O Benfica 'desconfinou'
1 O Benfica voltou às vitórias. Depois das derrotas face a Santa Clara e Marítimo o Benfica, sob o comando interino de Nélson Verissimo, regressou e fez sorrir um vazio Estádio da Luz após um largo e bem doloroso período em que não conquistava , na sua atrativa casa, os três pontos. Ontem Gabriel e Chiquinho mereciam os aplausos calorosos das bancadas. Ontem em certos momentos, e face a um Boavista que nunca desistiu, o Benfica regressou aos seus bons momentos. Ontem o Benfica mostrou a sua qualidade e a vontade dos seus jogadores, evidenciou a importância de Jardel na retoma defensiva e, ainda, um sentido coletivo que importa realçar. Ontem o Benfica consolidou, acredito, o segundo lugar, sem prejuízo de poder continuar a sonhar com percalços do Futebol Clube do Porto . Diria que se a retoma tivesse começado mais cedo as hipóteses seriam bem mais efetivas. O que importa é que o Benfica desconfinou. Já era tempo para esta retoma!
2 Vivemos, inovadoramente, uma jornada do futebol português ao longo de um fim de semana. Deste fim de semana. Faltam vinte dias para o final desta Liga tão singular quanto inédita. E se ontem jogou o Benfica, hoje joga o Futebol Clube do Porto e, amanhã, joga o Sporting. É o regresso dos dias normais do futebol doméstico. Mas, depois desta jornada, tudo regressará à nova normalidade! Com três notas especiais. A primeira, e singular, é que há alguns treinadores despedidos. Benfica, Braga e Setúbal, face aos resultados, deram guia de marcha aos seus treinadores. E, aqui, uma palavra de imenso respeito e muita consideração ao Bruno Lage. E com Vítor Oliveira a saber que já tem substituto em Barcelos, num Gil Vicente que tem de lhe ficar grato. Depois com a consciência de que a luta pela Europa será uma luta renhida e, acredito até á derradeira jornada. Basta olharmos para os jogos das últimas jornadas para nos apercebermos que as decisões quanto ao acesso às competições europeias vão chegar aos instantes finais desta Liga. Como, aliás, e sem prejuízo das ponderações do TAD quanto aos processos pendentes, as decisões quanto às descidas à Segunda Liga. Portimonense, Tondela (com calendário complexo), Vitória de Setúbal, Belenenses e Paços de Ferreira e, até, Gil Vicente sabem que têm de fazer pontos. Uns bem mais do que outros mas com a consciência de que, também aqui, tudo se pode decidir nos momentos finais. E esse será sempre o instante da dor ou do prazer. Com a certeza que a dor e o prazer se medem em termos de receitas televisivas e com a certeza que a diferença entre ficar na Liga NOS ou descer para a Segunda Liga é, entre nós, e ao contrário do que acontece em Ligas em que há centralização de direitos televisivos, uma diferença de um para dez. Quem ficar na Liga NOS ganha, em regra, dez vezes mais. É obra, diria é muito dinheiro. Determinante nestes tempos bem complexos e que se agudizarão a partir do último trimestre do corrente ano. O que sabemos é que a jornada 31 arrancará, já, na próxima quarta-feira no Bessa e terminará na Cidade do futebol com o Belenenses a receber, nesta sua casa emprestada, o Moreirense no sábado dia 11. Um dia depois da eleição, e da imediata posse, dos novos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Futebol - e, logo, da renovação da liderança de Fernando Gomes - e num dia emblemático para o futebol português já que nesse mesmo dia, e há quatro anos, Portugal conquistava o Europeu de Futebol. Não esqueço aqueles momentos por mim vividos no Estádio de França. As traças e o permanente sofrimento, a lesão de Cristiano Ronaldo e o orgulho sem limites dos franceses, a fé de Fernando Santos e o pontapé do Éder, a festa imensa na tribuna, nas bancadas e no relvado e, depois, aquele regresso em que se combinou, ainda ali em Paris, o abraço efusivo ao emigrante em euforia com uma viagem de regresso em que se repetia o passe do João Moutinho para o Éder, a angústia do banco nos momentos finais de um jogo que fica para e na história do futebol português. E com a nota que, devido a esta pandemia, continuamos a ser os campeões da Europa, o que significa que somos, na história do futebol europeu, os mais longos campeões da Europa. Seremos campeões por cinco anos !
3 Permitam uma reflexão pessoal. O Benfica é uma instituição centenária. Com largos momentos gloriosos e instantes dolorosos. Com milhares de homens e mulheres que o ajudaram a crescer, que resistiram a diferentes tempestades, que agradeceram, nas urnas, a quem, de forma notável, o fez renascer e o reafirmou no todo do desporto português, e, em particular, no futebol português. E, aqui, a saudação, devida e legítima, a Luís Filipe Vieira, e, também, e pelo momento inicial, a Manuel Vilarinho e, por razões bem conhecidas, a Mário Dias, o arquiteto da nova Luz! Nos últimos dias sinto, digo parece-me, que o Benfica está dependente de Jorge Jesus, um treinador conquistador e bem sagaz. A sua claque bem organizada, e o coro que a acompanha - o que é bem legítimo , diga-se, neste tempo de lobbies - dão-nos nota do que ,alegadamente, «ele pensa», do «ele disse-me», de uma «fonte bem próxima contou-me» e… «eu acredito nela»! Peço desculpa mas o futuro do Benfica não pode estar dependente deste excitante subjetivismo! Sei bem que o mundo do futebol começa a estar cheio de alguns ditos donos, que há comentadores que acreditam que podem ajudar a eleger presidentes e que, alguns outros bem criativos, se julgam com capacidade para condicionar o futuro bem próximo deste Benfica. Por mim acredito que, de forma partilhada, o Benfica, tal como ontem rescindiu com Bruno Lage - um treinador vencedor e de uma simplicidade que incomoda - tem que, no limite até aos primeiros dias de agosto, escolher a sua liderança técnica. Até lá, e por razões legítimas de concorrência, de proximidade, até de intimidade e, ainda, de audiências, estarei disponível para escutar a claque, sentir a réplica do coro, perceber os sinais que são enviados, entender os porta-vozes autorizados e, até, sugestivamente, e na minha, confesso-o, simplicidade analítica, assumir que há janelas para novas oportunidades - até de novas sugestões - que importa fazer brotar e, logo, sugestionar. Mas, em gesto final de tolerante reflexão, estes dias quentes de julho bem poderiam ser utilizados - e a utilidade é uma realidade preciosa nos dias de hoje! - para uma fria ponderação acerca do Benfica, do seu futebol conquistador e liderante, nas próximas épocas desportivas. E logo neste momento ainda de pandemia , que condiciona parte da zona norte de Lisboa, e que antecipa a efetiva reformulação das competições europeias de clubes e, também, a entrada direta de dois clubes português na fase de grupos da Liga dos Campeões! E, aqui, é bem precisa a claque e o coro! Fazendo tocar, no devido momento próprio, os sinos que refletirão uma imensa e intensa alegria!