O futebol voltou igual...
O futebol português voltou igual. Nem melhor (como se chegou a ter esperanças no início da pandemia, quando todos estavam genuinamente preocupados com a possibilidade de a bola não rolar mais esta época), nem pior (como se chegou a temer mais lá para o fim, quando a retoma era já uma certeza e todos começaram a pensar, como sempre, no próprio umbigo). Não. O futebol português voltou na mesma. Sim, sei bem que há quem diga que, no campo, está pior. Lamento discordar. Porque, bem vistas as coisas, está na mesma. Afinal, sejamos sinceros: não é que antes da paragem provocada pelo Covid-19 assistíssemos a grandes espetáculos de futebol, pois não? Poderemos dizer, sim, que sem público nas bancadas se perde boa parte da emoção.
É verdade. Sempre soubemos que, a nível de espetáculo, um jogo de futebol sem adeptos ficaria mais pobre. Mas, analisando friamente, foi quase só isso que mudou. Ao nível do jogo não vislumbro grandes diferenças. Há equipas que voltaram piores, equipas que voltaram melhores e equipas que voltaram na mesma. Nada de anormal. As variações de forma, coletivas e individuais, acontecem durante épocas típicas e não seria de esperar que fosse diferente nesta tão atípica. Admitamos: a qualidade do futebol em Portugal era, na grande maioria das vezes, fraca. E continua a ser, com uma ou outra exceção, fraca. Nada de novo. Falar como se tudo tivesse mudado por causa dos três meses de paragem devido à pandemia é não querer encarar a realidade. E perder (como sempre fizemos) a oportunidade de encontrar a solução para um problema bem mais profundo...
TAMBÉM o jogo que se joga fora das quatro linhas voltou igual. Olhando para trás, talvez tenhamos sido demasiado ingénuos quando pensámos que, aí, o Covid-19 poderia trazer algum tipo de mudanças. Devíamos, se calhar, ter pensado que as coisas são assim há tantos anos que não seriam três meses, mesmo que dramáticos, a fazer a diferença. Fábio Martins, jogador do Famalicão, disse-o da melhor forma possível: «A maior doença em Portugal não é o Covid-19, chama-se clubite aguda e o pior é que esta não tem, nem nunca terá, uma cura. Não há comentários para o que um jogador de futebol tem de aturar. E por isso é que os que podem, saem daqui o mais rápido que conseguem. E bem!»
Falava, claro, dos inenarráveis ataques a Nuno Santos, jogador do Rio Ave que já passou pelo Benfica e acabou expulso na receção dos vila-condenses aos encarnados numa altura em que o jogo estava empatado 1-1 e em que a sua equipa estava já reduzida a dez - graças à expulsão de um jogador que, pelo que se sabe, não tem qualquer ligação às águias. Houve logo, claro, quem no faroeste que são as redes sociais, se atrevesse a dizer que tinha sido de propósito. Não seria grave se os que o fizeram fosse, apenas e só, idiotas. Mas alguns não são apenas idiotas.
São idiotas profissionais. Idiotas pagos para que clubes - em especial os grandes - atirem as pedras sem mostrar as mãos. Idiotas que não se importam de dizer, num minuto, que Nuno Santos foi injustamente expulso por um árbitro corrupto e, no seguinte, que Nuno Santos foi expulso de propósito porque alimenta o sonho de voltar ao Benfica. É ridículo. Mas quem recebe para escrever barbaridades não se importa de ser ridículo... E há-os, atenção, em todos os clubes, porque se hoje foi Nuno Santos há uns tempos foi Jackson Martínez, arrasado por ter falhado um penálti na visita do Portimonense ao Estádio do Dragão. O mal é, de facto, social. Mas é inenarrável que clubes se aproveitem da tal clubite aguda para - através de departamentos de comunicação que perdem horas a atacar adversários e árbitros ou que pagam a idiotas para que o façam por eles -alimentar um clima de ódio que só nos empobrece. A todos os níveis.