O Benfica está com Vieira
Luís Filipe Vieira recebeu a confiança de esmagadora maioria dos associados na última assembleia eleitoral do Benfica, que surpreendeu pela fantástica participação de votantes. Foram mais de 38 mil, os quais não só transmitiram uma imagem de impressionante grandeza do emblema da águia como expressaram o seu reconhecimento ao presidente reeleito pelo elogiável trabalho realizado e pelo amor e dedicação que tem colocado na obra edificada, dotando o clube de condições necessárias e suficientes para superar os desafios que o futuro lhe colocar.
Dizem que os adeptos não ligam a essas coisas porque só querem títulos, nada mais. Talvez sim, mas esta massiva afluência às urnas, refletida em filas longas e demoradas, até de madrugada, com uma abrangência nunca vista, que abraçou todo o território nacional, com Açores e Madeira incluídos, e recolheu também votos na Europa, em África, na América do Norte, na Ásia, na América do Sul e na Oceânia, além de traduzir a grandeza do clube e a sua dimensão universal, mostrou à saciedade que valores profundos se impuseram no momento de cada qual definir a sua opção.
No essencial, a família benfiquista não se iludiu por promessas vãs de quem surgiu das sombras e mal se conhecia, embora tivesse o respaldo de uma máquina organizada ao nível da propaganda e da venda do produto.
Em A BOLA TV chamei-lhe uma lista peneirenta, à de Noronha Lopes, pelos nomes selecionados para o acompanharem e pela estratégia idealizada que logo associei a um descarado oportunismo de quem queria alcançar o poder, atraído pela estabilidade da águia, pelas contas controladas, pelas infraestruturas de excelência e pelo fortalecimento do plantel, entre outros fatores convidativos .
Ainda não entendi, porém, se Noronha Lopes foi o autor do projeto ou se foi apenas o ingrediente que faltava para temperar a preceito o prato cozinhado por terceiros. Só me espanta que, sendo ele um gestor de notável currículo e imensa experiência, tivesse aceitado ser o patrono de uma campanha errante, carregada de mensagens dúbias e juras de amor, daquelas que se fazem para atrair votos e sem a preocupação de cumpri-las.
Pessoalmente, senti, e sinto, curiosidade em saber o nome do eminente diretor desportivo que iria coordenar o futebol, desde as criancinhas até ao plantel principal, sem nunca se especificar qual o modelo de intervenção e o enquadramento estrutural desse misterioso personagem. Se seria ele quem iria corporizar as alterações defendidas por Noronha Lopes, é no mínimo intrigante que o tivesse mantido em segredo, sem admitir que, em face da infinda competência que lhe atribuiu, poderia ser o trunfo que faltava para convencer o eleitorado e inverter a tendência de voto a seu favor.
Sinceramente, creio que não o fez por não ter nome algum com os atributos anunciados, ou pensando ter descoberto nas entranhas da terra uma figura com tais predicados, apesar disso, não pareceu verdadeiramente convencido de que a sua revelação pública algum voto mais lhe desse. Assim, apenas terá de responsabilizar-se pelas contas da campanha, seja quem for que tiver de pagá-las.
As eleições revelaram, inequivocamente, que a família benfiquista é grata e continua ao lado de Luís Filipe Vieira, apesar de algumas análises capciosas sobre o significado da margem de votos recolhida por Noronha Lopes, sem se darem ao cuidado de avaliarem a extensão da franja dos que votaram nele e coincidentemente lhe reconheceram o perfil adequado para ser alternativa ao presidente reeleito e assumir o comando dos destinos do emblema de águia nos próximos quatro anos. Trago este tema à colação por ser minha convicção que, de entre os 34,71 por cento de votos na Lista B, a maior parte fê-lo como protesto contra Vieira, pesando nesta escolha, como principal motivo de decisão, o desagrado pela desaceleração na política de investimento no futebol profissional, de que resultou a perda de dois campeonatos nacionais para o FC Porto nos últimos três anos.
O candidato Noronha Lopes foi trazido pelos ventos da indignação e motivado por grupos de adeptos organizados que viram nesta eleição a tal oportunidade para chegarem ao poder. Ele próprio terá consciência de que não disse nem fez o suficiente para justificar tanto e, tal como chegou, depressa se afastou. Se for sua vontade ser um dia presidente do Benfica, sugere a sensatez que se mantenha ativo na vida do clube e que em seguintes candidaturas reveja a estratégia, talvez mais à portuguesa, no convívio fraterno com o sócio comum, e menos à americana, no lodo das redes sociais.
Luís Filipe Viera ganhou em toda a linha, como li em A BOLA na sua edição da passada sexta-feira. Recolheu mais votos em todas as categorias de associados, dos mais jovens aos mais velhos, dos que representam um único voto aos que valem 50. Foi uma vitória da gratidão e uma manifestação de repúdio pelo desprezível comportamento dos novos juízes que condenam nos tribunais de rua e se julgam donos das nossas vidas.