No onze da eternidade
Os dois monstros do futebol contemporâneo - Cristiano e Messi - foram escolhidos para a melhor equipa da história em votação promovida pela revista France Football (FF), uma das publicações de referência do futebol europeu. Isto acontece poucos dias depois de a FIFA anunciar que Cristiano e Messi fazem parte do trio finalista do prémio The Best, ao lado do favorito Robert Lewandowski (que, lembre-se, ganhou o prémio UEFA Player of the Year à frente de Kevin de Bruyne e Manuel Neuer). No primeiro caso, nenhuma surpresa. A FF limitou-se a fazer justiça a Cristiano e Messi que são (já), muito provavelmente, os dois futebolistas mais marcantes da história. Ficam lindamente num onze que é um verdadeiro luxo (embora desequilibrado, dada a preponderância de jogadores ofensivos).
Lembremo-lo: Lev Yashin; Cafu, Franz Beckenbauer e Paolo Maldini; Lothar Matthaus, Xavi Hernández, Pelé e Maradona; Messi, Ronaldo Nazário e Cristiano Ronaldo. Três brasileiros, dois alemães, dois argentinos, um português, um espanhol, um italiano e um soviético numa equipa para a eternidade. Deste onze só não vi jogar o guarda-redes Yashin e o verdadeiro Pelé (apanhei-o na parte final da carreira, no Cosmos) e só vejo um eleito capaz de suscitar reticências: Cafu. Equipas resultantes de votações são o que são - subjetivas - e prestam-se a discussões. Mas é uma perda de tempo contestá-las. Mais vale exaltar a excelência dos que foram escolhidos, sem deixar de lembrar outros com capacidade para lá figurarem. Assim, fulgurantemente, ocorre-me Johan Cruyff. E depois, mais suavemente, lembro-me de Zidane, Di Stefano, Eusébio, Puskas, Zico, Marco van Basten, Garrincha, George Best, Platini, Ronaldinho Gaúcho, Falcão, Roberto Carlos, Kenny Dalglish, Figo, Iniesta, Baresi, Tostão… e por aí fora. Não podem caber todos e há que optar, claro. O encanto do futebol também passa por isso: há sempre um potencial selecionador na cabeça de cada adepto.
Relativamente ao prémio The Best/FIFA, cujo vencedor será anunciado amanhã; apesar de tudo (e este tudo não é pouco…), que surpresa ver Cristiano e Messi no trio de finalistas num ano em que, com toda a franqueza, havia gente com mais e melhores argumentos para discutir o prémio com Lewandowski. É a velha questão que ensombra (e relativiza) estes prémios: qual é o critério, se é que há algum…? O que conta mais? Os golos marcados, os títulos conquistados, a influência no jogo da equipa, o brilhantismo individual, o mediatismo?... Repare-se que Messi está a viver o pior ano da carreira (ganhou zero títulos e saiu da Champions com um humilhante 2-8 no estádio da Luz…) e chega a meio de dezembro com 26 golos marcados contra os 50 de 2019. Ronaldo sempre ganhou o scudetto e vai com 42 golos, mas não passou dos oitavos de final da prova de referência - a Champions. No geral, para os padrões dele, não é um ano famoso. E no entanto lá estão os dois ao lado de Lewandowski. Julgo que Thiago Alcântara, Manuel Neuer e Joshua Kimich (todos do Bayern), Neymar e Mbappé (PSG), Mo Salah e Alexander-Arnold (Liverpool) e Kevin de Bruyne (City) foram todos injustiçados pelos votantes do prémio FIFA.
PS - No meu onze de sempre, o génio holandês Johan Cruyff será sempre titular (duplo génio, aliás: foi-o como jogador e como treinador!). Relativamente ao onze da FF, punha-o em vez de Ronaldo Nazário.