Não foi uma gafe, foram duas
Ao querer ser simpático para Tiago Djaló, Fernando Santos acabou por ser antipático para João Mário, utilizado meia dúzia de minutos… por engano
TUDO está bem quando acaba bem e, principalmente, quando se ganha bem. Mesmo assim, a robusta vitória lusa, em Praga, não escapou a uma daquelas polémicas de trazer por casa, e não foi por culpa de qualquer jornalista mais embirrento, como admito ser o meu caso. Fernando Santos resolveu penitenciar-se por uma gafe por ele cometida e que só passou a sê-lo, verdadeiramente, a partir do momento em que deu caráter público a uma ocorrência de menor relevância que poderia, e deveria, ter sido tratada no espaço recatado do balneário.
O selecionador entendeu que Tiago Djaló era merecedor de um pedido de desculpas por causa de um episódio que, quase de certeza, teria passado ao lado da curiosidade jornalística. Ao querer ser simpático para o defesa do Lille, acabou por ser antipático para João Mário, o qual, obediente e agradecido pelos poucos minutos que lhe foram concedidos para tentar justificar mais uma chamada à equipa nacional, deve ter ficado incomodado quando se apercebeu que o selecionador queria fazer entrar outro no jogo em vez dele. «(…) O Danilo aproximou-se e disse-me que estava a sentir um toque. E cometi uma gafe, disse ao João Mário para dizer ao Palhinha para recuar para central, quando devia, sim, ter feito entrar o Tiago», fim de citação.
EM rigor, Fernando Santos até cometeu duas gafes, uma porque avaliou mal a situação e outra porque, ao pretender justificar-se perante Djaló, acabou por ser deselegante em relação ao jogador do Benfica, que outro remédio não teve se não resignar-se e agradecer a migalha de minutos que lhe foi concedida, ainda que por engano, o que não deixa de ser estranho por tratar-se de quem se trata, um praticante de classe superior, que brilha no Benfica e tem permitido, aos mais saudosistas, recordar o futebol encantador exibido pelo Sporting na época 2015/2016, no primeiro ano de Jorge Jesus, e que assentava num meio-campo de excelência do qual faziam parte João Mário, Adrien Silva e William Carvalho, sendo este, é a minha opinião, claro, o menos dotado em argumentação técnica.
Entretanto, todos foram tratar das suas vidas no estrangeiro e dos três apenas João Mário regressou para ser campeão pelo Sporting, primeiro, e contratado pelo Benfica, depois, onde recuperou a confiança perdida, tal como os seus notáveis desempenhos testemunham. Além de manter incólume o infindo virtuosismo que o define como praticante de exceção, tem mostrado uma capacidade física e um poder de combate apreciáveis, desempenhando um dos papéis principais nesta renovada águia orientada pelo alemão Roger Schmidt.
APESAR de Fernando Santos acreditar pouco em João Mário, é a ideia que passa, este é merecedor, em condições normais e em qualquer circunstância, de mais do que meia dúzia de minutos de utilização, só para fazer de conta. Em contraposição, acredita muito em William Carvalho, o que, do meu ponto de vista, tem pouco cabimento, tal como não faz sentido insistir até ao limiar do absurdo em João Moutinho, com os seus 36 anos, quando tem ao dispor elementos de muita qualidade e com menos dez anos de idade, ou mais. Para já, ficou de fora. Esperamos para ver.
Atrasar a renovação com base nos equilíbrios e nos tempos de jogo, seja o que isso for, é um pecado em função da riqueza da matéria humana de que é feita a equipa de Portugal. Nós sabemos, mas os outros ainda não se convenceram disso, razão pela qual, a seguir aos anos dourados, caímos precocemente no Mundial de 2018 e no Europeu de 2020. É o salto em frente que ainda não conseguimos dar.
TIAGO DJALÓ foi apanhado numa corrente de ar que não desejava. Nem Danilo, ontem questionado sobre o tema. «Tinha levado uma pancada no joelho direito (…), resolvi não forçar e pedi substituição ao mister num contexto desfavorável porque ele já estava a fazer uma substituição. Deu uma confusão chata, foi culpa minha, acontece, mas estou bem e preparado para jogar», declarou.
A seu lado, Fernando Santos prontamente o ilibou neste bizarro caso. De uma forma hábil, sublinhou que a confiança depositada nos jogadores reflete-se no momento da convocatória e não nos onze escolhidos como titulares em cada jogo. Destacou que «aqui não há suplentes» e garantiu jamais ter chamado um jogador só para fazer número. Recentemente, tomou essa atitude ao recusar convocar alguém para colmatar a saída de Pepe, sem se dar conta, no entanto, do desconforto que terá provocado em eventuais candidatos ao lugar quando disse que seria gente para se sentar… no banco ou na bancada, não concretizou. Assim, vai demorar mais tempo.