O jogo das crianças
Quando um grupo de crianças joga num clube ou escola de futebol, joga à bola. Os adultos devem estimular que joguem à bola, que a relação com a bola seja efectiva, não se preocupem com questões que não são importantes, ou por outra, só são importantes para parte dos adultos. O jogo das crianças não é o jogo dos adultos, e estes não o devem condicionar com as suas regras. Gosto de ver um jogo na rua, tanto como quando também jogava nesses espaços.
O muda aos cinco e acaba aos dez. Não há tempo estipulado, o número de golos define o momento de mudar de campo. Duas pedras a fazerem de postes, a barra imaginária, o golo é discutido se a bola for mais alta, muda-se as equipas se o resultado estiver muito desnivelado, e outras normas que estabelecem uma competição entre crianças, sem exclusões, bem pelo contrário, inclusiva. Todos jogam, o mais habilidoso, o gordinho, o trinca-espinhas, o guarda-redes é volante, se sofre 2 golos muda...
Estas sim são as regras das crianças. O jogo é competitivo, não precisam de classificações, medalhas ou taças, porque no dia seguinte a escolha das equipas já é diferente. As crianças procuram a competição, e conseguem-na, sem se preocuparem com classificações. Isso é coisa de adultos. As regras promovem o equilíbrio, estabelecem esse mesmo equilíbrio entre as equipas como factor determinante para a qualidade do seu jogo.
Os adultos têm que aprender com as crianças a perceber que o sucesso da competição está no equilíbrio. Não é por haver classificação que se aumenta a competitividade, principalmente quando alguns promovem a concentração dos mais talentosos sempre na mesma equipa. Ganham sempre, mas não evoluem. Não têm competição, só vitórias. Alguns adultos gostam, até fomentam este comportamento, avaliam treinadores pela estatística, quando nunca perceberam o jogo das crianças, o futebol de rua. Isso mesmo, com as regras das crianças.