Não há volta a dar!

OPINIÃO06.08.202107:00

Mais do que nunca, é o Benfica, enquanto clube, que depende agora da equipa

SE excluirmos o relativo sucesso do empréstimo obrigacionista que concretizou o mês passado, a única boa notícia para o Benfica este ano chegou agora de Moscovo, onde só mesmo a falta de eficácia pode ajudar a explicar um triunfo (categórico) por apenas 2-0 e não pela justificada maior diferença no marcador que o jogo da equipa de Jorge jesus merecia.
Imagino o suspiro de alívio, sobretudo dos principais responsáveis do clube, em particular de Rui Costa e Jesus, após o amplamente merecido sucesso na capital russa, sobre um Spartak de Moscovo que não dará certamente vida fácil ao treinador português Rui Vitória e lhe exigirá - se tiver tempo - muito trabalho para conseguir com que a equipa venha a jogar bem melhor do que aquilo que mostrou frente aos encarnados de Lisboa.
A vitória do Benfica poderá ainda ser vista por alguns como mera obrigação cumprida, por se tratar o Benfica de uma equipa com maior experiência internacional, maior dimensão europeia, mais e melhores jogadores, e trabalho técnico e tático mais e melhor consolidado. Sim, em condições normais, parece indiscutível ter a equipa do Benfica condições para exigir a si própria a passagem desta 3.ª pré-eliminatória de acesso à melhor Liga dos Campeões, e na realidade, muito bem encaminhada está essa passagem até uma nova e dificílima fase de play-off, onde o mais provável será vir a encontrar um «velho conhecido» das lides europeias, um tal de PSV Eindhoven muito poderoso noutros tempos, e que esta nova época, pelos vistos, já se apresenta muito mais próximo do que verdadeiramente já valeu na Europa. Lá chegaremos, se for caso disso, para analisar o possível reencontro das águias com o adversário holandês que lhe ficou com a Taça dos Campeões Europeus na célebre final de Estugarda, em 1988, com o Benfica de Toni a tombar apenas no desempate por pontapés da marca de grande penalidade, como, em rigor, se deve dizer, e como tanto gostava, também, de nos lembrar o velho camarada Cruz dos Santos, já desaparecido deste nosso combate, um dos grandes jornalistas e analistas com que tive, nesta casa, eu e tantos outros, o privilégio de aprender, me formar e crescer.
Dizia eu que, em teoria, na verdade, o que o Benfica conseguiu esta semana em Moscovo foi, tão-só, o que se lhe exige, de acordo com a dimensão das duas equipas. Mas também nunca deixará de ser objetivamente verdade que no desporto os momentos, como na vida de cada um de nós, dependem sempre dos contextos e das circunstâncias, e o contexto e a circunstância em que tem vindo, no seu todo, a viver o Benfica nas últimas semanas podem ter aumentado a tensão, a dúvida, a instabilidade, a pressão e a incerteza numa equipa que, queiramos ou não, quase pareceu condenada a entrar em competição neste início de agosto com a cabeça verdadeiramente exposta à guilhotina.
O contexto que tem levado o Benfica, enquanto maior instituição desportiva e social do País, a preparar-se, entre outras coisas, para dar início à competição oficial da sua equipa de futebol, não é um contexto de ter sido abalado por uma corrente de ar; é contexto de ter sido varrtido por tempestade devastadora do ponto de vista anímico, e por isso o contexto não promove, evidentemente, a confiança essencial no desporto de alta competição, onde o rendimento é muito condicionado pelas questões emocionais.
Por isso, o meio sucesso da equipa do Benfica nesta 3.ª pré-eliminatória (falta, agora, o outro meio, na próxima terça-feira, na Luz) não pode deixar de ser visto, também, à luz desse contexto verdadeiramente excecional que abalou o clube e a confiança de responsáveis e adeptos. Engraçado como uma equipa de futebol pode depender tanto dessa confiança e estabilidade emocional e como o clube, e o Benfica, agora, mais do que nunca, depende tanto da confiança e da estabilidade emocional que a equipa de futebol for capaz de mostrar.
É nesse sentido que este mês de agosto será, para os encarnados, provavelmente o mais importante e decisivo mês de agosto dos últimos largos anos, e é por isso que todos os jogos (e são, terrivelmente, muitos!...) deste mês de agosto são muito mais do que meros jogos de futebol, e o que vier a suceder às águias, dentro de campo, neste (pouco) querido mês de agosto, creio, muito deverá definir o que vai (ou não) ser o Benfica nos tempos mais próximos.
Na Luz, está, pois, parece-me, na hora de ser a equipa o elemento mais forte do clube e não o clube a mostrar-se como elemento mais forte da equipa. Se conseguir Jesus transmiti-lo aos seus jogadores (como já deu ideia de o ter conseguido em Moscovo) então os adeptos da águia têm objetivas razões de esperança, do mesmo modo que quanto mais os adeptos souberem, ainda, neste regresso aos estádios, mostrar esses sinais de esperança e confiança, mais a equipa poderá defender-se da tormenta emocional que, inevitavelmente, também a atingiu.
O Benfica está, assim, num momento absolutamente crucial. Em Moscovo, a equipa mostrou idade suficientemente adulta para entender o contexto. Sabe que não vai ser fácil e sabe a importância de não perder o foco. Veremos se vai ser capaz de «pegar o touro pelos cornos», porque tem apenas uma solução: vencer.
É o que sucede sempre que um grande clube vive uma grande crise. Não há volta a dar!

Oque Jorge Jesus decidiu fazer, no fim do jogo em Moscovo, e as palavras que decidiu dirigir, numa simbólica e genuína homenagem ao ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, podem (legitimamente) não ter agradado a todos os sócios ou adeptos do clube. Mas honram Jesus, enobrecem a humanidade da relação de amizade (tempestuosa, nem sempre pacífica, mas claramente autêntica) que liga Jesus a Vieira, e soaram ao sentimento de justiça que Jesus certamente quis prestar ao homem que, na realidade, se tornou decisivo na construção da carreira que, entretanto, Jesus foi conseguindo concretizar desde que Vieira lhe abriu, em 2009, a porta do maior clube português.
É esse sentimento de gratidão e amizade que enobrece o caráter de Jesus (imperfeito, tantas vezes cru e rude, nem sempre compreendido, muitas vezes agressivo e até arrogante, mas sempre genuíno), porque no dia em que olharmos para o futebol (como já tantos parecem defender) apenas com a régua e o esquadro de uma geometria industrializada e instrumentalizada, tecnocrata, mecânica, capitalista e estritamente profissional, e nos deixarmos de emocionar com o que se joga, mas também com o que se diz e com o que se faz, o que restará, então? Apenas mais um videojogo?!

NÃO consigo, com toda a franqueza, compreender a hipocrisia de uma UEFA que tão depressa defende a verdade desportiva como ignora a importância desportiva e financeira nesta fase das pré-qualificações para as grandes competições europeias que muito determinam, e nalguns casos até decisivamente, o futuro imediato, sobretudo de clubes com maior dimensão desportiva e mais profundo impacto social.
Ver jogos de pré-temporada, a feijões, jogos-treino sem qualquer verdadeira dimensão competitiva, julgados com vídeo-arbitragem (VAR) em diferentes países, e chegar a esta determinante fase pré-eliminatória da Champions, por exemplo, e ter de se contar apenas com o árbitro de campo, só pode dar vontade de rir e é, no fim de contas, uma fraude aos adeptos que pagam para consumir o jogo e a maior verdade desportiva que a tecnologia lhes prometeu.
Já para não falar, no caso deste Spartak-Benfica, na decisão da UEFA de alterar o árbitro em cima do joelho (era para ser um juiz espanhol, passou a ser um juiz sérvio), ser dar explicações a ninguém. Fica-lhe mal. Muito mal!

DEPOIS de Rúben Amorim ter tido a «folclórica» decisão de apostar, no último campeonato, por alguns minutos, apenas, num jovem de 16 anos, chamado Dario Essugo (veremos quando o jovem Essugo voltará, e em que circunstâncias, a ser de novo opção nos leões),também  Carlos Carvalhal dificilmente evitará que olhemos com muita dificuldade e até incompreensão para o que decidiu fazer na Supertaça, no último fim de semana, com a inclusão, num jogo que já lhe estava a correr tão mal, de um jovem (Roger) de apenas 15 anos - um talento, por certo -, dificilmente preparado para a responsabilidade de dar à equipa o que, com total clareza, a equipa não conseguira ter em toda a segunda parte daquela final. Se a moda pega, um dia destes ainda veremos algum treinador baixar a fasquia para os 14 anos. Nada contra. Mas, no mínimo, que faça sentido.
Foi o que não pareceu!