O campeonato FM
A medida foi apenas implementada num país (Inglaterra) e durante dois anos (2018 e 2019): encerrar o mercado de transferências no dia anterior ao início do respetivo campeonato. É o que faz sentido, mas admite-se que num ano atípico como este, com férias mais curtas, os ideais dessem lugar ao realismo e tudo voltasse à mesma, com a janela de compras e vendas a fechar, como de costume, já com as ligas nacionais a decorrer. Em 2020, mesmo com um decréscimo global de investimento fruto da queda de receitas, continuará o Campeonato FM (fecho do mercado), que é realmente quando as equipas deixam assentar a poeira, chamando à terra muitos jogadores que tinham a cabeça noutras galáxias e deixando aos treinadores a tarefa de organizar, de uma vez por todas, os seus plantéis, com entradas de última hora ou contratações falhadas que os obrigam a pôr em prática planos B, C ou D, como acontecerá com Jorge Jesus, Sérgio Conceição e Rúben Amorim.
DE falta de investimento não se poderá queixar Jorge Jesus: verbas houve para reforços. Quase €100 milhões (valor impensável há um par de anos), colocando as águias no sexto lugar dos clubes que mais investiram na Europa neste verão. Ponto prévio: com tanto dinheiro gasto (mais que muitos clubes da Champions), e pelo discurso ambicioso estival, tudo o que for menos de uma meia-final da Liga Europa será considerado um fracasso.
Apesar de tantos milhões, há duas posições mais fragilizadas: lateral-direito e o n.º 8. André Almeida cumpre a nível interno, mas é curto para a exigência europeia; Gilberto não está a convencer e ameaça ser nova experiência falhada a exemplo de Douglas, Ebuehi, Corchia, Pedro Pereira; há ainda Diogo Gonçalves, que Jorge Jesus está a preparar para o lugar: potencial não lhe falta. Seja para uma tática de 4 defesas ou para falso lateral numa linha de cinco à frente de três defesas (mais que um exercício retórico, é uma hipótese já levantada pelo treinador). Quanto ao 8, há três candidatos que não enchem as medidas do técnico: Pizzi, Taarabt e Chiquinho são bons com bola mas falham na transição defensiva, aspeto em que as equipas de Jesus são muito fortes - o que não está a acontecer, tal como o restante efeito-choque de 2009.
Se o centro da defesa está muito bem preenchido (Otamendi-Vertonghen seria dupla titular em qualquer equipa europeia e Todibo como segunda linha é um luxo), tal como as alas (Everton acima de todos), há dúvidas quanto à produtividade no ataque, principalmente no que toca a Darwin: está a destacar-se pelas assistências mas ainda não pelos golos - por €24 milhões não lhe basta ser passador. Seferovic vai disfarçando.
O FC Porto gastou menos de um terço do que o rival mas continua com um plantel muito competitivo para nível interno (a frente de ataque talvez até seja melhor que a da época passada, incluindo neste rol Felipe Anderson), resta saber que resposta dará na Champions, prova à qual regressa. Não espanta que Sérgio Conceição quisesse mais um médio após a saída de Danilo: Uribe e Sérgio Oliveira como primeiras opções em lugares-chave talvez seja pouco. Já a saída de Alex Telles alimenta a dúvida: Zaidu/Manafá para seguir o carril de lateral ofensivo ou maior conservadorismo com Malang Sarr, sólido a defender mas sem os cruzamentos-colher do reforço do Man. United?
GASTANDO ainda menos, o Sporting apresenta-se só para consumo interno com forças e fraquezas. Um lateral-esquerdo que será craque (Nuno Mendes), um lateral-direito (Porro) que é um upgrade relativamente a Ristovski e Rosier, núcleo de centrais que não oferece muita segurança, meio-campo com muita gente de valor (o setor mais forte da equipa) diversidade nos avançados que jogam pelo exterior (verticalidade de Jovane e do verde Tiago Tomás, criatividade de Vietto e Tabata) e pontas de lança que não dão garantias - Sporar é um caso de inadaptação às ideias de Rúben Amorim. A ideia de falsos 9 é interessante, mas não chega...