Luisão, antes de Chaves
1 - De um dia para o outro, Luisão passou de activo a reformado, como futebolista, entenda-se. Uma situação algo embaraçosa e talvez escusada. Afinal, havia renovado aos 37 anos para fazer a sua última época. Mas depressa se percebeu que havia passado rapidamente de (ainda quase) primeira opção para quinta escolha, atrás de dois novos contratados, deixara sequer de ser convocado e não foi incluído na lista para a Champions. Nada tenho a contrapor a esta situação e respeito obviamente as opções do treinador. Mas, esta situação de interrupção contratual talvez pudesse ter sido evitada. Como diz o humorista, «não havia necessidade». Quis o acaso que, dois dias depois do seu voluntário afastamento dos relvados, voltássemos a suspirar por Luisão, depois da lesão de Jardel, do castigo de Conti e dos zeros minutos de Lema. E até tenho para mim, que com o actual Luisão em campo, o Benfica teria ganho em Chaves.
Anderson Luís da Silva - mais conhecido pelo aumentativo Luisão, não tivesse ele 1.94 de altura - foi o jogador do Benfica com mais longa permanência no clube, após a generalizada globalização e vulgarização de transferências no futebol. Ainda me recordo de o ver jogar como debutante encarnado em Setembro de 2003, marcando um golo no que seria, contudo, insuficiente para uma recuperação do Belenenses de 1-3 para 3-3 nos últimos minutos.
De Luisão não se pode dizer que «chegou, viu e venceu». Precisou dessa variável, às vezes tão desprezada e traiçoeira, que é o tempo. Hoje é vertiginosa a velocidade com que, num ápice, se transforma um jogador banal num astro e como se reduz a pó uma antes cognominada estrela. Luisão teve de vencer, com inegáveis profissionalismo, perseverança e determinação, fases de desconfiança da exigente óptica tribunícia encarnada. Passo a passo, soube conquistar a consideração e gratidão dos adeptos e construir uma carreira brilhante, enquanto jogador e na qualidade de capitão de equipa (é na história do SLB o jogador com mais jogos como capitão).
Entre muitos momentos marcantes da sua carreira, elejo o seu golo, em Maio de 2005, que derrotou o SCP e permitiu acabar com um penoso jejum de títulos no campeonato.
Com a precisão de um relógio suíço, soube conjugar eficiência, experiência, autoridade, discernimento, rigor, solidariedade, inteligência, posicionamento. Uma trave-mestra que qualquer treinador gostaria de ter.
Parte significativa do Benfica do século XXI deve-se à acção de Luisão. Líder da equipa, transmitia vigor nos relvados e respeito pela camisola que envergou. E até juventude, pois tal como ele disse um dia «sinto-me como um adolescente a desfrutar da profissão».
Gostei de ver a cerimónia da passada terça-feira no Estádio da Luz, ainda que tenha pena de lhe faltar o calor dos adeptos. A sua intervenção foi brilhante, serena, elegante. O seu futuro no meu clube pode e deve ser frutuoso.
Luisão jamais foi igual ao seu anagrama ilusão. Como benfiquista estar-lhe-ei sempre grato.
2 - O empate do Benfica em Chaves foi, naturalmente, uma decepção, sobretudo pelo modo como a equipa deixou fugir nos instantes finais os três pontos. Não que o resultado não tenha sido justo. O Desportivo de Chaves fez uma excelente partida, sobretudo na primeira parte. Mas as incidências do jogo nos minutos finais deixaram-me desiludido. Tudo começou pelo temporal que fez adiar a partida uma hora. E, nesse aspecto, os flavienses estiverem sempre melhor adaptados a um terreno pesado e lamacento, embora, verdade seja dita, o relvado tenha estado bem melhor, em iguais circunstâncias, do que a larga maioria dos outros campos da primeira divisão. O D. Chaves, depois de sofrer o primeiro golo numa jogada de excelência do Benfica, foi senhor do jogo na primeira meia-hora. Curiosamente, o Benfica acabaria por vencer a primeira metade do jogo, sem o merecer (jogo estranho de um Benfica medroso e sem controle de jogo) e perdeu a segunda parte, quando foi melhor e teve várias ocasiões para matar o jogo. A lesão de Jardel foi, na minha opinião, decisiva para que o Benfica não trouxesse os três pontos. Ao contrário de uma indisfarçada satisfação de alguns jornais e televisões que fazem agora de um anti-benfiquismo a sua bandeira de tiragem e audiências, e embora desiludido, não creio que este relativo desaire tenha muito de dramático. Não sei se os outros candidatos ao título lá passarão incólumes. Curiosamente, na mesma semana, o Real Madrid foi a Sevilha levar 3 golos sem resposta, o Barcelona, depois de ter estado a ganhar, perdeu com o até então último classificado, o Leganés por 2-1 e empatou de seguida em casa, o quase imbatível a nível do seu campeonato Bayern de Munique perdeu por 2-0 contra o Hertha de Berlim, e tudo foi visto com relativa normalidade da sempre interessante imprevisibilidade do futebol. Por cá, aqui d’el rei, que já há crise…. Somos uns exagerados: ou oito ou oitenta!
O árbitro, o inefável João Capela, continua a acumular no seu notável currículo expulsões a eito de jogadores encarnados. Cito apenas três: uma num Benfica-Sporting de 2011, no início da segunda parte, com o resultado em 1-0, expulsou Cardozo com um segundo amarelo exagerado depois de um murro do paraguaio na relva (e o primeiro por causa de um jogador - que não Cardozo - ter saído da barreira num livre a favor do adversário). Uma segunda, em Olhão, com Pablo Aimar (assim impedido de jogar a seguir contra o SCP) num lance igual a tantos outros em que, às vezes, nem falta se marca. Agora, a expulsão de Conti, num lance passível de livre e de cartão alaranjado, que - mais uma vez na véspera de um jogo contra o FCP - o árbitro nem hesitou em classificar como vermelho. Aqui, como num lance punido por falta do Chaves na grande área, mas transformado em livre directo fora da área, mandou às malvas o VAR. Aliás, começa a ser prática corrente a relativa inutilidade do papel do VAR nos jogos em que entra o SLB. Quanto à expulsão, e apesar do relvado lamacento, não é que não possa ser defendida, mas gostaria de saber quantas jogadas do género, antes e no futuro, vão ter igual punição. Recordo-me do mesmo Capela nos longos 10 minutos de tempo extra no Tondela-Sporting do ano passado ter ignorado uma falta passível de cartão vermelho de William sobre um tondelense que ficou com a perna desgraçada, antes do golo vitorioso dos leões. Vou estar atento ao dragão Felipe que, por exemplo, no ano passado, abalroou sem dó, nem piedade Jonas e um (outro) árbitro nem sequer falta assinalou. O mesmo Felipe que continua isento de cartões como ainda agora vimos num lance gratuito contra o Tondela…