Mão cheia de tudo

OPINIÃO14.09.202206:30

Golos, pontos e contos: um Sporting fantástico (com um golo incrível do estreante Arthur) levou Alvalade ao delírio com uma notável vitória sobre os Spurs

SPORTING em grande, FC Porto de rastos em jornada de opostos. Em Alvalade, o delírio. No Dragão, a vergonha. Notável a exibição e, sobretudo, a personalidade da equipa de Rúben Amorim diante do mais poderoso Tottenham de Antonio Conte (vice-líder da Premier, 170 milhões em reforços…). Os leões nunca mostraram medo e jogaram olhos nos olhos com os ingleses do primeiro ao último minuto, com paciência e lucidez a perceber o que o jogo pedia. Houve, aqui e ali, alguma estrelinha leonina em fases cruciais, mas a verdade é que os Spurs podiam ter ido para o intervalo em desvantagem se a primeira jogada maradoniana do jogo (45’), assinada pelo talentoso Marcus Edwards, não tivesse sido detida in extremis - e com muita sorte! - pelo guardião francês Lloris. Num jogo de grande intensidade, rijamente disputado e repartido em oportunidades, valeu o brutal assalto final do Sporting à baliza dos Spurs. Depois de Lloris negar a Pedro Porro, com uma defesa excecional, um golo de levantar o estádio, Paulinho (o tal que não marca…) fez explodir as bancadas com um cabeceamento à verdadeiro ponta de lança (90’). Três minutos depois, para que não restassem dúvidas, o recém-entrado Arthur Gomes Lourenço, brasileiro de Uberlândia, Minas Gerais, assinou a segunda jogada maradoniana da noite, desta feita concluída com êxito para gáudio de 40 mil no estádio e certamente muitos milhões por esse país fora.
Um golo fabuloso, de autor. Que estreia, seu Arthur!
O Sporting mostrou inequívoca dimensão europeia (a rapidez com que Rúben Amorim está a assimilar as regras da Champions…) e será objeto de muitas notícias na Imprensa estrangeira dos próximos dias. Dois jogos, seis pontos e um rotundo 5-0 (!) depois de enfrentar o campeão da Liga Europa e o vice-líder da Premier inglesa, não são coisas que aconteçam por acaso. No outro jogo, destaque para a vitória do Frankfurt no Vélodrome: foi a 16.ª derrota nos últimos 17 jogos do Marselha na Champions, o que deixa a equipa francesa à beira do KO… em vésperas de receber o Sporting.
O FC Porto, vitima de grave blackout defensivo, apresentou-se sem Toni Martínez no onze inicial, o que surpreendeu muita gente. Acabou drasticamente sovado em pleno Dragão pelo flamengo Club Brugge (0-4!), que toda a gente considerava o elo mais fraco do grupo. Pois bem: não é. É uma equipa sólida, astuta e disciplinada que merece ser levada muito a sério (por alguma razão lidera o grupo). O jogo ficou resolvido logo depois do intervalo e o cenário é muito complicado para o FCP. Está obrigado a ganhar os próximos dois jogos com o Leverkusen (que venceu com clareza o medíocre Atlético) para ter hipóteses de qualificação. Mais insólito na copiosa derrota portista, o facto de o Brugge ser a primeira equipa não grande que o FC Porto defrontava ao fim de dois anos e meio (onze jogos) a enfrentar adversários de primeira linha como a Juventus, Chelsea, Atlético de Madrid, Liverpool e Milan. A Champions  tem destas coisas. Nada está garantido para ninguém.
 

Arthur Gomes fez o 2-0 em Alvalade


NÃO SE FOGE DE ALCARAZ

UM misto de Messi, Ronaldo e Maradona […] destinado a dominar [o ténis] nos próximos anos». Foi assim que o britânico Daily Mirror descreveu o espanhol Carlos Alcaraz depois de este ter ganho o US Open e se ter tornado, com apenas 19 anos, o mais jovem n.º 1 de sempre do ranking ATP. Alcaraz é, de facto, um portento. Não se consegue fugir dele, quer dizer, de falar dele. O rapaz tem coisas de Federer, coisas de Nadal e coisas de Djokovic; do ponto de vista atlético, parece ainda melhor que qualquer dos big three: lembra uma estátua esculpida por Miguel Ângelo. Junte-se uma simpatia natural desarmante (tem um sorriso de miúdo a quem deram uma caixa de gomas) e temos uma nova superestrela a abrir caminho no firmamento desportivo mundial. Aqui há tempos comparei aqui a súbita e irresistível ascensão de Alcaraz, estando o grande Rafael Nadal ainda em atividade, à súbita e irresistível ascensão do miúdo Cristiano Ronaldo na fase final da carreira do grande Luís Figo. Em ambos os casos, uma transmissão de cetros dentro da mesma linhagem real.
Para os espanhóis, trata-se apenas de mais um enorme campeão na forja, depois de tantos outros, em tantas modalidades, que este país tem produzido desde o grande momento de viragem que foram as Olimpíadas de Barcelona em 1992. Veja-se que 34 das 36 vitórias espanholas em torneios do Grand Slam ocorreram depois desse evento - Arantxa Sánchez (3) abriu a sequência em Roland-Garros/1994, seguindo-se, por ordem cronológica, vitórias de Sergi Bruguera (2), Conchita Martínez (1), Carlos Moyá (1), Albert Costa (1), Juan Carlos Ferrero, atual treinador de Alcaraz (1), Rafa Nadal (22), Garbiñe Muguruza (1) e Carlos Alcaraz (1).
Bravo Alcaraz, bravo Espanha!: nada disto acontece por acaso. Que inveja.
 

BENFICA: ‘NO FEAR’

Ajulgar pelo momento das duas equipas, creio que o Benfica tem hipóteses de fintar esta Juventus como fintou aquele Barcelona na época passada. A Juve, embora tenha jogadores de qualidade, está a jogar muito pouco. Allegri voltou há ano e meio e, ao contrário do esperado, não houve um corte com o futebol espesso, monocórdico e entediante de Sarri e Pirlo (o futebol que tanto exasperou Cristiano). Pelo contrário, o que se vê  é uma Juventus ainda mais previsível e fácil de contrariar, como a Salernitana exemplificou no último domingo. Há dias, na Gazetta dello Sport, o jornalista Sebastiano Vernazza escreveu que a Juventus «regrediu claramente desde o regresso de Allegri» e que a equipa «não tem jogo, limitando-se a ruminar a bola». É claro que o Benfica tem de estar atento ao magnifico Di María, se ele jogar, e à movimentação de Vlahovic e Milik, avançados de qualidade superior; mas impõe-se que entre no relvado sem medo e com a absoluta convicção de que é possível discutir o jogo com a equipa italiana. Tem de mostrar a confiança e a autoridade que lhe faltou na primeira parte da receção ao Maccabi Haifa. É que esta Juve, a jogar como tem jogado, está ao alcance das melhores equipas portuguesas.