O choque bilionário
Duelo ‘árabe’ de 6 mil milhões entre o PSG de Tamin Al-Thani, emir do Catar, e o City de Mansour bin Zayed, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos…
LOGO, temos a Champions dos milhões no sentido literal do termo: Paris Saint-Germain contra Manchester City no Parque dos Príncipes. Ou, se preferirem, o duelo bilionário entre a Qatar Sports Investments (QSI) do Sheik Tamin Bin Hamad Al-Thani, emir do Catar, e o Abu Dhabi United Group do Sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, membro da família real do Abu Dhabi e primeiro-ministro dos Emiratos Árabes Unidos (o seu irmão é presidente dos EAU). Dois potentados árabes que, em conjunto, já gastaram mais de 3 mil milhões de euros em jogadores (City: 2.040; PSG: 1.268) num investimento sem paralelo na história do futebol que distorceu, completamente, as regras do mercado em vigor para os clubes normais, quer dizer, os que não são propriedades de estados - Arsène Wenger, treinador do Arsenal, foi o primeiro a queixar-se dessa perversidade que a UEFA tem consentido de forma mais ou menos cúmplice.
Lembre-se que o Man. City foi comprado ao antigo primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra pelo Sheik Mansour bin Zayed em 2008, num negócio de 240 milhões. Desde então, o generoso primeiro-ministro dos EAU gastou 2,040 mil milhões em jogadores (de Robinho e Vincent Kompany em setembro de 2008 a Rúben Dias e Ferran Torres no verão de 2020), mais 230 milhões no formidável Ethiad Campus, onde funciona a academia do City. Os resultados são conhecidos. O City é hoje a potência dominante do futebol inglês e uma referência forte no futebol europeu. No último domingo, em Wembley, o City ganhou a sua quinta Taça da Liga (quarta consecutiva) na era árabe, a que se devem acrescentar quatro campeonatos (o quinto está a caminho), duas taças de Inglaterra e duas supertaças. Catorze (quase quinze) conquistas em treze épocas, mas… nenhuma Champions na sala de troféus. Foi para quebrar esse enguiço, comum ao PSG, que Pep Guardiola foi contratado há quase cinco anos. Hoje tem mais uma hipótese de tentar chegar lá. Precisamente contra o primo do Catar que quer exatamente a mesma coisa.
O PSG foi comprado pelo emir do Catar em 2011. Mais de mil milhões depois (1,268), o clube de Paris é hegemónico em termos domésticos (26 títulos e quatro superplenos em dez épocas!) mas continua a falhar o objetivo supremo: a Champions. Por esta ou por aquela razão, o PSG tem passado sempre ao lado (no ano passado por um bocadinho assim) da glória vivida pelo Olympique Marselha na final de Munique em 1993. Pelo Parc têm desfilado futebolistas de dimensão mundial como Ibrahimovic, Thiago Silva, David Beckham, Cavani, Di María, Daniel Alves, Marquinhos, Keylor, Buffon, Icardi, Neymar e Mbappé, e treinadores competentes como Carlo Ancelotti, Laurent Blanc, Unai Emery, Thomas Tuchel e Mauricio Pocchetino, mas a verdade é que a orelhuda continua a escapar-se-lhes, época após época, apesar dos incontáveis milhões investidos nesse desígnio. Há razões, no entanto, para acreditar que o enguiço está prestes a ser quebrado. O PSG esteve, de facto, muito perto de ser campeão europeu na final do ano passado (derrota mínima com o Bayern em Lisboa com Mbappé fisicamente muito condicionado e Neymar a falhar o que não costuma falhar…) e, pela maneira como liquidou, sucessivamente, Barcelona e Bayern na edição deste ano, percebe-se que a equipa está completamente focada neste objetivo - para felicidade do pequeno Lille que, capitaneado por José Fonte, lidera o championnat a quatro jornadas do fim.
O City será mais equipa: o seu futebol é mais consistente, trabalhado e harmonioso; mas o PSG tem armas inexistentes no City: dois jogadores fenomenais capazes de, sozinhos, virarem um jogo do avesso, à finta, ao sprint, ou à bomba - falamos de Neymar e Mbappé, obviamente - e um extremo argentino com magia na bota esquerda e toneladas de experiência nesta competição: Angel Di María. Há cinco anos (6 e 12 de abril de 2016), PSG e Man. City defrontaram-se pela primeira vez, nos quartos-de-final da Champions. Passou o City (2-2 em Paris, com Zlatan a falhar um penálti; 1-0 em Manchester, com golo de De Bruyne e Aguero a falhar um penálti) e desse duelo sobrevivem apenas cinco jogadores: Di María e Marquinhos (PSG), De Bruyne, Aguero e Fernandinho. Veremos se é desta que Guardiola chega a uma final da Champions sem Messi, Xavi e Iniesta. Ou se é Pocchetino a bisar - foi ele quem levou o Tottenham à final de 2019...
A CLASSIFICAÇÃO NÃO MENTE
JORNADA emocionante com cenas lamentáveis em Braga (troca de insultos entre braguistas e sportinguistas na tribuna e no túnel) e em Moreira de Cónegos, onde Sérgio Conceição (19.ª expulsão) e outros elementos do staff portista descarregaram em cima de Hugo Miguel toda a fúria dos dois pontos perdidos e dos penáltis não assinalados (um que toda a gente viu, mais dois de TV que o VAR tinha obrigação de não deixar passar…). E ainda se viu um sujeito próximo do FCP agredir um repórter da TVI mesmo à frente de Pinto da Costa, com aquele misto de desfaçatez, arrogância e convicção de impunidade trazido dos anos oitenta. Tudo muito triste, muito pequeno, muito troglodita.
Seria realmente bom que o campeonato se decidisse onde deve ser decidido, sem decisões/omissões estranhas nos gabinetes do VAR e do Conselho de Disciplina. Mais ponto, menos ponto, mais expulsão menos expulsão, mais suspensão, menos suspensão, mais penálti, menos penálti, a verdade é que a classificação espelha fielmente o desempenho das equipas no campeonato. O Sporting é líder invicto há 24 jornadas e olha para a meta há muito tempo. O FC Porto vem atrás (6 pontos) e olha para o Sporting… há muito tempo. O Benfica vem mais atrás (10 pontos) e olha para o FC Porto… desde que conseguiu ultrapassar o Braga que, mais atrás ainda (15 pontos), olha para os três grandes desde a 24.ª jornada…