Números e factos
ONTEM tive o prazer de me deslocar à Maia para participar num painel composto, em exclusivo, por árbitros (Artur Soares Dias e Tiago Martins) e dirigentes de arbitragem (Paulo Costa e João Ferreira). A sessão decorreu no âmbito do XIV Congresso Internacional, superiormente organizado pelo ISMAI. O tema proposto não podia ser mais atual: videoárbitro.
O anfiteatro estava composto e contou com rostos familiares, como Ricardo Chéu, Domingos Paciência, Nuno Campos, José Costa, Jaime Pacheco, José Gomes, entre outros. Ingredientes suficientes para uma conversa saudável e profícua sobre o impacto da tecnologia no futebol.
Independentemente daquela que será, nesta matéria, a opinião de cada um, foram ali divulgados um conjunto de dados - inequívocos e objetivos - que importa aqui recuperar:
1. Esta época, 306 partidas da Liga NOS tiveram videoárbitro;
2. Daí resultaram 1869 lances passíveis de escrutínio;
3. Esses referiram-se às seguintes áreas de intervenção protocolar: 914 situações de golo (todos são obrigatoriamente revistos), 457 de vermelho direto, 488 de pontapés de penálti e 10 de troca de identidade disciplinar;
4. Das tais 1869 situações monitorizadas, apenas em 100 foi recomendada a alteração da decisão inicial (ou, no mínimo, que fosse revista junto ao relvado);
5. Dessas, 76 foram efetivamente revertidas. Nas outras 24, os árbitros optaram por não acatar a recomendação do colega.
6. Ao todo, os árbitros escolheram visionar, junto ao relvado, 68 lances, tendo aceitado de imediato a indicação nos restantes 32.
7. Por último, referir que os VAR analisaram, em média, 6 lances por jogo. No entanto, apenas uma decisão, a cada três partidas, foi alvo de revisão (e corrigidas, apenas uma em cada quatro). Nesses casos, o tempo médio de interrupção foi inferior a um minuto.
Os árbitros portugueses contaram, esta época, com o apoio de um assessor externo (David Elleray, o criador deste projeto). Fizeram 7 treinos (em relvado) e tiveram 169 horas de formação técnica específica (em sala).
Cada um lerá o que entender sobre estes números. Da minha parte, eles são a afirmação clara que, pelo menos em cerca de oitenta situações, a verdade desportiva foi salvaguardada. Nessas (partindo do princípio que bem avaliadas) a justiça fez-se através da preciosa ajuda das imagens.
Não deixa, no entanto, de ser também verdade que há um longo caminho a percorrer. No meio de muitos acertos, houve lapsos desculpáveis (de pura interpretação) e outros inadmissíveis. Daqueles óbvios, claros e evidentes para toda a gente. O desafio aí é perceber o que falhou.
A qualidade das imagens ou da comunicação? Falta de timing na intervenção? Falta de sensibilidade para focar no essencial? Precipitação? Houve negligência involuntária? Inibição em corrigir colegas? Falta de coragem? Incompetência?
O que quer que seja tem seguramente solução. E é para isso que serve o defeso, porque para o ano já não estaremos em fase de testes.