Maestro e presidente
Os sócios proclamaram a união, a estabilidade e a paz no Benfica. Rui Costa é a estrela polar e é o seu brilho que vai orientar a gigantesca maioria que nele confia
N AS eleições mais participadas de sempre na história do Benfica, Rui Costa recebeu 84,5 por cento de votos e depois de maestro como jogador vai ser o 34.º presidente do seu clube do coração, sem surpresa, dada a enorme confiança que a família encarnada tem nele.
Na véspera do ato eleitoral, apelou à participação massiva dos associados e estes deram uma resposta extraordinária, estabelecendo novo máximo de votantes que fica como marco a nível mundial, apenas por uma vez suplantado pelo Barcelona. Esta esmagadora maioria de apoio a Rui Costa foi muito convincente na decisão que tomou sobre a sucessão de Luís Filipe Vieira.
A insignificância a que a lista opositora se viu reduzida em termos de percentagem de votos é uma lição severa para quem pensou, erradamente, que o seu objetivo poderia ser alcançado com o recurso à influência tíbia de piadistas e tachistas com espaço no comentário público escrito e falado, ao beneplácito de quem chafurda no lodo nas redes sociais e à aplicação de estratégias alicerçadas na insinuação pouco clara ou em esquemas afins, igualmente pouco recomendáveis.
Os sócios, pela força do voto, proclamaram a união, a estabilidade e a paz no seio da instituição. Definiram o rumo e elegeram o seu timoneiro, sem margem para qualquer dúvida. Os números são inexoráveis. Rui Costa é a estrela polar e é o seu brilho que vai orientar a gigantesca maioria que nele confia e quantos, embora defendendo outras linhas de orientação, saberão dispensar-lhe idêntico respeito e consideração, porque, no fundo, todos os bons adeptos desejam o sucesso do emblema da águia.
E XCLUINDO a primeira figura do movimento que esteve na génese da Lista B, dos restantes não faço ideia de quem sejam, nem eu nem, provavelmente, a maior parte de quem participou nestas eleições, porque a sua reprovação quase unânime foi motivada não pelos nomes, mas pelas atitudes.
Foi, precisamente, esta subtil diferença que muito animou a noite eleitoral em A BOLA TV, sobretudo depois de se conheceram os primeiros resultados. Diogo Luís, que muito considero e que também muito me contrariou em relação a este tema, defendeu haver gente competente e com boas ideias na Lista B que deveria ser ouvida ao que contrapus que o problema residia na sua política comunicacional escusadamente agressiva, às vezes até insultuosa, e que seria muito difícil convencer o universo da águia dessas competências e dessas boas ideias por mais interessantes que sejam.
O resultado eleitoral convenceu-me da minha razão, mas reconheço a necessidade de uma oposição forte no futuro, para suscitar debates e combater tentações autocráticas, tipo quero, posso e mando. Uma oposição que deve ser diferente da que foi exercida pelo movimento de que Francisco Benitez faz parte, porque esta foi cabalmente recusada pelos associados através do (não) voto.
Sejamos claros, o problema não está nem nunca esteve na oposição, ou nas oposições, como preferirem, mas sim no seu estilo zaragateiro, talvez importado da política, com particular incidência no último ano. Foi esse tipo de comportamento que os sócios, de uma forma inequívoca, disseram não querer.
O modelo do quanto pior melhor esgotou-se, mas Francisco Benitez ou ainda não se deu conta ou então, além de mau perder, tem dificuldade em aceitar as regras da boa convivência, só assim se explicando a sua intervenção final, produzida num canto do espaço onde decorreu a cerimónia de tomada de posse dos novos órgãos sociais, em que, a propósito de nada, voltou a advertir o presidente recém-eleito de que «a união não se pede, conquista-se». Dito por ele, e no momento e no tom em que o fez, reflete um estado de espírito em colisão com a vontade pacificadora manifestada por 84,5 por cento de votantes nesta eleição histórica.
Além disso, a vigilância que prometeu manter jamais deve ser privilégio de grupos ou movimentos. Essa vigilância é da exclusiva competência do sócio anónimo, que simboliza a família benfiquista.
E STE processo eleitoral demorou mais do que seria previsível. Aceites as alterações sugeridas pela lista de Benitez esperava-se que pela meia-noite, uma da madrugada, o resultado final fosse anunciado. Assim não sucedeu, mas A BOLA TV acompanhou o importante acontecimento até ao último minuto para o seu público em Portugal e no estrangeiro, com especial atenção aos países da África lusófona.
O mister Vítor Manuel lembrou-se, madrugada profunda, que tinha de apanhar o comboio para Coimbra às oito, o Júlio António brincou que iria à procura de uma padaria para comprar bolas de Berlim, o Jorge Pessoa e Silva, que conduziu a emissão, teve de servir de motorista à rapaziada da régie e eu despedi-me da produtora Carla Mendes antes de abandonar um Bairro Alto deserto àquela hora, no dealbar de novo dia. O senhor Vítor, do quiosque da Boa Hora, já aberto, porque o negócio a tal obriga, ao ver-me, perguntou/exclamou, «só se despachou agora?!» Levei os jornais, como todos os dias, e li as gordas antes de me deitar. As sete da manhã tinham passado e de repente senti uma nostalgia difícil de explicar. Já deixei de ser novo há anos e, sei lá porquê, veio-me à memória o tempo em que nós, jornalistas ansiosos e em permanente sobressalto por alguma notícia que nos passasse ao lado, só dormíamos quando podíamos. Estava cansado, mas aquela recordação fez-me bem.