O dragão que não olha a meios

OPINIÃO12.08.201900:57

É a primeira jornada. Há o cansaço do encontro a meio da semana e da viagem longa. Há um adversário incómodo a aproveitar o embalo do regresso por via administrativa, o apoio dos adeptos famintos e a sagacidade de um dos treinadores mais experientes. Percebe-se a má forma de alguns dos elementos mais importantes e não faltam reforços por integrar. Há tudo isso e o que não há mesmo é drama. É um alerta, vou encará-lo como sintoma.


Admito que este texto venha a parecer-se com a rábula do «é proibido, mas pode fazer-se» que retratou (escrevi caricaturou antes, mas emendei) Marcelo Rebelo de Sousa, porque o FC Porto foi superior e teve oportunidades que num dia normal seriam suficientes, mas a verdade é que os dragões estiveram muitas vezes menos agressivos nos duelos e longe de ser imperiais no último terço, mostraram-se alérgicos à pressão contrária, e não conseguiram estancar transições. Isto no aspeto defensivo, que costuma ser sólido e inegociável.


No ataque reside parte do problema. É verdade que já deu frutos, construído com ex-emprestados, mas a conjuntura não é igual. O processo tem-se verticalizado cada vez mais, o que nem seria mau de todo se estivéssemos a falar de passes entre linhas e não de chutões para a frente, muitos transplantados por Pepe da Seleção para o FC Porto. O efeito surpresa desapareceu, Marega ainda não reagiu à crise energética e parece de depósito na reserva, e onde antes havia confiança a camuflar deficiências técnicas hoje surgem mais dúvidas.


Pode até ser Uribe, mas enquanto não houver quem una todas as pontas soltas - no fundo o papel de Herrera, que compensava alguma falta de rasgo com competência quase mecânica -, o FC Porto pode passar por dificuldades. Para já, a ideia que dá é que o dragão está obcecado pelo fim, o golo,  sem olhar a meios.