Não saber ver o Inglaterra-Itália

OPINIÃO10.07.202107:00

Quando as ideias feitas não correspondem ao que se vê nos campos. É altura de aprender, pois

UMA final entre Inglaterra e Itália será, para alguém da minha geração, uma representação de escolas definidoras do futebol (seja lá o que isto quer dizer). A piada - talvez sem graça - é que, tendo visto os jogos de Inglaterra e de Itália neste Europeu (e parece-me, com toda a sinceridade, que este Europeu tem sido especialmente bem jogado), nem ingleses nem italianos se encaixam nas ideias preconceituosas que a minha educação futebolística me inculcou.
Não há uma centelha de kick and rush nesta Inglaterra de Southgate nem um vislumbre de catenaccio nesta Itália de Mancini. Nada. São, inclusive, equipas parecidas, quer na organização em campo, quer nos comportamentos - e também no próprio projeto desportivo, de certa forma radicalizado no aproveitamento tão bem-sucedido da juventude e desprezando figuras de proa.
Mas então como poderá alguém como eu entender, agora, em 2021, um Inglaterra-Itália, pela primeira vez no palco final do Euro, sem poder ir buscar as ideias estabelecidas? Pois para mim os conceitos permanecem claros: para a Itália, defender é uma arte e todos os meios se justificam, entre cinismos e enganos, mas para os ingleses, defender e fingir são negações do jogo; para a Itália, um mau árbitro é corrupto, mas para os ingleses é apenas incompetente; em Itália, o futebol na televisão são alguns jogos e muitos (muitos) comentadores que se queixam, mas em Inglaterra só passam jogos e pronto, pouco mais; em Inglaterra, os jogadores querem-se fortes, de área a área, ou de linha de fundo a linha de fundo, em Itália querem-se pausados, lentos, pensativos.
Não sei, sinceramente, como ver um Inglaterra-Itália sem estas banalidades na cabeça. Terei de aprender.