O experiente é ex-inexperiente
«Attack, attack, attack!»
Completou-se esta semana a primeira década sobre a morte de Sir Robert William Robson, universalmente conhecido e reconhecido apenas como Bobby Robson. A verdade é que não nasceu nobre nem teve berço de ouro. Deixou de estudar aos 15 anos e aos 18 iniciou a sua carreira de futebolista profissional, tendo chegado a internacional pela seleção inglesa. Em Portugal treinou o Sporting e o FC Porto. E, já agora, é bom recordar também que sem ele não haveria José Mourinho. Nem André Villas Boas.
Acima de tudo, duas foram as coisas que sempre admirei em Robson: o estilo permanentemente ofensivo do seu futebol e, talvez por ser filho de um mineiro, o talento quase único para saber separar as pedras preciosas de todo o cascalho que as oculta.
Diogo, Vlachodimos e o ovo
Quando há que escolher alguém para assumir alguma responsabilidade, qualquer que seja a natureza do cargo ou encargo em causa, só um critério é justo: o do mérito. Mas há sempre quem se sinta mais seguro com alguém que tenha mais experiência do que competência. Esquecendo dessa sorte que a experiência é precisamente a única coisa que só o tempo dá. Afinal, não há um só experiente que não seja um ex-inexperiente.
O futebol é, ao mesmo tempo, um viveiro de talentos em potência, um ninho de preconceitos sem cura e um cemitério de promessas por cumprir. Vejamos um exemplo singelo: o caso dos guarda-redes. Mais do que qualquer outra posição, esta é, supostamente, por antonomásia, aquela que se pretende como carecendo de mais experiência.
Tomemos então sob análise dois casos concretos: o dos guardiões do Benfica e do FC Porto. O primeiro, ainda jovem, fez uma primeira época excelente. Creio poder mesmo dizer-se que Odysseas foi uma verdadeira revelação. Isto é, alguém que saiu da casca. Porém, ao que parece, os responsáveis máximos do clube não lhe reconhecem um estatuto suficiente para o nível pretendido para a equipa. Certo é, ou pelo menos tal parece, que o guardião teutónico de nome helénico vai começar a época a titular. E assim deverá continuar até que um infortunado parceiro italiano, ou outro qualquer daquela longa lista também servida aos dragões, chegue à Luz (o Seixal não será bastante…).
Já o ainda mais jovem Costa, unanimemente proclamado como o melhor da sua geração e futuro senhor, por muitos anos, das redes nacionais, afigurava-se como o próximo titular da turma portista. Até que, nesta semana, duas coordenadas novas se interpuseram neste roteiro: uma lesão numa mão (anunciada como de simples e célere recuperação) e a contratação de um suplente da seleção argentina a jogar no México. Donde haver o sério risco de, se o jovem Diogo não for o titular no confronto com os russos do Krasnodar, a contar para a 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, nem sequer chegar a sair da casca do ovo.
Do osso à galinha
Por falar em ovo: Patrice Evra foi durante muitas épocas o lateral-esquerdo da seleção gaulesa, tendo representado durante a sua carreira emblemas como o Mónaco, a Juventus e o Manchester United. Quando estava ao serviço da equipa agora orientada por Leonardo Jardim sofreu uma lesão no pé. Conta o próprio: «No hospital disse ao treinador [Didier Deschamps] que não conseguia andar, quanto mais jogar. Mas a equipa precisava de mim e os médicos fizeram de tudo para que não sentisse dores. Nada funcionou. Depois alguém do clube sugeriu-me colocar um frango dentro das botas. Pareceu-me uma ideia maluca, mas já me conhecem. Aceitei a ideia e fui a um talho. O talhante perguntou-me o que queria e eu disse-lhe que queria um pequeno pedaço de frango para colocar nas botas. Ele riu-se.» Depois encomendou dois pares de botas novas: umas com o tamanho 42 e meio e outras 44. «Acabei por jogar com o frango nas botas durante quatro meses. Não o utilizava nos treinos, a minha mãe nunca me perdoaria se desperdiçasse comida. Antes de cada jogo dirigia-me ao talho e o funcionário perguntava-me: ‘Patrice, é o costume?’»
Profecias, Baró & Silva
SE estas linhas fossem dotadas de algum dote prospectivo, qual oráculo, há muito que teriam vaticinado, por exemplo, que Romário Baró e Fábio Silva são duas das pedras mais preciosas de uma vasta gama de jóias de alto quilate. Mas as coisas são como são. Se distintas fossem, bem que se poderia ter escrito aqui, digamos que na edição de 18 de Janeiro, o seguinte: «Na pretérita temporada tive oportunidade de convocar a atenção para um jogador em particular. Fi-lo após ter assistido à sua estreia, ainda com idade de júnior do primeiro ano, na equipa B do FC Porto. Depois disso, sempre que tenho a possibilidade de assistir a um jogo da equipa B, seja na Ledman LigaPro, na Premier League International Cup ou na Youth League, mais certo fico de que só algo de muito trágico, ou algum fenómeno bizarro, poderá evitar a sua admissão no mais restrito e exclusivo dos clubes: aquele que é composto unicamente pelos astros maiores. E é precisamente por acreditar nisso que anseio pelo seu próximo debute na principal formação dos portistas. Tenho a certeza absoluta de que Sérgio Conceição não se arrependeria, tanto mais que nenhum dos médios do plantel conjuga de modo tão assertivo predicados como a progressão em velocidade, o passe a longa distância, a fantasia ambulante e o remate fulminante. É certo que lhe falta alguma envergadura física - mas isso é o mais fácil de conseguir por quem ainda nem completou 19 anos. Recorde-se que é tão possível fazer crescer o corpo de um atleta com talento como é impossível infundir talento num cepo calmeirão. Concluindo: Romário Baró deverá, em condições normais, ser o próximo titular provindo das escolas, depois de Rúben Neves e André Silva. (…). Em seu dia já falarei de alguém ainda mais jovem (16 anos) mas também de superlativo talento: um avançado letal de nome Fábio Silva.»