Mercados e mercadinhos
HÁ mercados para todos os gostos: os hipermercados, os supermercados, os minimercados, os mercados de bairro e as mercearias de aldeia. Cada um escolhe onde quer comprar, consoante a carteira ou as necessidades. Eu, por exemplo: se tiver de fazer compras para 15 dias vou ao hipermercado. Se for para compor o frigorífico, um super ou minimercado é suficiente; e se só precisar de sal para o jantar nem me dou ao trabalho de pegar no carro, compro na mercearia aqui ao lado. O mesmo se passa no futebol, onde talvez nunca como hoje, face aos tempos extraordinários que vivemos, a imagem se aplique de forma tão perfeita. Olhemos para os três grandes e vejamos as diferentes estratégias de compras:
Benfica - Depois de alguns anos a poupar, aproveitando os produtos da horta do Seixal para ajudar a alimentar a fome de títulos, uma época sem ganhar fez Luís Filipe Vieira pegar no livro de cheques e arrancar para o hipermercado. Começou por apontar aquilo de que precisava e dirigiu-se às prateleiras dos defesas, dos médios, dos extremos e dos avançados, sem olhar a preços. Nada contra, desde que haja dinheiro para gastar - e o Benfica tem mais dinheiro para gastar do que qualquer outro. O problema é que (como bem sabe qualquer pessoa que faz compras em hipermercados...) acabou por meter no carrinho produtos (leia-se jogadores) que, quando chegar a casa, perceberá que não precisava, porque já lá tinha iguais ou, até, melhores. Faz parte das compras por impulso, tão típicas dos hipermercados. E o impulso de ganhar é mais forte do que tudo o resto. Acabará, provavelmente, por viver melhor, porque pôde gastar mais do que todos os outros. Mas não sem antes perceber que deitou algum dinheiro (e bons produtos) para o lixo.
PS - Vieira ainda não voltou a casa. Continua às voltas no hipermercado, talvez no bazarão, enquanto espera para perceber se pode pagar um avançado gourmet durante seis anos, como estava na etiqueta, em vez de em três, como lhe exigiram quando chegou à caixa.
Sporting - Escaldados com os maus negócios nos hipermercados - terão passado, talvez, demasiado tempo a comprar nos tais bazarões... -, Frederico Varandas esqueceu os carrinhos, pegou no cesto e entrou num mercado de bairro. É, terá pensado, mais seguro. São mais tranquilos, têm produtos familiares e permitem, até, alguma margem negocial, aceitando (à moda antiga que no futebol continua bem moderna...), aqui e ali, uma troca para fazer descer o valor da compra - ou, talvez, se não o reconhecerem, até lhe vendam fiado... Já meteu no cestinho alguns produtos de qualidade, antecipando-se a outros clientes que para eles olhavam com ar guloso, e parece contente com isso. Não é uma má estratégia. Pode não chegar para fazer um baile de gala, mas talvez dê para fazer uma festa de vez em quando, sem gastar muito dinheiro. E se há clube a precisar de uma festa é o Sporting.
PS - Varandas podia aproveitar a passagem pelo mercado para vender, também ele, alguns jogadores que tem em casa e não lhe interessam. Mas preferiu vender no OLX, onde se despacham, baratíssimos, os produtos que não contam mesmo para nada e se despacham ao preço da uva mijona: deixar Acuña e Palhinha de fora dos trabalhos de pré-época é, no mínimo, um tiro no pé quando se precisa de dinheiro. E se há clube a precisar de dinheiro é, também, o Sporting.
FC Porto - A viver dos louros das duas festas que acabou de dar, Pinto da Costa continua, descansado, no sofá. Já de lá saiu duas ou três vezes, para, com um saquinho na mão e uns trocos no bolso, ir à mercearia buscar uns produtos que não lhe pareceram maus. Entretanto, e como os tempos não estão, a nível financeiro, fáceis para o lado do Dragão, ficará à espera que lhe comprem alguns dos jogadores que mandou vender para confirmar as compras que encomendou, por telefone, num minimercado ali por perto. Até lá, não se mexerá muito. Para quê? O que tem em casa, se não lhe assaltarem as prateleiras, até pode chegar... outra vez.