para o choque, embora isso, se não causa sofrimento, enche-me de preocupação.


Em mais que uma ocasião também esclareci que ao dizer que o meu tempo acabou, sem azedume ou amargura, não significava que não estava preocupado. Estava e estou muito preocupado.


Vou assistindo, nos mais diversos sectores da sociedade, não a passagens tranquilas e serenas de princípios e valores, sem violências ideológicas ou verbais, sem choques de gerações! Como quando era miúdo não aceitava uma resposta por que não, não aceito que a troca dos mais velhos pelos mais novos seja apenas por que sim!


Neste momento, acho que os meus estimados leitores já estarão a pensar que mudei de opinião, que o meu tempo não acabou e vou passar a ter tiques oposicionistas. Fiquem tranquilos que não há razões para isso, embora compreenda o que aí vem.
O que está a acabar é o meu tempo de silêncio, perante o que vou vendo e ninguém me explica. Não gosto de confundir crítica com má língua, coisa que está muito em moda, mas não uso por uma questão de higiene. Criticar, como já varias vezes tenho dito, não é deitar abaixo, como muita gente gosta de fazer. Toda a apreciação ou comentário que não envolva a ideia de aperfeiçoar ou renovar é pura má língua.
Começo a ver e ouvir muita má língua, e quando quero contrapor a uma organização outra organização, porque considero que isso é que é criticar, começo a ter dificuldade em perceber para onde se dirige a organização. Tenho a intuição de que algo vai mal, mas é mera intuição, que normalmente não me engana.


Ainda ontem, na concorrência, uma das vozes mais lúcidas que ouço e leio - a de Rui Calafate -  dizia que precisamos de remar todos para o mesmo lado, expressão que aliás há anos que escuto, mas que só vejo cumprida nos atletas que praticam modalidades que utilizam o remo.
É das poucas vezes em que não concordo com ele, pois  há muito tempo que não vejo tudo tão calmo, sinónimo de que as pessoas querem remar para o mesmo lado. O que acontece é que não sabemos para onde remar, e esse é que é o problema, porque ninguém nos diz para onde devemos remar.


Creio que se vive um equívoco, nos mais diversos sentidos da palavra, quer no substantivo, como algo que é interpretado erradamente, um mal entendido ou um engano não propositado, quer como adjectivo, no sentido de que é suspeito, ambíguo e de que se deve desconfiar.
O remo é praticado por remadores, mas os remadores necessitam de um timoneiro que marque a direção e o ritmo aos remadores, que os guie, que os dirija.


Muito se falou durante a campanha em unir as pessoas, colar os cacos, curar as feridas dos estilhaços, recuperar traumas, traçar um caminho, definir uma estratégia, incutir ânimo a atletas, técnicos e adeptos.


Passaram-se menos de seis meses, é certo. Mas a um ruído demolidor, seguiu-se um silêncio ensurdecedor, apenas interrompido por uma palavra em tempo fácil, mas inoportuno, e sem significado futuro.


Queremos esquecer o passado e olhar em frente. Mas é o passado que ocupa o espaço mediático, porque o presente não é preenchido com expectativas de futuro, que nos una e galvanize para um tempo que já vivemos.


Não exigimos resultados, porque temos tido senso para compreender que isso não é para o imediato. Mas gostaríamos de ver um plano de conjunto definido, uma ideia e um discurso novo, uma orientação prática e uma finalidade positiva. O que queremos e para onde vamos?
«Não sei por onde vou, não sei para onde vou», como diria o poeta. Tão pouco posso dizer «que sei que não vou por aí», porque desconheço o aí!...


Mas sei, e digo-o com redobrada preocupação, que um navio de grande porte não pode ser conduzido a remos. Pode afundar, mesmo no mar mais calmo!...


Disse que o meu tempo acabou com preocupação; hoje digo, com tristeza, que não só um tempo que é o meu pode estar a acabar!

Fernando Peres

As notícias tristes e as nossas tristezas não têm parado nos últimos tempos. Agora foi o teu tempo, meu querido Amigo, que acabou. Um tempo que a memória conserva porque foste um grande jogador e o tempo não apaga a memória.


Descansa em paz, mas tenho que te pedir desculpa por não te ter ido prestar a última homenagem.  Podia dar mil desculpas, mas não as vou dar. Ando triste, pessimista, por vezes desorientado. Sem vontade de me despedir, porque cada despedida me traz um tempo que está a acabar!...