O mesmo há 18 anos

OPINIÃO08.01.202001:05

E apenas com 15 jornadas, antes do final da primeira volta, portanto, já todos temos a certeza de que o campeonato será ganho pelos mesmos de sempre. Ou Benfica, ou FC Porto. Nenhuma surpresa. É assim há 18 anos, quando o Sporting de Lazlo Bolöni, Jardel e JVP terminou à frente do então campeão Boavista (de Jaime Pacheco). Desde então (17 épocas) o FCP ganhou 10 campeonatos e o Benfica sete. E apenas em sete ocasiões o segundo lugar não foi ocupado por um dos dois - o Sporting foi vice seis vezes (quatro com Paulo Bento) e o Braga numa ocasião (com Domingos). Quanto ao terceiro lugar do pódio, além do Braga (duas presenças), apenas V. Guimarães e Paços de Ferreira conseguiram terminar uma vez ali. Um deserto, portanto. Em termos de competitividade, emoção e imprevisibilidade, o campeonato português é um autêntico bocejo, dominado pelos mesmos dois clubes há quarenta anos; enquanto nas ligas mais importantes da Europa (ver quadro) há outra variedade e, sobretudo, outra riqueza competitiva. A má noticia para os que apreciam competição a sério, a que nos chega da Premier inglesa ou das ligas espanhola, alemã e italiana, é que não se vislumbra nos tempos mais próximos qualquer alteração na sensaborona realidade portuguesa. Antes pelo contrário. A julgar pela situação aflitiva do Sporting, teoricamente o único com peso para se intrometer na conversa-a-dois, o mais provável é que Benfica e FC Porto, graças aos dinheiros da Champions - a que só eles acederam neste últimos três anos - acentuem o fosso sobre o clube que, ironia das ironias, fabricou o conjunto de futebolistas que tem estado na base do melhor período de sempre da Seleção Nacional - o dos títulos !
E depois há o resto. Sendo indiscutivelmente os mais fortes e melhor apetrechados no relvado - e isso acontece há muitos anos -, Benfica e FC Porto são igualmente os mais fortes e desavergonhados no jogo subterrâneo, onde tanta coisa se encaminha e decide; por algum motivo quando se fala do lado mais execrável do futebol português fala-se do famoso e despudorado sistema portista e daquele que não menos despudoradamente lhe sucedeu, o benfiquista. E por todos sabermos que continuam no ativo todos os que dominam (ou dominaram) o sistema, temo que a troca de acusações entre os estados-maiores benfiquistas e portista atinja o mesmo grau de descaramento e pouca vergonha dos últimos anos. Conversas entre rotos e nus que o país tem penosamente de suportar enquanto a Justiça não entra em cena para esclarecer o que tem de ser esclarecido.
A diferença entre Benfica e FC Porto para os outros já é tão grande, tão escandalosamente grande, que se torna ridículo pretender (como o presidente do Benfica, há dias) que o campeonato está muito incerto e tudo pode acontecer. Mas qual «tudo»? A única dúvida capaz de apimentar o o que falta (19 jornadas) é saber qual dos dois vai terminar no 1.º lugar. De resto, quem é que  quer saber quem fica no terceiro ou no quarto lugar? Só mesmo Silas, que no final do clássico [injustamente] perdido para o FCP, tentou animar os adeptos leoninos com a promessa de que o Sporting voltará a ultrapassar o… Famalicão (!). Deve ter sido uma das tiradas mais humilhantes ouvida pela nação leonina. Do modo que as coisas estão, é possível que os próximos clássicos (Sporting-Benfica a 17 janeiro e FC Porto-Benfica a 9 fevereiro) possam vir a ser determinantes para o título. Se o Benfica sobreviver sem dano a essas duas saídas dificilmente deixará fugir o campeonato.
Duopólio só mesmo aqui
Dezoito épocas seguidas apenas com dois clubes a repartirem os títulos de campeão só mesmo em Portugal. Na ligas europeias mais importante só a Itália se aproxima deste funil (três), enquanto nos outros países a média é de cinco campeões diferentes - a França até apresenta sete (!). A possibilidade de um clube minorca ganhar o título é muito reduzida em todas as ligas mas até nisso a Premier, a mais competitiva de todas, faz a diferença: foi ali que o Leicester (equivalente a um Paços de Ferreira) causou em 2016, com Claudio Ranieri, a maior surpresa da história do futebol moderno.