Novak Federer da Silva Girão

OPINIÃO15.07.201901:47

O relógio assinalava 4 horas e 57 minutos de jogo quando Novak Djokovic, eufórico, se acocorou no court de Wimbledon e mordiscou pedacinhos daquela relva sagrada. Terminara a mais longa final da história do torneio inglês e, ao bater o suíço Roger Federer, o tenista sérvio vencia em Wimbledon pela 5.ª vez: 2011, 2014, 2015, 2018 e 2019. Onze anos antes, em 2008, Nadal batera Federer após 4 horas e 48 minutos de jogo. Que recorde!

NESTES 297 minutos pode fazer-se muita coisa. Assistir a duas maratonas de altíssimo nível seguidas, por exemplo: Berlim-2017 e Berlim-2018, nas quais o enorme Eliud Kipchoge gastou 2.03.32 e 2.01.32 horas. E ainda sobravam uns minutinhos para observarmos quase metade da maratona feminina. Podíamos ver também duas finais de Campeonatos do Mundo de futebol: 2014 e 2018, por exemplo. Com Alemanha e França a baterem Argentina e Croácia. Veríamos Neuer, Ozil, Kroos, Gotze ou Varane, Pogba, Griezmann e Mbappé. E ainda Messi e Modric. Nada mau.

NOS mesmos 297 minutos, assistiríamos a todas as finais olímpicas que o espantoso Michael Phelps ganhou na carreira: 6 em Atenas-2004, 8 em Pequim-2008, 4 em Londres-2012 e 5 no Rio de Janeiro-2016. E, como ainda faltaria esgotar muito tempo, poderíamos ainda deitar um olhinho às melhores provas de Mark Spitz, Shane Gould, Ian Thorpe ou Katie Ledecky. Ou assistir a seis dos sete jogos das finals da NBA.

ENQUANTO isso, Djokovic e Federer continuariam, em Wimbledon-2019, a dar pancadas numa bola de ténis. Pancadas, claro, é uma força de expressão. Por vezes pancadas, outras suaves toques, quase carícias: sexo e amor ao mesmo tempo. Djokovic atacava mais, Federer defendia melhor. O sérvio ganharia, após prolongamento e penáltis, o seu 16.º Grand Slam: 7 na Austrália, 5 em Inglaterra, 3 nos Estados Unidos e 1 em França. Federer venceu 20, Nadal arrecadou 18. Ou seja, estamos na presença dos três mais vitoriosos tenistas da história. Borg, por exemplo, ganhou apenas 11. E o excêntrico McEnroe apenas 7.

TER possibilidade de ver Federer, Nadal e Djokovic juntos é como ver, por exemplo, Messi, Ronaldo e Cruyff numa mesma época. Ou Pelé, Matthaus e Ronaldinho Gaúcho. Ou Eusébio, Figo e Ronaldo. Ou ainda Fernando Adrião, António Livramento, Vítor Hugo e Tó Neves. E lá atrás Ângelo Girão. Apenas ele. Não era preciso mais.