Morrer pela doença ou pela cura
O futebol quer voltar e não há um de nós que não queira que volte. Haverá sempre dúvidas se é ou não o momento certo, porque se não for por daqui a semanas dificilmente o fará já em tempo útil, e em que o «útil» da equação seria não atirar para o lixo mais de metade de uma temporada. Os números poderiam ser melhores - ainda há mais mortes do que recuperados; e a média de falecimentos por milhão de habitantes vem logo atrás da dos mais afetados -, mas não são tão maus assim.
Sim, o risco continua elevado e pode passar pela antecipação de uma segunda vaga prevista para o inverno, e consequente nova paragem e ainda maior drama financeiro. O futebol está entre o morrer pela doença ou pela cura, como outras atividades. Não há decisões ideais.
Se voltar, já não voltará o mesmo. As portas vão fechar-se depois de umas duas ou três centenas entrarem para jogar e organizar o jogo, os estádios ficarão desertos para lá da periferia e será preciso impedir que se criem multidões para combater a solidão de se ver um encontro sozinho - tudo neste vírus é solidão!
Sem público, o futebol perderá alma e essência, mas viverá para contar mais tarde a história. Os jogadores terão de conter-se ainda mais, já que além de não poderem puxar da camisola também as comemorações serão frias e distantes. Provavelmente, jogarão com máscaras, perderão a expressão, ainda parecerão mais robotizados. Depois de tantas paragens contranatura trazidas pelo VAR, é novo golpe na modalidade.
Contudo, se alguém com poder de decisão tiver ainda mais dúvidas do que eu, então que haja coragem para deixar morrer a época de vez e começar do zero a próxima, assente até ao fim nos mesmos critérios. De todas, talvez a decisão mais coerente para todos nós.