Mudar ou deixar tudo na mesma

OPINIÃO04.11.201803:35

LUÍS FILIPE VIEIRA vai deixar, pelo menos para já, tudo na mesma. Nem outra coisa seria de esperar olhando para o seu historial enquanto presidente do Benfica. É verdade que a contestação a Rui Vitória está a aproximar-se de níveis quase insustentáveis, mas Vieira já deu sobejos exemplos de não dirigir o Benfica de fora para dentro - foi assim, por exemplo, que segurou Jesus numa altura em que quase todos exigiam a saída de um treinador que haveria, depois, de ser bicampeão. Muito menos seria plausível que tirasse o tapete ao treinador apenas três dias depois de ter reforçado ser ele o homem certo para o seu projeto. Mas é inegável que a posição de Rui Vitória no Benfica está, hoje, mais frágil do que nunca. A juntar às três derrotas consecutivas (inéditas no seu reinado na Luz) há ainda os sinais transmitidos por uma equipa que parece cada vez mais perdida, incapaz de reagir às adversidades. A expulsão de Jardel - que é, só, o capitão - no momento em que a equipa mais precisava de um líder é elucidativa do momento que se vive na Luz. Vieira exige uma reação imediata. Por outras palavras, triunfos já frente a Ajax (outro resultado tirará as águias da Champions) e Tondela (não há, de facto, margem para novo desaire na Liga). Resta saber se os problemas do Benfica são passíveis de resolver-se - como foram noutras ocasiões, inclusive na era Vitória - só com palavras.

FREDERICO VARANDAS, que não tem nem a experiência nem o conforto de Vieira, optou por mudar já. Peseiro nunca foi, já se tinha percebido, o seu treinador e decidiu o presidente do Sporting não esperar mais. Pode discutir-se, talvez, a forma como conduziu o processo de despedimento. Pode ter-se opiniões antagónicas sobre se foi uma decisão justa ou, até, sobre o timing da mesma. Mas Varandas é o presidente e tem, também ele, o direito a ter a sua opinião. Que é a que vale. Percebendo a solidariedade manifestada por Rui Vitória e Sérgio Conceição - é, até, salutar o respeito com que os treinadores de clubes rivais se têm tratado -, é bem mais difícil de entender a reação da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), que decidiu atacar o presidente leonino por um despedimento que considera injusto. Peseiro não é o primeiro treinador português a ser despedido. E não será o último. Vai, a partir de agora, reagir de forma tão dura a ANTF sempre que o chicote estalar?

NENHUM clube português faz parte dos planos dos gigantes que preparam, aparentemente em segredo, a Superliga Europeia. A notícia é péssima para o futebol luso mas não podemos, infelizmente, dizer que seja surpreendente. Pelo contrário. Porque embora tenhamos a mania das grandezas, a verdade, nua e crua, é que a nível de clubes somos, no panorama europeu, cada vez mais pequenos. E continuaremos a encolher enquanto não houver uma profunda revolução (aqui a necessidade de mudar é, julgo, inquestionável) na mentalidade que não nos permite alargar horizontes. Ficamos satisfeitos com questões menores e guerras estéreis. Delas rimo-nos muito, incapazes de perceber que não têm piada nenhuma. Até ser demasiado tarde e nada mais nos reste do que chorar.

E porque nem tudo é mau, a fechar uma boa notícia. Tiago Craveiro, diretor geral da Federação Portuguesa de Futebol, foi escolhido por Aleksander Ceferin para integrar a task force que discutirá as medidas pensadas pela FIFA para a criação de uma Liga das Nações a nível global e o alargamento do Mundial de Clubes, composta ainda por Giorgio Marchetti (diretor de competições da UEFA), Andrea Agnelli (presidente da Juventus e da Associação Europeia de Clubes) e Richard Scudamore (presidente da Liga Inglesa). Tiago Craveiro opta sempre por se manter na sombra, mas quem está atento sabe ser ele um dos principais rostos da enorme evolução vivida na FPF desde a chegada de Fernando Gomes. Uma influência que se estende também à UEFA, como já ficara vincado pelo seu papel na criação da novel Liga das Nações. Agora, nova demonstração de confiança. E a prova de que não é preciso falar muito (e muito alto) para dar nas vistas. Com trabalho e talento, mesmo que de forma discreta, pode estar-se entre os melhores. Seria tão bom que mais gente o percebesse.