Nem tudo é uma questão de dinheiro
Em relação ao fecho de mercado uma conclusão objetiva: Sporting e FC Porto baixaram o valor do plantel; o Benfica, pelo contrário, ficou mais rico
FECHOU o mercado de transferências. Um alívio para a esmagadora maioria dos treinadores. Por todo lado se fazem conjeturas e projetam-se análises em função dos novos planteis. Em Portugal, por exemplo, no que diz respeito aos eternos candidatos ao título, há, pelo menos, uma convicção: Sporting e FC Porto diminuíram claramente o valor somado dos seus jogadores e têm pior plantel; já o Benfica conseguiu uma realidade inversa. É maior e mais valiosa a soma de qualidade individual dos seus jogadores e, por isso, é maior e francamente legítima a expectativa dos seus adeptos.
Pode justificar-se esse facto objetivo pela simples e clara diferença de ter ou de não ter dinheiro para satisfazer as preferências dos treinadores? Por exemplo, no FC Porto, Sérgio Conceição não esconde que a eterna repetição da exigência do milagre da multiplicação dos sucessos tem um limite e a sua deceção é notória, perante a ausência de soluções capazes de lhe permitir disfarçar a saída, nos últimos anos, de jogadores como Mbemba, Sérgio Oliveira, Vitinha, Fábio Vieira, Corona, Luis Díaz e até Francisco Conceição.
Quanto a Rúben Amorim, a sua personalidade é diferente e oferece, para o mundo exterior, uma imagem de grande controlo emocional que, não raras vezes, se pode traduzir erradamente por conformismo. Não. Rúben não é um treinador conformado com as limitações que lhe foram impostas por uma política empresarial que não considerou, neste momento da vida do Sporting, a questão desportiva como prioritária e achou que tinha de começar por arrumar definitivamente a área financeira e a organização da empresa que dirige a atividade do futebol profissional. Foi uma escolha racional, admite-se, mas perigosa, porque obriga o treinador a trabalhar com uma equipa sem os créditos que já teve, trocando jogadores de elite europeia por jogadores da classe média nacional. No entanto, tal como já provou em muitas outras situações, Rúben é um daqueles treinadores que tem uma filosofia de lealdade institucional que o faz aceitar um realismo pragmático e assim tentar fazer o melhor possível com a matéria prima que lhe dão. Não promete uma obra de arte, mas também acho que os próprios sportinguistas estão apreensivos com a política desportiva do clube e sabem que não podem exigir o impossível.
Schmidt feliz com o que Rui Costa lhe deu
Questão interessante é a de pensar a razão destas anunciadas diferenças. Por exemplo, o FC Porto não deu a Sérgio um médio criativo, como ele pedia, porque não tinha dinheiro, porque não planeou a tempo, como era seu hábito, a substituição de jogadores essenciais e que foram transacionados? Estaria à espera de que todos os anos pudesse usar a formação como uma fonte inesgotável de grandes jogadores, como se as grandes colheitas pudessem acontecer todos os anos? Haverá no sistema de administração uma limitação de soluções provocada por uma confiança demasiado restrita nos mesmos empresários?
Seja como for, o Benfica ganhou o campeonato das transferências. Pelo que conseguiu valorizar o plantel e pela forma sensata e criteriosa como se desfez da contratos considerados desadequados e inúteis. É natural que Roger Schmidt anuncie de forma até exuberante a sua satisfação com a qualidade e a quantidade dos jogadores que tem para trabalhar e é legítimo, como já se disse, que as expectativas dos benfiquistas estejam num dos pontos mais altos dos últimos anos. Claro que nada disto assegura uma época de tremendos sucessos e de reconquista do título, mas assegura um novo e mais saudável estado de espírito. Do treinador, dos jogadores e, não menos importante, dos adeptos.
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FORA DA ÁREA – PENOSO REGRESSO AO MUNDO REAL
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