O futebol precisa de Sérgio?

OPINIÃO29.11.202205:30

António Sousa é dono de um valioso currículo que, no mínimo, impõe mais contenção na palavra ao treinador portista, seja em que circunstância for

O jornalista Paulo Montes assinou a crónica do FC Porto-Mafra, publicada em A BOLA, para a Taça da Liga, e escreveu com nitidez sobre o mesmo o jogo que eu vi. Primeira parte dos azuis e brancos para esquecer e apesar das ausências é difícil de explicar tamanha perda de qualidade na equipa de Sérgio Conceição, não se enxergando motivo para o despropósito da sua reação no final. Empatou com o Mafra, da Liga 2, e depois? Escândalo? Talvez, pela desconcentração generalizada da maioria dos jogadores portistas, os quais, depois de terem vencido este mesmo adversário por esclarecedor três-zero, em jogo da Taça de Portugal, terão admitido que, no Estádio do Dragão, seria tarefa fácil, para cumprir calendário.  
Enganaram-se, porém, e são os únicos culpados pelo engano. Desconsideraram o opositor e quando se deram conta da imprudência já tinham sofrido dois golos. Depois, foi correr atrás do prejuízo, como se costuma dizer, e o empate traduz com o mínimo de exatidão a história de um jogo que teve verdadeiramente duas partes: a primeira, em que o Mafra surpreendeu; a segunda, em que o FC Porto impôs a lei do mais forte, embora sem a clarividência necessária para alcançar o triunfo.  
É censurável a atitude do treinador portista ao procurar adulterar a origem do problema, que esteve no mau desempenho da sua equipa, sobretudo até ao intervalo, e não naquilo que ele considerou perdas de tempo constantes por parte do adversário. Outro erro de avaliação, muito parecido ao que cometera em Vila do Conde, a seguir à derrota com o Rio Ave. A causa da derrota, mais uma vez, não se deveu ao tempo útil jogado, uma teoria mal fundamentada e que Luís Freire, o treinador vila-condense, desmontou, na altura, com lúcida argumentação.
Na última sexta-feira, nem o Mafra escapou ao irritante mau feitio de Sérgio Conceição, com uma agravante: penso que ultrapassou os limites do admissível ao afirmar que Ricardo Sousa, o treinador da equipa mafrense, «não honrou o nome da família» e «não honrou o pai, nem o filho». Como? Poderá o leitor imaginar o que seria se tivesse sido em sentido contrário? Ricardo Sousa referir-se em semelhantes termos ao nome da família do treinador portista?
O pai de Ricardo Sousa chama-se António Sousa, foi campeão europeu pelo FC Porto, vencedor da Taça Intercontinental pelo FC Porto e vencedor da Supertaça Europeia também pelo FC Porto. Um valioso currículo que, no mínimo, impõe mais contenção na palavra a Sérgio Conceição, seja em que circunstância for. 
A resposta de Ricardo Sousa a tão inopinado destempero não tardou, como seria esperar. «Pai e filho, tenho muito orgulho em vocês e tenho muito orgulho no nome Sousa, o qual vou sempre honrar», escreveu, com o recurso às redes sociais.  
Creio que este caso fica encerrado, até ao próximo, ou até alguém explicar a Sérgio Conceição que um jogo é um jogo, ganha-se e perde-se no campo, apenas isso.

N INGUÉM gosta de perder, mas é preciso estar preparado para perder e o treinador portista já deu sobejos exemplos de não estar. Voltou a exceder-se e não pode continuar a desculpabilizar-se por considerar esse tipo de comportamento normal e definidor do caráter que tem e da pessoa que é, fomentadora de um clima de ódios, intolerável neste século e numa sociedade civilizada. Sérgio Conceição afirmou há bem pouco tempo que não precisa do futebol, e o futebol também não deve precisar dele. 


43 MIL NA LUZ 

O novo Benfica continua a fazer o seu percurso, ganhando, embora, como repetidamente tem sido dito, quer pelo presidente, quer pelo treinador, ainda nenhum título foi conquistado. Também não houve tempo…
A nação encarnada despertou e  acredita que o projeto de mudança chegou para ficar, como exemplarmente demonstram os mais de 43 mil assistentes ao jogo do último sábado, na Luz, diante do Penafiel, da Liga 2, e que coloca Roger Schmidt só atrás de Béla Guttmann na lista de treinadores com a melhor série sem perder desde o início da época (27 jogos).
Começou a ser percorrido o caminho para recuperar o estatuto de clube grande mundial, esquecido desde 1990, depois da última final dos Campeões Europeus em que participou.
Um passo de cada vez, com firmeza, mas a resposta de associados e adeptos aos jogos da sua equipa não deixa dúvidas sobre a grandeza do emblema da águia e da importância que representa para o aconchego das finanças dos todos os clubes por ele visitados. O Benfica-Penafiel teve mais espectadores do que a maioria dos jogos dos rivais na Champions. Sempre foi assim, continua a ser assim.