Ninguém como ele

OPINIÃO22.07.202003:00

Ronaldo está a fazer um estupendo campeonato de Itália. Por muito que se goste de Dybala, é ele quem arrasta e empolga os companheiros e faz a diferença quando é preciso. Esqueçamos por um momento o detalhe de a Juventus ir ganhar o nono scudetto consecutivo e concentremo-nos na idade de Ronaldo (35 anos); na espessura e compacidade das defesas italianas, treinadas para neutralizar jogadores como Ronaldo; e no facto de ninguém jogar para ele na Juventus… como jogavam os jogadores do Manchester United e, mais tarde, do Real Madrid. Os 30 golos de CR7 em 30 jogos exatos na série A (fez golos em 23 jogos) dizem tudo sobre o caráter deste atleta excecional, que parece decidido a bater todos os recordes possíveis e impossíveis no futebol de alta competição. Percebe-se a vontade que Ronaldo tem de ser o melhor marcador da liga italiana (lidera a classificação, empatado com Ciro Immobile): conquistando o troféu de goleador-mor, ele torna-se o primeiro futebolista da história a fazer o triplo tri nas três ligas mais importantes do Mundo (Inglaterra, Espanha e Itália): campeão, melhor jogador e melhor marcador. O que muita gente não percebe é a fome de títulos e recordes que Ronaldo continua a mostrar aos 35 anos, como se fosse um miúdo que nada ganhou e tivesse tudo a provar… e não um futebolista com um currículo soberbo em todas as equipas - quatro - que representou.
A Juventus acelera para o título e a imprensa turinense sugere um esforço extra para ajudar Ronaldo a bater o laziale Ciro Immobile e completar o fabuloso pleno supracitado - e, quem sabe, empochar de passagem uma quinta Bota de Ouro europeia - Robert Lewandowski (Bayern) está à distância de quatro golos. Como os portugueses, os ingleses e os espanhóis, também os adeptos italianos acabam por se render à vontade de superação de CR7.
Outra coisa. Quantos futebolistas de 35 anos marcaram 50 golos numa época jogando numa liga big five? Não me ocorre nenhum. Mas Ronaldo está a caminho dessa improvável proeza. Anotem: com o bis de segunda-feira à Lazio (2-1) num jogo que pode ter sido decisivo para a atribuição do título, Ronaldo atingiu os 45 golos (34 com a Juventus; 11 pela Seleção) e tem pelo menos mais cinco jogos (quatro no campeonato italiano, mais o Lyon na Champions) para chegar à meia centena pela nona vez na carreira.
O outro futebolista português que carrega equipas às costas chama-se Bruno Fernandes. Como Ronaldo, é um líder nato: chegou a Inglaterra em finais de janeiro e, num clube tão difícil como o Manchester United, impôs-se num ai - ao fim de três ou quatro jogos já detinha algum ascendente sobre os colegas. Hoje, o médio português (25 golos na época!) é o boss indiscutível do Man. United e o homem que indiscutivelmente transformou uma equipa de futebol errático e descontinuado num sério candidato aos lugares da Champions e à vitória na Liga Europa. O United tem tudo para terminar no 4.º lugar da Premier: se vencer mais logo o West Ham em Old Trafford, chega ao top four e basta-lhe empatar em Leicester na última jornada para assegurar a qualificação. Se isso acontecer, quem negará a importância de Bruno Fernandes na qualificação para a Champions? É que, quando ele chegou, o Manchester United era 7.º na tabela, a seis pontos do quarto lugar, e jogava pouco, poucochinho…