O dia seguinte
Sátira política. Histórias de o Senhor Kraus neste intervalo. O Chefe e os seus Auxiliares. .......As eleições terminaram. Agora vêm os resultados. Há um novo vencedor.
O dia seguinte às eleições (1)
- Então, ganhou?!
- Sim, ganhei.
- Então, é portanto... Chefe.
- A partir deste momento, exactamente: Chefe. E você é...?
- Seu apoiante desde o início.
- Desde o início...?
- Sim, o Chefe começou quando?
- Comecei a quê?
- A ser. Portanto... Isto é: desde que o Chefe é, eu, desde que sou, isto é desde que existo sou seu apoiante. Em suma, é isto. Desde pequeno.
- Eu sou mais velho do que o senhor...
- Ligeiramente, muito ligeiramente.
- Pelo menos vinte anos.
- Vinte anos, Chefe, quem diria?! Quanto calça?
- E você que faz aqui?!
- Eu estou encarregue de eliminar as redundâncias.
- Muito bem.
- Por exemplo, se existissem dois Chefes eu deveria eliminar um. Pertence às minhas funções. Tenho até um punhal...
- Ainda bem que não houve empate.
- Foi uma sorte! Mas olhe que, por vezes até quando só há um Chefe...
- E trabalha sozinho?
- Oh, Chefe, sabe que sozinho ninguém gosta de trabalhar. Na verdade, trabalho em conjunto com um outro funcionário que procura deixar as coisas sempre muito bem explicadas.
- Óptimo.
- Do trabalho conjunto resulta um equilibro entre o pouco o muito. O demasiado explicado e o pouco explicado. Não sei se o Chefe está a perceber...?
- Estou, e parece-me sensato.
- O nosso método de trabalho é o seguinte: o meu colega avança primeiro (é sempre assim, é o nosso método) e explica a mais, depois surjo eu e digo: era desnecessário o meu colega ter explicado isto e isto e isto. Tal e tal e tal foi a mais. No final o nosso interlocutor fica esclarecido e sem informação redundante. Eis o resultado.
- Muito bem.
- Como é que o Chefe se chama mesmo?
O dia seguinte às eleições (2)
- Peço desculpa por perguntar de novo, mas o Chefe, que eu apoio desde o início, chama-se mesmo..., portanto... o seu nome?
- O meu?
- Sim, o Chefe. Como é mesmo o seu nome?
- Trate-me por Chefe, apenas.
- Com C?
- Sim.
- É o mesmo nome do Chefe anterior.
- Com C?
- Sim, com C.
- Somos todos do mesmo país. Daí talvez a coincidência.
- Daí o C.
- Exactamente.
- Na minha opinião é bem pensado. Evita o engano nos nomes.
- É uma das vantagens.
- No entanto, há a questão do C pequeno ou do C grande. Chefe com C grande, temos um, a partir de ontem: vossa excelência. Chefes com c pequeno, temos um por cada dez metros quadrados.
- Isso é muito.
- Só este pavilhão tem trezentos metros quadrados, portanto o Chefe, com C grande, faça as contas a quantos chefes, com c pequeno, nós temos.
- Se por cada dez metros quadrados temos um chefe com c pequeno em trezentos metros quadrados temos....
- Temos...?
- Trinta chefes com c pequeno!
- Exactamente, trinta. Não é um número disparatado?
- Não: trezentos a dividir por dez: trinta. De que disparate é que fala?
- Falava do conceito que está por trás, não das contas. Veja que até eu, que obedeço a quase todos, sou chefe, com c pequeno, de dois ou três desgraçados. Só o último da lista é que não é Chefe.
- Parece-me justo.