O Benfica merece ser campeão

OPINIÃO14.05.201901:14

Se o Benfica alcançar o objetivo que corajosamente persegue, o 37.º título de campeão nacional, deve ter a consciência plena que o conseguirá por mérito absoluto, sem uma pontinha de favor, sobretudo desde a sua vitória no Dragão.
Na verdade, por razões que enxergo mal, a partir de determinada altura quase todos os opositores que se lhe depararam deram a ideia de estarem a cumprir o jogo mais importante das vidas deles e sentiu-se essa motivação reforçada, não pelas dificuldades que criaram aos encarnados, porque é legítimo querer ganhar aos melhores, mas, principalmente, pelas reações sucedâneas que oscilaram entre o elegante e o sensato e a exaltação e a relice, assim, em jeito de um retrato simples para enquadrar as diversas participações dos restantes atores.
O jogo de Vila do Conde correspondeu apenas à última viagem  de uma sequência de oito que o Benfica teve de fazer durante a segunda volta do campeonato e todas de elevado grau de complexidade. A tal ponto que vozes experimentadas no comentário e sábias opiniões na área do treino ou de antigos praticantes não anteviram animador futuro à empreitada que Bruno Lage aceitou levar por diante.
De facto, havia  imensos e justificados motivos para explicar tamanho volume de reticências, em função de um calendário adverso que obrigou a águia a exibições categóricas nos palcos mais problemáticos, por esta ordem: 18.ª, jornada, Guimarães (1-0), 20.ª, Alvalade (4-2), 22.ª, Aves (3-0), 24.ª, Dragão (2-1), 26.ª, Moreira de Cónegos (4-0), 28.ª, Feira (4-1), 31.ª, Braga (4-1) e, 33.ª,  Vila do Conde (3-2).
Em oito jogos realizados fora na segunda volta, o Benfica obteve oito vitórias e marcou 25 golos que correspondem a uma média superior a três golos por jogo. Notável.
O resto é falatório para enganar o tempo e alimentar cenários alternativos que outro fim não têm  se não o de encher de pecados a casa do vizinho para desviar as atenções do que se passa dentro da nossa própria casa. É um hábito enraizado, muito tuga…
Ainda sobre o jogo de Vila do Conde quero dizer que o Rio Ave teve um desempenho coletivo de grande qualidade e com uma riqueza individual muito interessante, em contraposição a uma equipa do Benfica que acusou como nunca os efeitos  da pressão  encaniçada (lá está a confusão entre rivalidades e ódios, como alertou Abel Ferreira) com que a têm  massacrado, por força das circunstâncias, algumas naturais, outras… especiais, nada fáceis de descodificar.
Em relação ao lance que agitou as almas (sim, porque as almas agitam-se em todas as jornadas)  trago à colação três notas:  
1 - Fez-se uma barulheira por causa de uma situação de jogo (Florentino/Gabrielzinho) que, por exemplo, na Liga dos Campeões ou  na Premier League é lida e interpretada de outra forma para  respeitar a importância do contacto, enquanto por cá continua a gerar  gritaria durante toda a semana, em claro prejuízo dos clubes que nos representam na UEFA, onde aí sim, verdadeiramente, carregam o peso da diferença.
2 - O golo de João Félix, segundo os peritos, foi apontado em posição irregular que a intervenção do guarda redes vila-condense não dilui.
3 - No resto, assistiu-se a um «grande jogo de futebol de parte a parte, uma partida digna em que jogámos para ganhar» (Daniel Ramos) ou a «jogo de doidos com muitos golos e com bons momentos das duas equipas» (Bruno Lage).
No essencial,  é esta imagem que importa realçar, sendo certo que, numa prova de longa duração, o primeiro a cortar a linha de meta é o melhor e, apesar da desbragada campanha antiBenfica que já vai em segunda época de frenética atividade, em matéria de merecimento desportivo os resultados são esclarecedores.
Já o escrevi umas três vezes,  mas escrevo outra vez,  por ser  a única conclusão séria que pode extrair-se: quem chega à penúltima jornada com mais 27 golos marcados do que o segundo e 28 do que o terceiro, quem no confronto direto com o outro candidato a campeão regista duas vitórias (seis pontos contra zero) e quem no conjunto de oito jogos como visitante na segunda volta é cem por cento vitorioso, além de merecer  ser campeão, é  porque também é mais forte. Mas para ter o proveito falta-lhe conquistar um ponto.
Não adivinho o que acontecerá  na derradeira ronda, a não ser que, como era previsível,  vai ser conhecido o campeão.  Enquanto o  Benfica recebe o competente Santa Clara, no Dragão há o clássico FC Porto-Sporting, espécie da aquecimento para a final da Taça de Portugal. Esperemos, pois, serenamente, pelo menos.