Marcha-atrás?

OPINIÃO23.08.201804:18

IA tão bem o Benfica… Venceu V. Guimarães e Boavista - no Bessa, com absolutas firmeza e clareza - e eliminou Fenerbahçe, sugerindo colocação de um pé na tão ambicionada fase de grupos da Champions. E eis que, ao quinto jogo no duro ritmo de 3 em 3 dias, sai da Luz tropeçando no PAOK - o tal pé fica descalço e o Benfica arrisca-se a ver, por algo insólito canudo grego, Champions e brutalidade de imediatos €43 milhões.

Não muito bem tem andado o Sporting… Ganhou em Moreira de Cónegos e, em Alvalade, ao V. Setúbal, mas num jeito tem-te-não-caias, pálido no sofrimento das atribuladas dores de parto de nova temporada após devastadora ponta final da anterior.

E ei-los imediatamente no dérbi!

Nos confrontos entre os mais históricos rivais, a lógica amiúde vira batata. Tirando esse pormaior… favoritismo benfiquista, e com nitidez há muito não percecionada. Porque ao fator casa se soma, com superior vigor, ampla ideia de pontual desequilíbrio de forças.

Sporting ainda luta por precioso bem: estabilidade. Na equipa e fora dela, notório nervosismo - ainda mais inevitável pelo horrendo egocentrismo de quem, perentoriamente destituído por enorme maioria de sócios, se mantém no destrambelho de ser mais importante que o Sporting! Contrarrelógio para reconstruir das herdades cinzas pós-terramoto. Nada tem de fácil substituição rápida/eficaz de núcleo duro com o calibre de Patrício, William, Gelson (noutro plano, ainda Coentrão e Piccini). Sporting na Luz com acrescida grave ausência, a de Bas Dost?...

Benfica… estabilidade tem mostrado. Resta ver se não abanada pelo empate consentido ao PAOK… Mesmo no desconsolo dessa noite, o Benfica voltou a jogar globalmente bem. Tal como reincidiu em gritante lacuna: finalização. Enorme saudade de Jonas - e, neste jogo tão importante, também de Salvio (os jogadores com mais consistente classe no plantel; Pizzi, em grande forma, e Gedson, em espetacular crescimento, não podem ultrapassar toda a ineficácia dos avançados - embora, recorde-se, nos últimos 8 golos, 6 foram desta dupla de médios: 5 de Pizzi (!) e Gedson marcou a decisiva diferença frente ao Fenerbahçe…). Escassa acutilância no trio da frente; não só, mas sobretudo, como é tão óbvio!, por inexistência de ponta de lança pujante e goleador. Recém-contratados Ferreyra e Castillo (este agora lesionado) estão (por enquanto?) a léguas de… Bast Dost - ou de Soares-Marega-Aboubakar, até, imagine-se!, do tosco Mitroglou.

Problemão neste dérbi: eventual derrotado engrenará marcha-atrás. O Sporting por mais estremecer no tal tem-te-não-caias (embora perder na Luz nada tenha de anormal). Ainda mais grave para o Benfica, porque em casa, levando brutal rotura anímica - e a 4 dias do crucial sim ou sopas em Salónica. Empate, nas atuais circunstâncias, fará sorrir sportinguistas.            

PENÁLTIS. Vítor Serpa ganhou-me em antecipação - num vigoroso editorial, pôs a nu e desancou o atentado ao futebol no recente absurdo de se inventarem máximos castigos porque o defensor não é maneta! Ainda assim, batido em antecipação, tenho de desabafar…

Confusão! E monumental! Eis o que árbitros, ou quem lhes traça regras, estão a lançar - nos jogadores, nos técnicos, nos adeptos, nos jornalistas e… neles próprios, árbitros de futebol. Evidentíssimo, sobre o(s) motivo(s) de penálti por mão, ou braço, na bola: já ninguém entende! A lei sempre foi claríssima (e, na sua base, continua a ser): punir intencionalidade na projeção de braço, ou mão, contra a bola - e basta essa análise para, algumas vezes, a decisão ser complexa. Agora, acrescentaram o raio da volumetria! O que nem sempre foi fácil tornou-se berbicacho - apurado estudo de geometria em anatómico movimento! Querem que futebolistas se movimentem, saltem, ou girem o corpo em oposição a remate à queima roupa, utilizando cola tudo para braços não se mexerem?!!!

Registei elogios à coerência nos penáltis assinalados no Belenenses-FC Porto, um para cada lado. Para mim, coerência houve… no duplo erro. Mas, se árbitro e VAR tiverem estado certíssimos, uma de duas, a partir daqui: ou haverá penáltis em barda em todos os jogos, ou passaremos a profunda incoerência.

Albert Camus, senhor Prémio Nobel de Literatura, teve lapidar definição: «Futebol é inteligência em movimento.» O que estão a fazer na cegarrega de medir volumetria para penáltis é… obtuso!

Ah!, raio de penáltis!