O futebol jovem e a marca Portugal

O futebol jovem e a marca Portugal

OPINIÃO15.07.202306:31

Esta seleção sub-19 representa a rutura com um passado de futebol entediante e, por isso, liberta todo o talento que possui

PORTUGAL discute amanhã, com a Itália, o título europeu de futebol, seleções sub-19. Em todas as finais é importante ganhar. Seja em que modalidade for, seja em que escalão etário for. Mais ainda uma final europeia. E, no entanto, ainda mais interessante do que um novo troféu internacional para a Casa do Futebol, é o significado que tem uma seleção do futebol de formação voltar a ser finalista num campeonato da Europa e demonstrar que Portugal continua a ser um país de vanguarda na formação de jogadores de futebol e, mais do que isso, de consistência na qualidade profissional dos seus treinadores.

Independentemente do resultado de amanhã, Portugal apresentou em Malta uma jovem seleção formada por jogadores que mostram um potencial que nos permite prever que muitos, ou alguns deles, cheguem à elite do futebol mundial. Jogadores que formam uma equipa de grande maturidade técnica e tática, que jogam um futebol moderno, jogado em todo o campo, capaz de ser muito competitiva quando tem bola e quando a não tem.

Não deixa de ser curioso verificar que esta seleção de sub-19 é uma expressão clara de rotura com um passado, que também teve, à época, as suas virtudes, mas que assentava num futebol de contenção, um futebol, por vezes, entediante, que procurava, antes de tudo o mais, o equilíbrio defensivo e, por isso, afetava não apenas o espetáculo, o que já não era pouco, mas, acima de tudo, a libertação de enormes talentos que, presos a sistemas inflexíveis, se tornavam quase vulgares.

Há, pois, um assinalável salto qualitativo nesta seleção sub-19. É verdade que pode estar a beneficiar de uma colheita “vintage” de jogadores, mas é impossível não reparar na dimensão coletiva da equipa, na sua maturidade, na sua intensidade competitiva.

Como já se disse, mesmo ao nível da formação, não é indiferente o resultado de uma final europeia. Ganhar tem de ser o principal objetivo, até porque representa um fator de justiça em relação aquela que já provou ser a melhor equipa do torneio. Mas o resultado, a este nível de indicação de futuros, não é mais valioso do que a afirmação do rigor e da competência do trabalho de formação no futebol português. Que se deve, obviamente, aos jogadores, à equipa técnica, à Federação Portuguesa de Futebol, mas, essencialmente, aos clubes nacionais, e, felizmente, já não apenas aos clubes chamados grandes, mas a todos os que apostam seriamente na formação e que, assim, conseguem explicar o milagre maior do futebol português, parceiro das melhores seleções do mundo e, por isso, equivalendo-se aos países de maior dimensão populacional, geográfica e, sobretudo, económica.

Não há outro setor de atividade em Portugal que possa afirmar esta  competitividade, ao nível dos melhores do mundo. Por isso, chega a ser quase criminoso que o país e o seu futebol não aproveite suficientemente este fenómeno para o tornar numa marca internacional verdadeiramente incomparável. Pensar que discussões dignas do Páteo das Cantigas, ultrapassadas no tempo e quase sempre ridículas, feitas de uma rivalidade bacoca e provinciana, ofuscam tantas virtudes e tão ricas competências é um dó de alma e um lamentável desperdício.

Amanhã, confesso, ficarei sentado em frente ao televisor, para ver a final da seleção sub-19. Não me move, acreditem, a expectativa de festejos de uma eventual vitória, mas, acima de tudo, a probabilidade de poder voltar a ver um  belo espetáculo, com magníficos intérpretes. Jovens que têm dado, de Portugal, uma imagem de qualidade e de modernidade.


DENTRO DA ÁREA
Vem aí um novo Estádio Nacional

O protocolo assinado na tribuna de Honra do Estádio Nacional, que une o governo, a Câmara de Oeiras e as federações de futebol, atletismo e râguebi com o objetivo de reabilitar o histórico recinto inaugurado a 10 de junho de 1944 é uma lufada de ar fresco que muda o sentido do habitual estado de conformismo nacional. Trata-se, para já, de lançar ideias para um projeto de modernização do Estádio, tal como já aconteceu, na Alemanha, com o antigo estádio olímpico de Berlim. Um desafio digno de um dos palcos mais emblemáticos do país.


FORA DA ÁREA 
A mediatização da nossa Polícia

Sou do tempo em que nas confusões de rua se ouvia alguém gritar: «Chamem a Polícia!» Mas os tempos mudaram e, agora, é a polícia que perante a oportunidade de ação grita: «Chamem as televisões!» E elas lá vão, disciplinadas, abnegadas, encarreiradas, fazerem o seu trabalho. Para não perderem o princípio da série policial, costumam ir cedo e ficar, pacientemente, à espera que cheguem os intérpretes da autoridade. Desfocam as caras e as matrículas oficiais e entrevistam o alegado prevaricador. À varanda, com vista para o ridículo.