O medo recomendável (só) para os outros

OPINIÃO15.02.201903:00

Atletas (com agá grande)

O FC Porto entrou no coliseu de Roma sem 3 dos seus 4 principais gladiadores de ataque (Corona, Aboubakar e Marega). Durante a peleja, porém, também o quarto mosqueteiro (Brahimi) ficou fora de combate, quando se exibia a um nível superior. Mas o que aqui mais importa deixar sublinhado é que mal foram proclamados os nomes dos onze escolhidos para iniciar o embate logo se percebeu que o líder do Dragão não estava ali para sonhar com um empate mas para, de verdade, pugnar pela vitória. E foi quando já dominava plenamente as manobras, não sem antes ter sofrido e sentido alguns sustos (Bravo Casillas!), que num repente se descobriu a perder por 2-0, com somente o último terço da segunda metade por jogar. Sucedeu então que o Comandante dos Dragões voltou a mostrar que o medo até pode ser coisa recomendável para os outros mas que não passa de algo desprezível para os seus. Com um chefe desta têmpera e um oficial de operações (Danilo) a assaltar todas as trincheiras e a saltar entre elas uma e outra vez, fazendo do seu exemplo um imperativo, o desafio só podia acabar como acabou: com o Porto a acantonar, perdão, a asfixiar, a Roma. Exactamente como sucedera nos desafios precedentes, realizados em Guimarães e Moreira de Cónegos. A única diferença, e esta não pode deixar de impressionar, é que agora tal foi conseguido, em parte não negligenciável, através da acção directa dos suplentes dos suplentes. Foi muito bonito testemunhar a atitude demonstrada por Adrián, Hernâni e André Pereira. Obrigado pela vossa coragem.

Dia 6 voltamos a conversar.

Cromos: João Félix I

Não há como poupar nas palavras. Este rapaz vai afirmar-se rapidamente como o artista mais valioso gerado no futebol português desde o aparecimento de Cristiano Ronaldo. Nada que não fosse expectável. Já no ano passado aqui escrevera sobre ele. E do verdadeiro escândalo que constituiu o seu abandono do Dragão para voar em direção à Luz! Ainda hoje estou para descobrir quem tomou tão desastrosa - e ruinosa também, já agora - decisão. Alguém há-de ser responsável, por acção ou omissão. Ou não? Em qualquer caso, os portistas merecem saber a quem pertence o rosto oculto e o nome incógnito sob os quais se esconde uma insuportável inépcia. Que diabos (qualquer que seja a cor destes, não é preciso que sejam vermelhos)!  É que não há equívoco possível. Não é suficiente ver o rapaz tocar duas vezes na bola para de imediato se perceber que é diferente de todos os demais?

João Félix II

Ecomo se não bastasse já o nosso original, também em Itália se está a revelar na corrente época outro João Félix. Tem os mesmos 19 anos e foi internacional pela Squadra Azzurra ainda antes de ser titular no seu clube. Que, infelizmente para os portistas, é a Roma. Chama-se Zaniolo e marcou os dois golos que causaram a derrota do FC Porto.

‘Joker’: Fernando Chalana

APESAR de nessa altura ainda andar pelos bancos do liceu, lembro-me perfeitamente, sendo apenas um par de anos mais novo do que ele, da contratação (aliás polémica) de Fernando Chalana pelo Benfica, adquirido ao Barreirense. Com 17 anos tornou-se não só titular mas uma verdadeira estrela numa equipa que era uma autêntica constelação. Se não estou equivocado, foi o jornalista José Neves de Sousa quem primeiro cunhou o cognome com que para sempre ficou conhecido: «o pequeno genial». O apogeu da sua carreira, feita num tempo em que o mediatismo em nada poderia ser comparável com o do nosso quotidiano, foi atingido, muito provavelmente, no Europeu de 1984, disputado em França.

No dia 10 de Fevereiro de 2019 Fernando Chalana celebrou o seu 60.º aniversário. No mesmo dia, o Benfica homenageou o para sempre mítico 10 encarnado com uma histórica goleada por 10-0.

Apesar de não ser benfiquista, acho quase poética esta coincidência de sucessivos 10, tanto mais que nasci num 10/10. Mas isso nada importa para o efeito. Já a condição de também eu ser portador de uma doença neurológica degenerativa e incurável me faz sentir mais à-vontade para lhe dizer: «Em frente Fernando, sempre em frente!»