Muito mais que treinadores
Clássico opõe dois ‘managers’, de quem dependem muito as respetivas estruturas. E se Rui Costa seguir o mesmo caminho?
UMA baixa circunstancial (Pedro Porro no Sporting) e outra definitiva (Luis Díaz no FC Porto) que vão fazer do clássico de amanhã, no Estádio do Dragão, um jogo mais pobre. Dois futebolistas ao nível do melhor que se viu no campeonato em muitos anos com a curiosidade de pisarem os mesmos terrenos mas em sentido contrário, capazes de provocar deslocações de ar como quando se cruzam dois comboios de alta velocidade viajando para destinos opostos. Seria um extraordinário confronto individual dentro do próprio jogo que vai opor as duas melhores equipas da Liga.
Mas a dimensão de um FC Porto-Sporting (ou de qualquer jogo entre os três grandes do futebol português) é muito superior à ausência deste ou daquele indivíduo. Porque, a bem da verdade, há dois grandes craques que continuam de pedra e cal: chamam-se Sérgio Conceição e Rúben Amorim.
Se há período da história em que estes dois clubes estão demasiado dependentes dos respetivos treinadores é este que vivemos atualmente, o que diz muito sobre os técnicos em causa mas também sobre quem está acima deles. É por demais evidente que tem sido Conceição o grande pilar do FC Porto. No passado, o treinador dos dragões era apenas um elemento de uma estrutura forte mas hoje é a estrutura fraca que se apoia num treinador forte. No Sporting também é claro que o sucesso assenta na capacidade de liderança de Amorim. Foi ele o responsável pela transformação dos leões. Os adeptos sabem-no, Frederico Varandas também.
Sérgio e Rúben são managers à boa maneira inglesa. Definem estratégias, chamam a si o protagonismo com estilos diferentes, mas vincados, de comunicação, são a voz mais ouvida dos respetivos emblemas. Amorim terá, talvez, ainda maior poder ou, numa leitura diferente, coordena-se melhor com a direção desportiva. Tem recebido os reforços que pediu (é criterioso e seletivo nos nomes que designa) e não lhe tiraram referências a meio da temporada, tal como se observou no FC Porto com a venda do passe de Luis Díaz ao Liverpool, o que motivou críticas de Conceição, acusando a Direção azul e branca de «falta de planeamento».
MESMO que não queira, Rui Costa nunca conseguirá fugir à tentação de olhar para o que se passa na casa dos rivais quando tiver de escolher um treinador. Nélson Veríssimo é ainda o técnico dos encarnados mas é natural e legítimo que o presidente do Benfica esteja a equacionar um novo comandante para as tropas para a próxima temporada. E não seria surpresa alguma que esse homem tivesse um perfil impositivo, combativo, de costas largas, com capacidade aglutinadora, também, ao nível da comunicação. Características que se assemelham mais a Jorge Jesus do que a Veríssimo, é verdade (à exceção da parte da comunicação), mas com a diferença de um novo rosto ser uma escolha de Rui Costa e não alguém que represente uma linha de continuidade do antecessor. Tal como Frederico Varandas e Pinto da Costa (um por ter errado no início da carreira, o outro por errar na fase descendente do percurso), Rui Costa precisa de um líder para lhe resolver uma série de problemas.