Mande o NIB que eu pago, ‘mister’ Sérgio 

OPINIÃO07.12.201803:00

Eu já estava triste como a noite. Rosnava contra aquela maldita conjugação astral que nos estava a tirar uma vitória inteiramente merecida, irritado com o Soares, com o Otávio, com o Felipe e com o Brahimi por terem falhado golos que eu, obviamente, marcaria com uma perna atrás das costas, possesso por irmos perder pontos contra um clube que parece fazer dos jogos contra o FC Porto a razão da sua existência.
Mas naquele plantel há gente com o verdadeiro espírito do brasão abençoado. Homens que não desistem, que nunca dão o jogo como perdido. Com alguma vergonha o digo, aquela rapaziada mostrou ter mais fé no emblema que defendem do que este velho tripeiro que o tem tatuado na alma.

Quando o Hernâni iluminou a noite de justiça foi como se o meu peito rebentasse de paixão. A importância daquele golo não é minimamente comparável a tantos,  tantos que foram marcados em momentos decisivos para o clube, não passará de um registo anónimo esquecido. Golos que deram campeonatos, taças, troféus internacionais, mas aquele no domingo soube à mais doce vitória, aquela que é arrancada às garras da injustiça, a que premeia o esforço, o trabalho e o mérito.

Foi em casa, sozinho, que fiz a festa. Gritei como um possesso, corri a maratona em poucos segundos em volta dos sofás, beijei mil vezes o brasão abençoado, ajoelhei-me em adoração, fui buscar o balão de São João que me recorda o meu querido padrinho que me levou pela primeira vez ver o FC Porto, correram-me as lágrimas quando os meus filhos me ligaram de Londres ainda mais eufóricos do que eu e, claro, ainda agora os meus vizinhos devem ter os tímpanos a vibrar tal foi o volume com que pus o nosso hino a tocar.

Sei bem que não fui o único portista a ficar eufórico, pelo menos um mostrou a mesma alegria, o mesmo amor que eu pelo clube, a minha mesma raiva contra a injustiça. Tem nome esse adepto, chama-se Sérgio Conceição. Por mostrar o seu portismo, por esfregar na cara de toda a gente a sua paixão pelo clube vai ter de pagar uma multa.

A mim ninguém me multou, mas se fosse preciso pagar para gritar ao mundo o amor que tenho ao meu clube pagaria o que fosse preciso e de boa vontade.

Caro Mister, mande o NIB que eu pago isso. Nunca pagar uma multa por ver que o meu treinador ama tanto o meu clube como eu o amo me deixaria tão feliz.  

Um bom começo

NOS últimos tempos, com a ótima contribuição de A BOLA através de um estudo publicado na sua edição de terça-feira, tem-se falado do pouco tempo de jogo útil no nosso campeonato. Há várias razões para isto acontecer e prometo voltar ao assunto, mas bastava ter assistido ao Boavista-FC Porto para se perceber uma delas.

Quando uma equipa entra em campo com o único propósito de distribuir pancadaria pelos jogadores adversários e consegue acabar o jogo com 11 jogadores em campo, não se pode esperar assistir a muito tempo de jogo. No último domingo, quando o primeiro axadrezado foi amarelado, aos 25 minutos, já vários o deviam ter visto tal a sucessão de faltas.

Falando claro, se uma equipa de futebol decide, num determinado jogo, dedicar-se ao wrestling é lá com ela. Cabe, porém, ao árbitro através dos meios ao seu dispor evitar a prática dessa modalidade. Para tal basta aplicar as regras do jogo. Por exemplo, um jogador que faz faltas constantes tem de ser admoestado e se continua a fazê-las tem que ser expulso, quem pratica jogo violento ou mostra não estar interessado em disputar a bola também deve ser sancionado disciplinarmente. Não preciso de dissertar o quanto estas sistemáticas paragens afetam o tempo útil e o ritmo de jogo.
O Hugo Miguel é um árbitro competente em termos técnicos, mas é useiro e vezeiro em tolerar este tipo de antijogo. E não é só ele, infelizmente. Querem aumentar o tempo útil de jogo? Cumpram as regras. É um bom começo.

Truques velhos

ABORRECE um bocadinho, mas não dá para indispor. E não dá porque é tão descarado, tão absurdamente patético, já foi tantas vezes repetido que chega a dar vontade de rir pensar que ainda há quem pense que resulta. É simples e é muito usado em política: cria-se uma manobra de diversão externa para esconder problemas internos graves.

No momento em que o Benfica está assoberbado por vários problemas judiciais graves; quando todos os mais bem pagos advogados deste país se desunham para provar que um alto funcionário da SAD benfiquista oferecia presentes a pessoas para, alegadamente, saber de assuntos relacionados com a atividade da empresa para que trabalha(va) que estavam em segredo de justiça apenas por diversão e sem que o homem (por acaso presidente da SAD benfiquista) com quem privava diariamente soubesse de nada; quando é por demais evidente que a fortuna louca que gastaram em passes e gastam em salários é um desastre em termos desportivos; quando é transparente a dissensão entre os membros da direção da SAD e o seu presidente gere por revelações noturnas; quando a maioria esmagadora da opinião publicada benfiquista discorda da atuação do seu presidente; de que se lembram os homens de mão de Luís Filipe Vieira? Lançar uma campanha que põe em causa os bons, até agora, resultados do FC Porto, utilizando como argumento um lance de arbitragem mais que duvidoso. Chega a espantar a ousadia de criar um caso num jogo em que o FC Porto foi tão superior. Mas a coisa piora, põe-se, no fundo, em causa a superioridade interna do FC Porto que é reconhecida por todos os analistas e, já agora, a sua prestação nas competições europeias - aquelas competições onde o Benfica tem passeado a sua enorme qualidade e reforçado o seu imenso prestígio através de resultados extraordinários.
A coisa é realmente absurda, mas até se entende: não têm mais nada onde se agarrar.

O problema, repito, é que a coisa é demasiado descarada e nem convence os próprios benfiquistas.
Como dizia Lincoln: «pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.»

Um presidente para a história

LUÍS FILIPE VIEIRA é mesmo um presidente exemplar e, não há dúvida, deixa marca no futebol: depois do feito de ter despedido o atual selecionador nacional  logo à primeira jornada, conseguiu despedir e admitir o mesmo treinador em 12 horas. O presidente do Benfica pode não conseguir vencer a competição internacional que promete aos seus consócios há muito tempo, mas com esta, nas palavras de um seu vice-presidente,  menos feliz intervenção, fica na história do futebol mundial.