Moedas: Carlos sim; falsas não!...
A soberba e a arrogância, no futebol como na política, por vezes distrai os petulantes e arrogantes, que foi o que aconteceu...
N ÃO é meu hábito escrever sobre politica, mas há sempre uma excepção e, sobretudo hoje, não poderia deixar de manifestar a minha satisfação pela vitória de Carlos Moedas nas eleições para a principal Câmara do País, que é a câmara da cidade onde nasci e onde tenho vivido, com ligeiras interrupções.
E não tem a ver com vitória partidária, pois não é isso que me trás à escrita hoje, mas porque é uma vitória de alguém com currículo nacional e internacional, com vida profissional própria, com competência reconhecida e que ganhou contra tudo e contra todos, incluindo sondagens e comunicação social e manobras mais ou menos obscuras! Quando se ganha pelo mérito das ideias e a credibilidade da palavra, não há como não conceder os nossos aplausos e exprimi-los sem tibiezas, nem receios.
Não conheço intimamente Carlos Moedas, nem privei sequer muito com ele, mas nunca tive a ideia de que era alguém com carreira partidária, semelhante a tantas (e em todos os partidos) que começam numa secção e vão por ali acima, mais ou menos meteoricamente, sem que se lhe conheça uma ideia ou uma palavra, ou, o que ainda é pior, que tenham tido alguma vez um modo de ganhar a vida.
De resto, o seu próprio nome chama a atenção ab initio para a tão conhecida distinção entre moeda boa e moeda falsa, ou, simplesmente, a boa e a má moeda, uma marca no discurso de Cavaco Silva, aplicando à politica a lei económica de Gresham, segundo a qual a má moeda expulsa a boa moeda: «isto está a passar-se na vida política portuguesa, com a substituição dos políticos competentes por incompetentes». E como isto é hoje uma constante, a vitória de Carlos Moedas abre-nos uma esperança de mudança para que a politica deixe de estar cheia de moedas más ou, o que ainda é pior, de moedas falsas.
Acresce que não consigo deixar de transpor esta visão para o futebol, onde se calhar já nem podemos falar de moedas boas ou más, porque, pura e simplesmente, há cada vez menos ... moedas!
E, passando para o meu clube, esta vitória de Carlos Moedas faz-me lembrar também a vitória do Sporting Clube de Portugal no último campeonato nacional ou liga, conforme queiram. Foi também uma vitória contra tudo e contra todos, uma vitória contra todo o sistema, porque a politica e o futebol, têm um sistema montado, que é difícil de destruir, tanto mais quanto muita comunicação social vai atrás, movida pelo interesse comercial ou do subsidio estatal que forçosamente substitui a independência pela sobrevivência.
A soberba e a arrogância, no futebol como na política, por vezes distrai os petulantes e arrogantes, que foi o que aconteceu na época passada no futebol e agora nestas eleições autárquicas!
No sector do futebol ou na vida politica o que importa é a verdade. E se conseguirmos que ela triunfe sobre a mentira e a falsidade, o futebol e a politica serão sectores da vida social atractivos e atraentes, e os serviços prestados só enobrecerão quem os presta!
Carlos Moedas foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Reflexão: onde vai um vão todos!
N ÃO deixei de ficar surpreendido com os resultados das votações na Assembleia Geral Ordinária do Sporting Clube de Portugal. Mas confesso que me surpreendeu mais ainda a reação do Dr. Frederico Varandas, Presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal, quando afirmou, perante o chumbo das propostas apresentadas: «Penso que é a noite ideal para os sócios fazerem uma reflexão do que querem do clube e que participação querem ter».
Não, não posso estar de acordo que este seja o momento ideal para essa reflexão. Há muito tempo que essa reflexão devia estar feita, e a culpa não é exclusiva destes órgãos sociais.
E partir do principio que é 1% que impede a vontade de 99% é um mau começo para qualquer reflexão, quando bastam 75% para alterar aquilo que é preciso alterar. Na verdade, se os órgãos sociais estão convictos que se trata de uma disputa de 1% contra 99%, então porque não avançam com propostas para alterar o que é necessário alterar? Que dificuldade têm para encontrar propostas mobilizadoras desses 99%, sobretudo em tempo de sucesso desportivo, que assim fica desperdiçado por coisas mesquinhas, quando está em causa a sustentabilidade de um projecto que ganhou um rumo?
E, sobretudo, para quê insultar e ofender quem se preocupa em encontrar soluções consensuais e com a maior abrangência possível à falta de congressos ou outros cenários para discutir as grandes questões que se põem ao clube? É tão intolerável essa atitude como o ruído, o insulto ou o assobio numa assembleia geral! Num caso ou no outro quem sai desprestigiada é a liberdade de expressão e opinião, numa palavra, a democracia!
As associações, como o Sporting Clube de Portugal, são pessoas colectivas que se regem por estatutos que têm de estar de acordo com as disposições do Código Civil. E as competências que necessariamente são atribuídas por este diploma legal às assembleias gerais não são tão rígidas como se possa pensar, ao ponto de terem de ser realizadas dentro de um pavilhão ou de um estádio para teoricamente lá poderem entrar todos os associados sejam eles quatrocentos ou quatrocentos mil. Ou haverá quem não se lembre que já houve assembleias gerais que não se realizaram e tiveram de mudar de local por não comportarem os sócios presentes?
Sejamos sérios, práticos e minimamente inteligentes para perceber que não são as normas legais que impedem soluções, mas a falta de vontade politica para as propor e as fazer aprovar. Os estatutos é que são rígidos, e ninguém dá um passo para os actualizar e modernizar aproveitando as tecnologias que existem.
De qualquer forma, os próprios estatutos dizem que a assembleia geral é composta pelos sócios efectivos no pleno gozo dos seus direitos, mas não diz que é necessária uma sala onde eles possam caber todos, designadamente, os mais de cem mil que julgo ser o número de sócios do clube neste momento. Alguém pensa que é possível isto para já não falar em todos poderem falar?
A assembleia ordinária de dia 30 destinava-se a discutir e votar os relatórios de gestão e contas dos exercícios de 2019/2020 (este já anteriormente chumbado) e 2020/2021. Se normalmente nada se discute de uma forma serena, tranquila e minimamente produtiva, quem é que se mobiliza para lá ir? E votar sem discutir, como é moda agora, também não é mobilizador e retira a assembleia a dignidade do órgão deliberativo onde reside o poder supremo do clube!
Onde vai um vão tão todos tem sido um slogan muito importante de há uns tempos para cá! E é dentro deste principio que respondo, educada e respeitosamente, ao convite de reflexão do Presidente Frederico Varandas, com o desafio de que vamos reflectir todos sobre as alterações impostas pela grandeza incomensurável do nosso clube. Tentemos um consenso sobre os grandes temas, juntar e discutir ideias e alargar depois a discussão a todos os sócios onde quer que estejam e, finalmente, votar uns estatutos modernos e práticos, que recebam os votos, no mínimo, de ¾ dos votantes.
Nesta reflexão, não deve ir só um, mas todos: sem medos, nem receios; sem tibiezas nem hipocrisias; com espírito construtivo e aberto; com tolerância e respeito pelo Sporting Clube de Portugal.