Mais uma, Real?

OPINIÃO10.08.202206:30

Madrid-Frankfurt na final da Supertaça Europeia em Helsínquia: o vencedor anunciado é o do costume.E Ancelotti pode chegar aos 11 títulos internacionais…

Atemporada europeia abre hoje em Helsínquia com a final da Supertaça UEFA. De um lado o Real Madrid, campeão europeu e notório favorito; do outro, o germânico Eintracht Frankfurt, vencedor da Liga Europa, que estará apoiado por mais de dez mil frenéticos e ruidosos adeptos (nem todos se comportam decentemente, diga-se). Em confronto, dois estilos diversos e duas máximas interessantes. Uma diz que o Madrid não joga finais: ganha-as. Outra, celebrizada pelo britânico Gary Lineker, diz que o futebol são onze contra onze e no final ganham os alemães. A julgar pela quase infalibilidade madridista em finais internacionais (ganharam 14 das últimas 15), o mais natural é que o insaciável clube merengue some na capital finlandesa mais um título (o 98.º oficial e o 28.º internacional) ao esplendoroso currículo. É isso que se espera do campeão espanhol e europeu, embora os alemães, guiados pelo maestro que Roger Schmidt queria para o Benfica (Mario Gotze), tenham todo o direito em sonhar com uma surpresa. Como os ingleses (e os nórdicos de uma maneira geral), os alemães não têm por hábito encolher-se perante opositores considerados de dimensão superior, embora por vezes as coisas possam correr mal. O próprio Frankfurt, aliás, vem de uma humilhante goleada caseira (1-6) com o Bayern, o que nos diz alguma coisa sobre as limitações da equipa. Seja como for, o Eintracht, na condição de outsider, tem pouco a perder. O seu treinador, o austríaco Oliver Glasner, só tem de ver e rever à exaustão o filme da última derrota do Real Madrid numa final europeia - essa raridade! Aconteceu com o Atlético de Simeone (2-4) na Supertaça Europeia de 2018, jogada em Talin (Estónia), curiosamente no primeiro jogo do Madrid depois da saída de Ronaldo.
Glasner e Gotze sonham com uma surpresa. Ambos sabem, porém, que do outro lado está uma equipa experientíssima capitaneada por esse grande avançado-total que é Karim Benzema (marcando, suplanta Raúl e torna-se o segundo goleador da história madridista depois de Ronaldo), ordenada por Kroos e Modric, turbinada por Vinícius e liderada pelo grande Carlo Ancelotti, um treinador que sabe tudo sobre finais europeias, até como perder uma em que se chega ao intervalo a vencer por 3-0. Senhor de um currículo único - ganhou dez títulos internacionais como treinador, um com a Juventus, cinco com o Milan, quatro com o Madrid - Carletto, no que depender dele, não vai desperdiçar a oportunidade de juntar mais um troféu à esplêndida colheita de 2022 e reforçar o estatuto de treinador do ano.
Bem sei que não é o valor de mercado das equipas aquilo que decide finais e títulos (se assim fosse, o PSG e o City já tinham sido campeões europeus), mas não deixa de ser impressionante o fosso que separa os dois finalistas nas contas do site Transfermarkt: 834,5 milhões é o valor atribuído ao plantel realista contra 246 milhões dos alemães. Mas a magia do futebol reside na sua eterna imprevisibilidade. Eu vi o híper favorito Madrid de Raúl, Mijatovic e Seedorf perder uma Supertaça Europeia para o musculado Chelsea de Vialli (em 1998), como vi o híper favorito Madrid de Figo, Raúl e Roberto Carlos perder outra Supertaça Europeia para o inexperiente Galatasaray de Mircea Lucescu, Jardel (dois golos) e Hagi (em 2000). No futebol não há impossíveis.


DIGA VINTE E OITO (OU TRÊS)

OReal Madrid luta pela 28.ª conquista internacional (quinta Supertaça) perante o adversário a quem espetou brutal goleada (7-3!) na final da Taça dos Campeões de 1960, no Hampden Park de Glasgow, perante uma assistência recorde de 127,621 espectadores. O Frankfurt luta pelo seu terceiro troféu europeu (depois da Taça UEFA de 1980 e da Liga Europa de 2022) e, se sair vitorioso, pode orgulhar-se de ter vencido o maior (repare-se que o Real pode dobrar hoje o número de títulos do Liverpool e do Bayern…). Na lista dos clubes europeus com mais títulos internacionais, destaque-se a posição cimeira do FC Porto (sete) e o facto de haver cinco clubes ibéricos (Real, Barcelona, Atlético de Madrid, FC Porto e Sevilha) no top 10.
 

arlo Ancelotti ganhou dez títulos internacionais como treinador, um com a Juventus, cinco com o Milan e quatro com o Madrid


RONALDO, VERÃO ‘HORRIBILIS’

BEM arrependido deve estar Ronaldo por ter forçado a saída do Real Madrid no verão de 2018, depois de ter ganho a sua quinta Champions em Kiev. Hoje, ainda podia estar ao lado dos velhos compagnons de route (Benzema, Modric, Kroos, Casemiro, etc, etc) a lutar por mais um título internacional em Helsínquia. Mas nem o tempo volta para trás nem CR7 deve perder tempo a pensar no acerto ou desacerto das suas escolhas nestes últimos anos. No entanto, não podemos ignorar a realidade. E a realidade diz-nos que desde que saiu de Madrid, nunca mais Ronaldo jogou numa equipa com futebol ao nível daquilo a que estava habituado - primeiro, no magnifico United de Alex Ferguson, depois no híper competitivo Real de Mourinho, Ancelotti e Zidane.
Bem pelo contrário, tem sido sempre a descer! Independentemente dos golos que marcou, e foram muitos, pense-se na mediania robotizada da Juventus de Allegri; na pobreza desconchavada da Juventus de Andrea Pirlo e de Maurizio Sarri; na sensaboria do United de Solskjaer; na insuportável lástima que foi o United de Ralf Rangnick; e imagine-se o que Cristiano deve estar a sentir depois do miserável desempenho da equipa (já com Ten Haag) na jornada inaugural da Premier; a somar a isto, como se não fosse pouco, a chocante incapacidade que o clube (um dos mais ricos do Mundo) tem dado mostras no mercado de transferências. Apontar a Rabiot e Arnautovic é quase uma confissão de impotência. Pior ainda, Ronaldo nunca mais será o ídolo que foi para os adeptos red devils e só continua preso a este United de horizontes curtos porque os clubes para onde ele queria ir (Bayern, Chelsea, PSG…) não o quiseram. Um verão horribilis sem final feliz à vista, quando estamos a três meses do inicio do Mundial.  
Enfim. É a vida. Feita de escolhas.