Melhor, o Lage!
O Jorge Valdano, que sabe muito de futebol (e da vida) e sabe ainda melhor como pôr, uma coisa e a outra, em poesia - contou que, tendo perguntado a técnico famoso (e arguto):
- O que é que um presidente quer quando contrata um treinador?
esse técnico famoso (e arguto) lhe respondeu:
- Quer que lhe minta, lhes minta!
Ou seja, dizendo que os presidentes, quando contratam treinadores, querem que eles lhes mintam, estava a dizer que querem que os ponham (e aos adeptos) a viverem de sonhos (ou delírios) depois de desencantos (e vendavais). Não, não foi o que Bruno Lage fez quando Luís Filipe Vieira o contratou. Pelo contrário. Por isso acabou o Benfica, como acabou.
Acabou como acabou porque Bruno Lage lhe recriou entusiasmo mais rapinante - que fez com que os seus jogadores deixassem de jogar com o coração a esfanicar-se e a cabeça a fugir-lhes dos pés em cinzas, a entortarem-se.
Acabou como acabou porque Bruno Lage lhe deu uma melhor ideia de jogo - a ideia de jogo que os seus jogadores levaram mais além, sem que nunca se lhe abrissem nesgas por onde entrassem dúvidas, medos ou desleixos.
Acabou como acabou porque sabendo que o futebol é a arte de tornar perfeitas as imperfeições (e também as imperfeições dos outros) Bruno Lage tornou mais que perfeitas as imperfeições que apanhara (na sua equipa e no seu jogo), ganhando assim o que estava obrigado a não perder (mesmo se empatasse).
Acabou como acabou porque Bruno Lage refez uma a equipa solidária - atiçando-lhe o génio que impedia que os seus jogadores fossem só parafusos de uma máquina industrial (e, o exemplo disso, não se esgotou no João Félix).
Mais tinha para dizer - este espaço não o permite. Mas não poderia deixar de o revelar: por tudo o que fez, Bruno Lage não merecia que o que o VAR fez (ou não fez) na Vila da Feira, em Braga ou em Vila do Conde pusesse sombras ou desconfianças na sua obra prima.