O Benfica de Bruno Lage
O Benfica lidera o campeonato com 39 pontos (ou 26, se as vitórias valessem ainda dois pontos) com o melhor ataque e a melhor defesa. Apenas não ganhou um jogo, quando perdeu, na Luz, com o FC Porto (0-2). Só três equipas na história do Benfica tinham mais pontos à jornada 14. Uma por década: 1960/1961 (27 pontos com Guttmann), 1972/1973 (28 com Hagan) e 1983/1984 (27 com Eriksson). Visto por este prisma, o Benfica de Bruno Lage está a ter o quarto melhor arranque de sempre. Alargando a perspetiva ao rendimento de FC Porto e Sporting, continua a sê-lo, pois nunca leões e dragões chegaram a esta jornada com 39 (ou 26) pontos. Fabuloso.
Podemos alargar ainda mais o nosso campo de visão. O Benfica de Bruno Lage leva 33 jogos entre 2018/2019 (últimos 19) e 2019/2020 (primeiros 14). Ganhou 31, empatou um e perdeu outro. Soma, pois, 94 pontos. Repetimos: 94 pontos. As melhores pontuações a 34 jornadas são as do Benfica em 1990/1991 e do FC Porto em 1994/1995 (ambos com 91 pontos, atribuindo três por vitória). O Benfica de Lage tem mais três pontos e menos um jogo. Ou seja, nunca uma equipa, numa só época a 34 ou 38 jornadas, fez o que este Benfica está a fazer. Ainda mais fabuloso.
ABRAMOS, ainda mais, esta análise. E em 33 jornadas divididas, por exemplo, em duas ou mais épocas, houve alguma equipa a fazer algo parecido? Sim. O Benfica de Hagan fez melhor: 45 jogos entre as jornadas 9 de 1971/1972 e a 23 de 1972/1973 com nada menos de 43 vitórias, um empate e uma derrota. E o FC Porto de Jesualdo e Villas Boas: 36 jogos entre as jornadas 23 de 2009/2010 e a 28 de 2010/2011 com nada menos de 24 vitórias e dois empates. O Benfica de Lage continua, assim, a ser fabuloso.
FAÇAMOS, agora, um pequeno enquadramento. O Benfica de Hagan tinha jogadores como José Henrique, Bento, Artur Correia, Humberto Coelho, Messias, Rui Rodrigues, Vítor Martins, Toni, Shéu, Jaime Graça, Simões, Artur Jorge, Eusébio, Jordão, Nené e Vítor Baptista. O FC Porto de Jesualdo e Villas Boas tinha jogadores como Helton, Beto, Bruno Alves, Otamendi, Fucile, Álvaro Pereira, João Moutinho, Fernando, Guarín, James Rodríguez, Raul Meireles, Cristian Rodriguez, Falcao, Hulk, Varela e Farías. Hagan chegou às meias-finais da Taça dos Campeões Europeus (eliminado pelo Ajax por 0-1 e 0-0). Jesualdo atingiu os oitavos de final da Champions (eliminado pelo Arsenal com 2-1 e 0-5) e Villas Boas venceu a Liga Europa (1-0 ao SC Braga). A diferença de qualidade, sobretudo em profundidade, entre o Benfica de Hagan, o FC Porto de Jesualdo Ferreira/André Villas Boas e o Benfica de Bruno Lage parece abismal. Quantos jogadores de Lage entrariam nos dois onzes de que temos falado? Nenhum no Benfica de Hagan, talvez Pizzi e Grimaldo no de Jesualdo/Villas Boas.
PASSEMOS à tese. Qual a razão por que o atual Benfica está a ser esmagador internamente e (para já) muito discreto na Europa. Pela qualidade do plantel. Insuficiente (para já) para chegar longe na UEFA, mas mais do que suficiente para marcar a diferença para 17 dos 18 adversários na liga. O que nos leva à segunda tese. Mesmo com quatro equipas nos dezasseis avos de final da Liga Europa, o nível do campeonato português está a baixar cada vez mais. Só assim faz sentido que à 14.ª jornada haja 15 pontos (pelo menos) entre primeiro e quarto. É a maior diferença dos últimos 36 anos. E, para termos uma incoerência nesta tese, o grande SC Braga europeu (segunda equipa mais pontuada na fase de grupos da Liga Europa) está a 21 pontos do Benfica: 21!!!