Não há mais tempo!...
Esta tarde disputa-se a final da Taça de Portugal da época 2018/2019 entre o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal, ou melhor, entre o Futebol Clube do Porto, Futebol SAD e o Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD. Oito dias depois destas sociedades anónimas desportivas se terem defrontado no Estádio do Dragão, para a Liga. Agora é uma final, e, como tal, é para ganhar. E desejo ardentemente que logo, ao fim da tarde, assista em directo à entrega da Taça ao clube de que há mais de cinquenta e seis anos sou sócio.
Porém, aconteça o que acontecer, a minha análise ficou feita na Via verde de há oito dias, e quer o Sporting ganhe ou não, não terei muitos motivos para alterar a minha análise. Na verdade, sempre sustentei - e não só eu - que uma época desportiva prepara-se e ganha-se na pré-época e muitas vezes logo em Janeiro da época anterior. De uma forma geral o tempo voa, e, no futebol de alta competição, não pode haver hesitações, nem perdas de tempo. Ora a pré-época de 2018/2019, em termos de futebol (e não só) teve um catálogo de contrariedades e anormalidades, verdadeiramente inimagináveis!
Só o transitório presidente do Conselho de Administração da SAD leonina, com o seu optimismo (e não só) podia admitir a conquista de um título, nas circunstâncias. E como se não bastasse essa admissão irrealista, foi ele próprio que, a determinada altura, arrasou o treinador que havia contratado, estendendo a passadeira à decisão do Presidente eleito do Sporting Clube de Portugal, que também já se analisou. Por todas as razões, e mais algumas, tenho obrigação de ser honesto, e, pese embora ser triste, tenho de dizer que a expectativa era baixa e os resultados excederam o que era exigível. E julgo que foi isso que determinou uma menor afluência ao Estádio José de Alvalade na época que ora termina para o futebol profissional.
Com efeito, amanhã a época desportiva de 2018/2019 já é passado, e o que importa é o futuro, em Portugal e na Europa, sendo que amanhã também se joga o futuro desta, nas eleições para o Parlamento Europeu!
Na verdade, importa que não tenhamos mais um ano zero em termos de futebol profissional, porque cada passo atrás em termos de competição nacional significa maior distância para os nossos rivais e uma cada vez mais incomensurável distância em termos europeus.
Ninguém tem dúvidas que é absolutamente necessária uma união de aço entre sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal, tarefa ciclópica sem vitórias de monta. Com efeito, há vitórias no futsal e no hóquei e o júbilo por tais conquistas une os sportinguistas. Os dirigentes, os sócios e os adeptos são esforçados, devotos e dedicados mas, sem glória no futebol profissional, infelizmente não há união e tudo e todos se destrói.
No futebol profissional, as vitórias no campeonato nacional, após o 25 de Abril - ano em que se fez a dobradinha e se chegou à meia-final da UEFA - celebrou-se a vitória na competição em 1980 e 1982 e depois só em 2000 e 2002, isto é, um intervalo de vinte anos entre as duas vitórias da década de oitenta e as correspondentes no início do novo século, e novo milénio! Se isto estivesse escrito nas estrelas, teríamos para o ano uma vitória na Liga; mas como não está, teoricamente, não antevejo grandes perspectivas para obter essa conquista.
Vejo, com alguma preocupação e tristeza, a inevitabilidade (?) da venda de alguns dos nossos melhores jogadores e, em consequência, uma diminuição da potencialidade que esta equipa tinha com alguns arranjos cirúrgicos, e, portanto, muita dificuldade em encurtar distâncias nacionais e internacionais, enquanto os nossos adversários se sedimentam na Europa e se consolidam como os únicos concorrentes. Quando o comboio está ainda parado na estação, basta uma corrida para ainda o apanhar. Mas este comboio da alta competição na Europa é um TGV que não espera muito tempo nas estações nacionais. Ou estás dentro do comboio ou dificilmente o consegues apanhar.
A Sporting Futebol SAD não pode ter mais um ano zero, e isto não é intolerância, mas realismo. Mais um ano zero é apenas aguentar, como, apesar de tudo, aguentamos, e não ter um projecto. Eu prefiro ter um projecto que pode não ter sucesso imediato, mas que me faça sentir que estou no ano um de qualquer coisa que tem futuro, que é consistente e galvanizante. Alguma coisa que esteja mais perto da primeira década deste século - a melhor em muitas - e que me traga esperança para a próxima. A ansiedade é inimiga de projectos sólidos e geradora de conflitos internos e externos.
Não tenho, e não existe, uma varinha mágica para resolver este tipo de círculo vicioso: não temos para investir e, portanto, vendemos jogadores; vendemos jogadores e não ganhamos; não ganhamos e não vamos sequer à Europa; não vamos sequer à Europa e não temos dinheiro para investir. Então necessitamos que alguém injecte capital na SAD (ou na SGPS) e que o futebol e o clube se reestruture com peso e medida, com novas e modernas mentalidades de governance, e não segundo as regras dos que berram e não discutem, porque não pensam de acordo com a racionalidade e agem na defesa de interesses que nada têm com a paixão que apregoam.
A hora é de trabalho reconstrutivo, e, depois de críticas duras e dissolventes, há que encontrar paz para realizações concretas, num momento que é absolutamente decisivo. Chega de censuras, acusações e injúrias. Paremos com a destruição que causa o gáudio dos nossos adversários. Viremo-nos para o trabalho construtivo, para realizações concretas e produtivas. Para um projecto comum, que abarque dirigentes e adeptos do passado e do presente e forme os dirigentes do futuro a médio e longo prazo. Olhemos para o passado apenas para colher exemplos do que de bom e de mal se fez, para tirar ilações para o futuro. Enfrentemos o futuro, e o futuro imediato, porque ele está diante de nós e não se compadece com as nossas divisões, retaliações, amarguras, ridículos ciúmes e sentimentos menores. Não foi este o sonho do Visconde de Alvalade e de outros fundadores. Eles pensaram há muito tempo aquilo que nós não somos capazes de enfrentar no tempo em que vivemos. Sempre fomos pioneiros e agora parecemos parados e incapazes de defrontar o futuro. Paremos de criticar por criticar, paremos de destruir apenas para destruir.
É tempo de dizer basta. É tempo de haver uma orientação, um rumo, uma caminhada segura e não aos baldões. É tempo de andar para a frente e não parar ou andar para o lado. É tempo de mostrar que os sportinguistas tropeçam, mas não tombam. É tempo de mostrar que ainda temos energia, e não de revelar impotência e conformação com o nosso destino. O futuro a Deus pertence, mas nós, sportinguistas, também temos de fazer alguma coisa. Deus fez o mundo; o holandês fez a Holanda. Nas mãos e no coração dos sportinguistas terá de estar a reconstrução das ideias, dos princípios e dos valores, e na sua cabeça uma nova visão para o clube e a sua SAD.
Hoje quero a vitória na Taça de Portugal, como um bálsamo do presente, que nos recorde o passado. Mas que essa vitória não sirva para adiar o futuro, porque o futuro já não permite mais adiamentos!...