Novak e Lewis ao desafio
Afinal de Wimbledon do domingo passado foi considerada logo na segunda feira «a melhor da história» por três grandes jornais como a Gazetta dello Sport, o L’Équipe e o Daily Telegraph e fez primeiras páginas integrais aqui ao lado no As e na Marca. Compreensivelmente. A grandeza reconhece-se, admira-se e aplaude-se. Ao fim de cinco horas de um combate excecional - com Federer a contribuir mais para a qualidade do épico e a perder de forma bastante inglória - Novak Djokovic confirmou aquilo que se sabe há muito: é o melhor tenista da atualidade e o mais vitorioso da década.
Desde que ganhou galões de grande em 2011 - ano em que ganhou tudo menos Roland Garros - Nole (32 anos) não mais deixou de ganhar mais do que os outros. Desde então acumula 15 triunfos em Grand Slams e 4 no Masters, contra 9 Grand Slams (e nenhum Masters) de Nadal, 33 anos; e 4 Grand Slams e um Masters de Federer, que tem quase 38 anos. É um Novak hegemónico que vai continuar a ganhar porque é uma fera de competição completíssima dotada de invulgar inteligência tática. Digamos que estando fisicamente bem, robocop Djokovic é virtualmente imbatível e favorito claro em três dos quatro majors (Austrália, Wimbledon e US Open); enquanto Nadal só é verdadeiramente melhor que os outros na terra batida e no seu torneio fetiche, Roland Garros, onde ganhou 12 dos 18 Grand Slams da carreira. Montanha de músculos, fibra, raiva e energia, Rafa é um atleta colossal - nunca se rende e bate-se como um toiro contra os adversários e as lesões que o atormentam -, mas creio que a história se encarregará de o colocar no lugar devido no seio dos três tenores. Admiro o nervo e o cavalheirismo exemplar de Rafa, mas creio que não estarei a ser injusto se disser que é o menos completo e o menos brilhante dos três; sendo Roger Federer o expoente máximo em talento, virtuosismo e classe; e estando o mal amado Novak Djokovic destinado a esfrangalhar o recorde (20 Grand Slams) de Federer e a ficar lá por cima muitos e bons anos. Uma sorte podermos admirar estas três lendas ao mesmo tempo.
Hamilton …
e Schumacher
Outro desporto que ainda me fascina é a F1. Cheguei a acompanhar o circuito no tempo de Michael Schumacher e assisti a vários Grandes Prémios em circuitos lendários. É claro que sou um simples curioso - craque no assunto é o meu amigo José Caetano, excelente jornalista e parceiro de charla n’ A BOLA TV -, não tenho capacidade para discutir motores, cilindros, turbo compressores, chassis, aerofólios, spoilers, pneus e outras minudências tecnológicas. Mas gosto do mundo dos pilotos de carne e osso - das mãos que guiam aqueles bólides. Li bastante sobre Fangio, Clark e o extraordinário (e malogrado) Alberto Ascari; vi Prost, vi Senna, vi Piquet, vi Mansell, vi Schumacher e pensava, depois deste último, que já não haveria de ver igual ou melhor. Mas quando olho para a condução, a pinta e o palmarés deste aranhiço britânico chamado Lewis Hamilton ponho novamente as certezas absolutas em banho maria. Um pouco como Federer e Djokovic. Jamais pensei que Roger pudesse vir a ser igualado ou ultrapassado neste tempo. Ora acontece que o pentacampeão mundial Hamilton (a caminho do hexa) ganhou no domingo da final de Wimbledon o seu 80.º Grande Prémio em casa (Silverstone). Eu pensava que Schumacher era virtualmente inultrapassável do alto dos seus 7 títulos Mundiais e 91 GP. Agora apetece-me apostar com o José Caetano e com o nosso bom José Manuel Freitas dentro de quanto tempo é que Lewis o vai ultrapassar.
PS - Há muitos anos, no circuito de Magny Cours, em França, tive o prazer de partilhar mesa (alargada) com três famosos do espetáculo, fãs da F1: o cineasta Claude Lelouch e a sua mulher, a belíssima actriz Alessandra Martines, e o cantor e também ator (e profissional de póquer) Patrick Bruel. A conversa girava em torno daquilo que eles achavam que devia fazer a diferença no circuito e já não fazia - o talento de cada piloto, mais do que a capacidade tecnológica e financeira de cada escuderia -, mas a tirada que mais gostei de ouvir e que me fez recuar à abençoada infância foi a do barulho - o barulho dos bólides. «Eu topo a pinta do piloto na recta da meta: se põe o motor a chiar como uma vespa é cá dos meus», disse um dos artistas, fã da Ferrari. Foi o Óscar de melhor efeito sonoro que ouvi sobre a F1.