O dia seguinte

OPINIÃO12.07.202004:00

Sátira política. Histórias de o Senhor Kraus neste intervalo. O Chefe e os seus Auxiliares. .......As eleições terminaram. Agora vêm os resultados. Há um novo vencedor.

O dia seguinte às eleições (1)

- Então, ganhou?!

- Sim, ganhei.

- Então, é portanto... Chefe.

- A partir deste momento, exactamente: Chefe. E você é...?

- Seu apoiante desde o início.

- Desde o início...?

- Sim, o Chefe começou quando?

- Comecei a quê?

- A ser. Portanto... Isto é: desde que o Chefe é, eu, desde que sou, isto é desde que existo sou seu apoiante. Em suma, é isto. Desde pequeno.

- Eu sou mais velho do que o senhor...

- Ligeiramente, muito ligeiramente.

- Pelo menos vinte anos.

- Vinte anos, Chefe, quem diria?! Quanto calça?

- E você que faz aqui?!

- Eu estou encarregue de eliminar as redundâncias.

- Muito bem.

- Por exemplo, se existissem dois Chefes eu deveria eliminar um. Pertence às minhas funções. Tenho até um punhal...

- Ainda bem que não houve empate.

- Foi uma sorte! Mas olhe que, por vezes até quando só há um Chefe...

- E trabalha sozinho?

- Oh, Chefe, sabe que sozinho ninguém gosta de trabalhar. Na verdade, trabalho em conjunto com um outro funcionário que procura deixar as coisas sempre muito bem explicadas.

- Óptimo.

- Do trabalho conjunto resulta um equilibro entre o pouco o muito. O demasiado explicado e o pouco explicado. Não sei se o Chefe está a perceber...?

- Estou, e parece-me sensato.

- O nosso método de trabalho é o seguinte: o meu colega avança primeiro (é sempre assim, é o nosso método) e explica a mais, depois surjo eu e digo: era desnecessário o meu colega ter explicado isto e isto e isto. Tal e tal e tal foi a mais. No final o nosso interlocutor fica esclarecido e sem informação redundante. Eis o resultado.

- Muito bem.

- Como é que o Chefe se chama mesmo?

O dia seguinte às eleições (2)

- Peço desculpa por perguntar de novo, mas o Chefe, que eu apoio desde o início, chama-se mesmo..., portanto... o seu nome?

- O meu?

- Sim, o Chefe. Como é mesmo o seu nome?

- Trate-me por Chefe, apenas.

- Com C?

- Sim.

- É o mesmo nome do Chefe anterior.

- Com C?

- Sim, com C.

- Somos todos do mesmo país. Daí talvez a coincidência.

- Daí o C.

- Exactamente.

- Na minha opinião é bem pensado. Evita o engano nos nomes.

- É uma das vantagens.

- No entanto, há a questão do C pequeno ou do C grande. Chefe com C grande, temos um, a partir de ontem: vossa excelência. Chefes com c pequeno, temos um por cada dez metros quadrados.

- Isso é muito.

- Só este pavilhão tem trezentos metros quadrados, portanto o Chefe, com C grande, faça as contas a quantos chefes, com c pequeno, nós temos.

- Se por cada dez metros quadrados temos um chefe com c pequeno em trezentos metros quadrados temos....

- Temos...?

- Trinta chefes com c pequeno!

- Exactamente, trinta. Não é um número disparatado?

- Não: trezentos a dividir por dez: trinta. De que disparate é que fala?

- Falava do conceito que está por trás, não das contas. Veja que até eu, que obedeço a quase todos, sou chefe, com c pequeno, de dois ou três desgraçados. Só o último da lista é que não é Chefe.

- Parece-me justo.