O freguês que se segue: sai mais um treinador fresquinho!

OPINIÃO26.09.201904:00

Levámos um banho de bola na segunda parte do jogo contra o Famalicão, em Alvalade. Se me perguntarem se acho que o Famalicão joga muito, a minha resposta é não. Joga bastante bem para uma equipa que veio da Liga 2, mas não tem cabedal para ganhar ao Sporting em Alvalade, ou a outra equipa das consideradas grandes. Tem vontade, raça e querer… e isso não chega para ganhar.


Porém, a falta de vontade, raça e querer chegam para perder. E é exatamente, do meu modesto e leigo ponto de vista, o que tem faltado ao Sporting. Poderemos dizer vontade, raça e querer, como, até mais apropriadamente, diríamos Esforço, Dedicação e Devoção. A Glória seria o resultado.


Infelizmente, no Sporting - e no futebol, saliente-se, porque noutras modalidades não passamos estes tormentos - a única glória existente é a financeira. Dizia-se antes que uma instituição tinha ido à glória quando estava às portas da falência. Ora o Sporting, vítima de anos de megalomania, conseguiu atingir esse tipo de glória. Vendemos anéis, e já vendemos dedos. Andamos desmotivados, baralhados e deprimidos (pessoalmente decretei para mim próprio uma semana de depressão depois de ter visto em Alvalade o Famalicão a brincar ao futebol com o Sporting. Só faltava dizer olé). Falharam quatro golos cantados e se não saímos da nossa própria casa com uma goleada, foi porque não calhou. É triste, é muito triste para quem nasceu no Sporting e à saída ainda tem de ouvir recriminações dos sócios contra tudo e todos (até contra mim próprio que nada tenho a ver com os órgãos sociais do clube e nem sequer apoiei ninguém nas eleições).


Não vale a pena exigir a demissão de Frederico Varandas. Nem sequer há bases estatutárias ou regulamentares para o fazer. Pela milésima vez, tive de explicar a sócios que Bruno de Carvalho não foi expulso por maus resultados desportivos, económicos ou outros, mas sim por violar grosseiramente os estatutos, coisa de que esta Direção é inocente.


Mas valerá a pena mudar de treinador? Depois de José Peseiro, que, após bons resultados (empate a um na Luz), teve desaires com o SC Braga e  Portimonense, fora, e em casa com o Arsenal e, sobretudo, com o modesto Estoril, passámos a Tiago Fernandes. Este teve o melhor desempenho, mas só três jogos: ganhou ao Santa Clara nos Açores, foi a Londres empatar a zero com o Arsenal e ganhou em casa ao Chaves. Saiu, porque Frederico Varandas tinha um treinador-maravilha - Marcel Keizer. Pareceu, ao princípio. Sete goleadas - sete - do Lusitano de Vildemoinhos, passando pelo Qarabag (6-1, fora de casa) o Vorskla, o Rio Ave e o Nacional, até que empancou em Guimarães perdendo 1-0. Mais tarde, perdeu com o Tondela, mas ganhou ao Porto, a penáltis, a Taça da Liga. Depois, o Benfica foi ganhar 4-2 a Alvalade, e o Sporting voltou a empatar com o Tondela em casa (1-1), mas ganhou a Taça de Portugal, de novo a penáltis, ao Porto, depois de ter eliminado o Benfica. Não era brilhante, como se pensou ao princípio, mas enfim… não era mau. Reabriu a época oficial com uma humilhante derrota por 5-0 na Supertaça, contra o Benfica. Seguiu-se um empate a um golo no Funchal e a célebre derrota com o Rio Ave com três penáltis cometidos por Coates. Keizer ganhou guia de marcha e entrou Leonel Pontes. Não ganhou nenhum dos três jogos que comandou: empatou no Bessa, perdeu em Eindhoven (onde não se jogou assim tão mal) e teve a última desgraça em Alvalade, com o Famalicão (ver-se-á amanhã outra vez contra o Rio Ave, agora para a Taça da Liga). De quem foi a culpa?
O jogo do empurra, que é interminável no Sporting, já começou há muito tempo. Ouvem-se as conversas mais díspares, prometem-se boas surpresas e vaticinam-se desgraças. Não sei de nada, nem entro em conspirações. Prefiro esperar para ver.

Os responsáveis são responsáveis

A substituição de Vietto brada aos céus. O estádio levantou-se como uma mola. Pela primeira vez os sportinguistas estavam a perceber os 7,5 milhões que tinham pago. Mas será que a culpa é sobretudo de Leonel Pontes, agora que se esmifram por arranjar um treinador? Bas Dost saiu, Raphinha saiu, Bruno Fernandes estava castigado e Luiz Phellype lesionado… Durante os meses todos do defeso, até ao último dia, a equipa não sabia com o que - e com quem - contava. A direção do Sporting conduziu os assuntos como um motorista embriagado: aos esses.  Apanhou uns jogadores nos mercados de empréstimo que ainda não mostraram verdadeiro potencial. Jesé nada, ou quase; Bolasie um pouco mais, mas ainda pouco. Permitiu-se que um jogador, como Coates, depois de três penáltis cometidos e um golo na própria baliza entrasse, na passada segunda-feira, ao lado de Mathieu - jogador genial, mas cuja idade o limita. Sem ponta de lança improvisa-se.
Qual o mal do Sporting? Treinador? Direção? Dinheiro?


Desta trilogia sou capaz de apontar a segunda, para desgosto meu. Não tenho dúvidas de que muito desse mal advém da falta de dinheiro, mas há contínuas decisões que correm mal. E, se já disse que nunca exigirei a demissão de ninguém (salvo se, como no ano passado, os estatutos e regulamentos fossem constantemente violados), com toda a lealdade e saudações leoninas digo ao presidente: se achar que não é capaz de melhor do que tem feito, depois de nos prometer algo muito diferente; caso veja alguém capaz de melhor, desça do seu lugar. O Sporting não se compadece com vaidades. E, já agora, a história dos salários da SAD devia cair completamente. A crise profunda onde estamos (da qual, em abono da verdade, nunca saímos) precisa de uma liderança respeitada, não de um homem que está numa tribuna a ser vaiado por uma boa parte do estádio, alguns dos quais - posso testemunhá-lo - foram seus eleitores. No entanto, se o que lhe falta é ânimo, apoio e unidade, lute por ela. Não se feche com um pequeno grupo ou sozinho. Não pense que isto é paternalismo (apesar de ter idade para ser seu pai). É sportinguismo velho, antigo, do coração. Só lhe desejo bem, na medida em que o seu bem será o bem de todos.


Caro Frederico Varandas, o senhor era uma esperança enorme para a grande maioria dos sportinguistas; não se deixe transformar numa desilusão, em mais um. É certo que está num lugar dificílimo; nem percebo como é tão cobiçado. É certo que tem uma missão muito espinhosa, mas por isso mesmo estranho que o seu lema «#unir o Sporting» não tenha ido verdadeiramente para a frente. A ideia exige uma transparência e uma afetividade que verdadeiramente não existiram ainda. A ideia, sobretudo, não era ter cinco treinadores num ano; mas ter num ano a equipa refeita. Pode dizer que a culpa não é sua, mas os responsáveis são isso mesmo… responsáveis.


Boa sorte para o que ainda aí vem.