O Braga já é grande!
Carlos Carvalhal talvez seja a solução que António Salvador procura para consolidar o que está feito e iniciar a subida ao patamar superior
A NTÓNIO Salvador, neste ano em que se assinala o centenário do Sporting Clube de Braga, não recebeu o prémio que mais desejava e por que tanto luta, o título de campeão nacional, mas fica com a certeza de ter valido a pena a coragem, o sacrifício e a ousadia. A força de acreditar que sempre lhe deu ânimo é a prova irrefutável de que o caminho é este: desafiar o futuro e recusar a ideia de ver o seu clube eternamente castrado na ambição, tal como o encontrou no distante ano de 2003, atolado nos mesmos problemas dos que habitam nos lugares do fundo da classificação.
A conquista da Taça de Portugal, a segunda em três finais no seu consulado, não é, pois, uma recompensa de menor significado. Pelo contrário, é um sinal de vitalidade, mais um, diria, que talvez desperte, definitivamente, a cidade e a região para um projeto enorme e que tem no seu mais representativo clube o principal veículo promocional no estrangeiro, com presença regular da Liga Europa e participação na Liga dos Campeões em duas ocasiões.
Salvador foi segundo classificado no Campeonato de 2010, ganhou a Taça da Liga, em 2013, e venceu a Taça de Portugal, em 2016. Anteontem, voltou a erguer este troféu, dois dias depois de ter sido reeleito para novo mandato, até 2025.
C ARLOS Carvalhal é uma pessoa da terra, ligada sentimentalmente ao clube , mas, como se dá mais importância aos de fora do que aos da casa, a sua opção foi de risco elevado, embora marcada pelo sucesso, tal como já havia sucedido na passagem pelo Rio Ave.
Defeito ou virtude, a verdade é que uma das características mais discutidas de António Salvador tem a ver com a sua perspicácia na seleção de treinadores, mas também com severa intolerância quando os resultados ficam aquém de metas estabelecidas, de aí o corrupio nas entradas e saídas suscitado pelo frenesim de um presidente que é diferente.
Confesso a minha admiração por Carvalhal. Vejo nele um exemplo de treinador de futuro: conhecedor, competente, educado e que do futebol revela uma perspetiva moderna e abrangente, sem fronteiras nem biombos, por detrás dos quais ainda alguma gente esconde limitações ou disfarça conceitos desajustados aos tempos de hoje.
Talvez seja a solução que António Salvador procura para consolidar o que está feito e iniciar a subida ao patamar superior. Com o SC Braga estabilizado no topo da classificação, na antecâmara dos grandes e frequentador habitual das provas da UEFA, significa que o mais difícil foi conseguido, como muito bem sintetizou o seu treinador: «Eliminámos o Benfica para chegar à Taça da Liga e eliminámos o FC Porto para chegar a esta final, além de uma boa Liga Europa e de um bom Campeonato.»
O SC Braga é grande contra os grandes, mas, curiosamente, como escreveu Vítor Serpa, em editorial, na edição de ontem de A BOLA, falta-lhe ser também grande quando joga contra adversários médios e pequenos. Tão simples e ao mesmo tempo tão complexo, a requerer serenidade para uma reflexão necessária.
António Salvador é arguto na escolhas dos seus treinadores — Rúben Amorim é o campeão nacional e Carlos Carvalhal vencedor da Taça de Portugal, só para referir os casos mais recentes —, mas será altura de rever a estratégia e segurar, ou tentar, pelo menos, os mais capazes, no sentido de acentuar o processo de crescimento e dar o passo que falta, enfrentando o último terço em défice que Carvalhal identificou.
NA presente temporada, Benfica e SC Braga defrontaram-se quatro vezes, com uma vitória dos encarnados e três dos bracarenses.
Nos dois jogos que terminaram onze contra onze, o SC Braga foi mais forte na 7.ª jornada da Liga (3-2), em que deu um banho de bola na Luz, chegando a estar em vantagem por três golos, com exibição de encantar, e triunfou na meia-final da Taça da Liga (2-1).
Nos dois jogos em que houve expulsões (Fransérgio e Helton Leite), o Benfica ganhou (2-0), na 24.ª jornada da Liga, e o SC Braga venceu por idêntico resultado na final da Taça, realizada anteontem.
Não sei se foi mais duvidoso o segundo amarelo mostrado a Fransérgio ou se o vermelho exibido a Helton Leite, mas sei que o treinador do Benfica, além de ignorar o significado da palavra coerência, não esteve à altura da grandeza e do prestígio do emblema que ricamente lhe paga: não pelo que fez ou devia ter feito, mas pelo que disse e pela imagem que deu.
Afirmou não estar habituado «a sair a perder». É uma forma de falar, sem pesar as palavras. No Benfica, em sete anos, ganhou três Campeonatos e uma Taça de Portugal, as provas que contam para a UEFA. No Sporting, em três épocas, nada consta. Ou seja, em dez anos, não me parece que seja currículo extraordinário.
Nota final — As oposições, nas suas versões académica e tasqueira, estão a servir-se de Jorge Jesus para atacar o presidente do Benfica, confundindo alhos e bugalhos. Luís Filipe Vieira pôs-se a jeito, é certo, mas convém não abusar. No mínimo, respeitar o trabalho e a obra, o que era o emblema da águia quando ele chegou e o que é hoje. Se há alternativa séria, responsável e disponível para dar um novo rumo ao voo da águia, chegue-se à frente.